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‘Quebradas’ inova com seleção recorde

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 O escritor e jornalista Zuenir Ventura foi um dos professores convidados em 2011. (Fotos: Divulgação/Universidade das Quebradas)

O escritor e jornalista Zuenir Ventura foi um dos professores convidados em 2011. (Fotos: Divulgação/Universidade das Quebradas)

A turma de 2015 do projeto Universidade das Quebradas, começa com um fato inédito desde sua inauguração, em 2009. Pela primeira vez a seleção contemplou todos os 93 candidatos que se inscreveram. O curso faz parte do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC), órgão vinculado à UFRJ, e busca selecionar novos produtores culturais e artistas de periferias e favelas. As aulas começam no dia 10 de março e acontecem na Faculdade de Letras da UFRJ.

Segundo a coordenadora do projeto, Heloísa Buarque de Hollanda, foi a qualidade dos interessados que a fez tomar a decisão de acolher todos os inscritos. Este ano terão destaque as oficinas de escrita de contos e de cultura digital. Um dos projetos é a montagem da adaptação de “O Banquete de Platão”, feita pela atriz Numa Ciro, que será encenada pelos quebradeiros.

A ideia do projeto surgiu da tese de doutorado de Numa, na Faculdade de Letras da UFRJ, sob orientação da professora Heloísa. Conforme o trabalho foi se desenvolvendo, elas perceberam a vontade que muitos artistas de favelas tinham de estudar e conhecer o universo acadêmico. Decidiram criar um espaço para troca de saberes e estabelecer parcerias. Para Numa, o foco do trabalho sempre foi o de  aproximar o espaço acadêmico da arte das ruas e transformar a universidade em espaço de parceria entre a produção acadêmica e a arte produzida pelo povo: “Adotamos esse nome para identificar nossas atividades culturais com as conexões da periferia. Eles trazem o rap e eu levo a literatura”, diz Numa.

Quebradas é uma gíria de São Paulo que quer dizer das ruas, subúrbios, favelas. Essa denominação ganhou significado especial por ter se popularizado nos país, no universo Hip Hop e nas letras de Rap: “Já passaram por aqui mais de 800 alunos”, conta a secretária do PACC, Rosângela. “A UQ desperta o interesse acadêmico através do compartilhamento de saberes entre as turmas, possibilitando a todos o desenvolvimento de projetos em suas comunidades”, complementa.

Quebradeiros ganham o mundo
A artista plástica Jussara Santos nunca tinha pensado em fazer uma faculdade, mas conta que a passagem pela UQ modificou completamente seu pensamento. “Nunca pensei sobre ensino superior porque não sabia o que queria. Fiquei deslumbrada com o espaço de informação e de saber. Agora tudo o que faço dentro da arte tem seu embasamento teórico, o que abriu muito minha visão para entender mais a arte”, conta a quebradeira.

Lambe-Lambe” é um projeto desenvolvido pela amazonense Andrea Hagge

Lambe-Lambe” é um projeto desenvolvido pela amazonense Andrea Hagge

Para Jussara, a UQ abre espaço para artistas de talentos diferentes, o que é muito enriquecedor. “Os quebradeiros exercem suas atividades sem ter especialização, existe uma troca muito grande com os professores. É a teoria complementando a prática e vice-versa. Criamos peças de teatro ou obras artísticas em segundos”, exagera. “O improviso faz parte do nosso mundo e essa vivência com artistas diferentes da minha área me ajuda muito, observo muito o outro”, relata ela, que saiu da periferia do Rio de Janeiro para levar sua pintura em painéis para o mundo.

Em contato com uma amiga francesa que conheceu na faculdade de Belas Artes, ela não perdeu tempo. Apresentou seu trabalho em dois espaços culturais, rompeu com a barreira da timidez e começou a se apresentar publicamente. “Não gostava de me expor, fui produtora cultural durante muito tempo, mas sempre atuei nos bastidores. A partir da vivência com meus colegas, comecei a me espelhar na performance deles e rompi com esse medo”, conta ela, que fez oficinas na periferia de Fosses, no norte de Paris, passou pela Universidade de Salento, na Itália, e recentemente foi convidada para expor seu trabalho em San Diego, nos Estados Unidos.

Já a fotógrafa amazonense Andrea Hagge largou a faculdade de Direito para viver de fotografia. Ela lembra que, na época, sua mãe, inconformada com sua decisão, disse que ela seria uma “fotógrafa lambe-lambe”. Dito e feito. Inscrita pela 5ª vez na UQ, Andrea é autora do projeto “Lambe-lambe, sonhos ambulantes”, que faz uma releitura da antiga tradição desses profissionais. Depois da experiência na UQ, Andrea, que já era uma artista premiada, se reinventou como fotógrafa e passou a trabalhar nas praças: “A foto é a essência dos meus sonhos”, diz ela, emocionada.

Quebradeiros em ação na oficina do projeto “Antihheroes”, sobre saúde pública

Quebradeiros em ação na oficina do projeto “Antihheroes”, sobre saúde pública

O foco do quebradeiro e ator Edmar Oliveira, que está nos Estados Unidos com o projeto “Antihheroes”, é a saúde pública. Edmar participou do programa “Hotel da Loucura”, conviveu 10 meses com pacientes psiquiátricos no Hospital Psiquiátrico Pedro II e, hoje, desenvolve uma pesquisa sobre a relação entre abandono afetivo e transtornos mentais, que já lhe rendeu palestras e diálogos: “Hoje compreendo meu papel como artista e me sinto muito orgulhoso em poder transformar a realidade social através da educação e da cultura”, declara.  Para o ator, passar pela UQ foi uma oportunidade de unir seu trabalho a um embasamento teórico, aprender a participar dos projetos, a melhorar seu trabalho enquanto produtor cultural e a direcionar melhor seus objetivos.

A professora Heloísa Buarque ressalta que a UQ é a abertura das portas da universidade à população, o que é um direito do cidadão e que a ideia essencial é a troca de experiências: “Os alunos também dão aulas. Aqui formamos uma comunidade onde cada um tem sua participação meio a meio, e eles são muito talentosos. E eles sempre voltam à Universidade; Uma vez quebradeiro, sempre quebradeiro – nós costumamos brincar. Amo este projeto”, conclui a coordenadora.

Os interessados podem acessar o Facebook do programa para saber das novidades.

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