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As asas de Allana

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Fotos: Arquivo pessoal

Allana Lichtenfels, moradora do Méier, subúrbio do Rio de Janeiro, é uma bela mulher. Em tempos passados, no entanto, ela já foi o Rick (nome fictício), quando tinha um corpo com o qual não se identificava.

Sua mudança para a nova identidade aconteceu após Rick ter sido aprovado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, para o curso de artes cênicas na Escola de Belas Artes. Nesse momento da vida, Rick tomou a decisão de tomar hormônios para ficar com curvas femininas e fez dessa mudança na identidade biológica um salto para conquistar sua felicidade, afinal, seu gênero sempre foi o feminino. Nascia ali Allana, sua identidade definitiva.

“Era como se estivesse usando uma roupa que não me pertencesse”, relata Allana sobre seu corpo, antes da transformação.

Allana é hoje professora da Escola de Artes Técnicas da Faetec de Nova Iguaçu. Ela coleciona em seu currículo de figurinista, trabalhos artísticos como o musical “Canções de Holanda” (que conta a vida de Chico Buarque) e fez parte da equipe de maquiagem e caracterização teatral da escola de samba Estácio de Sá no carnaval 2013. Na televisão, trabalhou no figurino do programa “Detetives da Ciência”, do canal MultiRio. Ela acredita que o apoio da família fez toda a diferença e a ajudou a trilhar um caminho repleto de histórias boas, diferentemente de outros transexuais que, por falta de apoio e pelo preconceito que há no mercado de trabalho, não tiveram outra escolha a não ser a prostituição.

Como professora de uma escola que respeita a diversidade, ela usa sua experiência para mostrar que, independentemente de suas origens, todos são capazes de vencer obstáculos e que não precisam aceitar os rótulos impostos pela sociedade. “Ensino aos meus alunos que respeito é bom e todo mundo gosta”, diz. Há alunos que vêem em Allana uma inspiração para driblar o preconceito que sofrem. Allana tem uma relação harmoniosa e de respeito com o pai, com quem mora. Mas nem sempre foi assim. Na pré-adolescência, o comportamento recatado e a fala doce sugeriam que Rick era diferente dos demais meninos. Seu comportamento, rechaçado pelo pai, recebia de sua mãe apoio e amor incondicional. O estereótipo andrógino dava algum conforto, mas ainda não era o que desejava.

Durante a infância um tanto conturbada, Allana percebeu que havia algo de diferente em suas  atitudes e gostos, sempre relacionados ao universo feminino. O gosto por bonecas e por brincar de casinha, com fogõezinhos e panelinhas, faziam parte da sua rotina. E ela chegou a escrever ao Papai Noel pedindo “brinquedos de menina”, para se decepcionar com os carrinhos que o bom velhinho deixava na janela do quintal… Seu irmão, ao contrário, dava pulos de felicidade ao encontrar bolas de futebol e pipas entre os presentes de Natal.

O apoio da mãe e do irmão talvez teriam bastado para Rick passar definitivamente para o universo feminino. Mas essa redefinição sexual ficou em segundo plano quando sua mãe teve câncer. A prioridade, então, passou a ser o tratamento médico e os planos foram adiados. Foi a aprovação na universidade que fez com que Rick renovasse seus propósitos.

Allana diz se sentir bem à vontade com alunos e funcionários na escola em que trabalha. “Jamais sofri qualquer tipo de discriminação no mercado de trabalho”, ela ressalta. Um caso raro e provocador.

O próximo desafio já está traçado: mudar o nome para Allana no RG para evitar constrangimentos quando, em público, é chamada pelo nome masculino de batismo.

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