Single Blog Title

This is a single blog caption

Projeto na Rocinha aposta na música clássica

Share on Facebook0Tweet about this on Twitter
DSC_0040

A ideia da orquestra existe desde 2005, mas ela só foi posta em prática em 2012, com a ajuda de interessados (Fotos: Landa Araújo)

Mais um projeto se consolida na Escola de Música da Rocinha (EMR): a criação da primeira Orquestra de Câmara na comunidade. A ideia surgiu em 2005, quando a instituição recebeu a doação de alguns instrumentos musicais, mas por falta de verba ela não pode ser realizada. Sete anos depois, em 2012, a vontade saiu do papel e virou realidade graças ao grupo de colaboradores “Amigos da EMR”, criado para angariar fundos para a Escola. A partir dali foi dada a largada e a Orquestra de Câmara da EMR se tornou possível.

A escola funciona desde 1994 e investe na prática de conjunto como proposta pedagógica. Os alunos aprendem a ler partituras e, para garantir o desenvolvimento técnico, podem levar os instrumentos para casa. Este ano 45 instrumentos novos foram comprados. O patrocínio só veio em 2015 através de uma empresa de energia e o Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet. Cerca de cem alunos participam do projeto, a maioria mora na Rocinha ou no entorno (Vidigal, Vila Canoas e Parque da Cidade) e estuda gratuitamente na Instituição que funciona no 17⁰ andar do Centro Municipal de Cidadania Rinaldo De Lamare, em São Conrado.

orquestra7_credito_Ricardo Sousa_VF

Isaque (com o trombone, à direita), pretende investir na música e quer ser professor (Foto: Ricardo Sousa)

Aluno da EMR desde 2008, Isaque Suzarte toca trombone na Orquestra. O jovem de 20 anos também pratica outros instrumentos como a trompa, violão e flauta e canta no coral. Com perfil participativo, o jovem quer ser professor de música. “Não me vejo fazendo outra coisa na minha vida. Eu amo a música e não vejo minha vida sem ela”, afirma Suzarte que completa. “Sempre falo da Escola de Música para os meus amigos, da oportunidade que é. Sempre fui meio desleixado, aqui mudei totalmente meu conceito sobre música e passei a ser bem mais organizado e concentrado no que faço”.

Para o amadurecimento de uma Orquestra de Câmara é preciso uma série de fatores, como a dedicação do músico, a familiaridade com o instrumento e a sintonia com os outros participantes. Gilberto Figueiredo, coordenador geral da EMR, explica que são necessários no mínimo cinco anos de desenvolvimento para que o resultado artístico seja relevante, sem desmerecer o resultado pedagógico que, tão importante quanto, é percebido desde o início do trabalho. O ensaio da Orquestra ou prática de conjunto acontece todo sábado de manhã e tem alunos de diferentes idades (o mais novo tem 7 anos). Os professores também acompanham os ensaios e faz parte da premissa do projeto promover o amadurecimento e engajamento dos alunos respeitando o processo musical de cada um.

Rodrigo Belchior, coordenador pedagógico da EMR, explica o que pretende alcançar com um  projeto como esse. “A nossa principal meta é fazer com que os arranjos fiquem cada vez mais bem tocados, que os alunos percebam e tragam para nossa Orquestra tudo o que aprendem nas aulas de instrumentos, na prática de conjunto, na aula de percepção, de teoria musical, enfim… que toda essa gama de conhecimento seja direcionada para o nosso ensaio e ele possa se aperfeiçoar. Vamos terminar o ano com o trabalho realizado, porém ainda precisando de muito refinamento. Então é esse refinamento, esse cuidado que queremos no próximo ano, trabalhar mais interpretação musical, trazer mais questões históricas sociais dessas composições”.

Repertório diversificado

DSC_0093

O popular e o erudito se misturam no repertório da Orquestra

No repertório da Orquestra constam músicas populares e folclóricas como o Rancho da Goiabada (João Bosco), Xote em Copacabana (Jackson do Pandeiro), Cidade Maravilhosa (André Filho), Cantigas (Villa-Lobos) e Que Saudade da Guanabara (Moacyr Luz). “Queremos envolver alunos, familiares e comunidade com o meio da música de concerto, usando repertório popular e erudito, assim podendo atuar de forma mais direta no aprofundamento do estudo da música e na profissionalização desses jovens. Já temos o coro, o Chorando à Toa, um quarteto de violões, apoiamos grupos de rock, agora chegou a vez da Orquestra de Câmara.”, diz Gilberto Figueiredo, coordenador da Escola de Música da Rocinha.

São oferecidas vagas para as aulas de flauta transversa, clarinete, violoncelo, violino, viola, contrabaixo, trompa, trompete e trombone. A escola recebe inscrições de jovens a partir dos 6 anos.

“Nós somos uma instituição social e fazemos um trabalho de socialização através da música, nosso objetivo não é formar só músicos, é claro que sairão músicos daqui, mas queremos que o jovem tenha uma orientação para vida profissional e possa exercer sua cidadania em outra profissão. A ideia é estimular esse conhecimento, primeiro adquirir patrimônio cultural, segundo é inseri-los no mercado de trabalho seja lá qual for a área”, afirma Rodrigo Belchior.

O aluno Piero Valentino, 12 anos diz que pratica o trompete todo dia e ficou mais atencioso e organizado. “Tenho um ouvido mais apurado, espetacular. Também passei a organizar melhor o meu tempo, desde a hora que acordo até a hora que durmo”.  Mãe de Piero, Karen Medeiros é peruana e vive no Rio há três anos, ela afirma que o comportamento de Piero já mudou depois que começou as aulas. “A Escola é muito importante, conseguimos descobrir que o meu filho tem um grande dom, ele descobriu na música uma paixão. Acho a ideia de uma orquestra excelente, ele também tem aula prática e teórica. Hoje ele está mais calmo, mais interessado.”

“Promovemos ao aluno o conhecimento, a educação musical, o que já faz diferença em uma sociedade tão competitiva, tão capitalista.  A ideia é despertar uma consciência política e social do país, da nossa vida, até mesmo como moradores da Rocinha. Desejo que eles cresçam como pessoa e aprendam a fazer uma critica político-social com opinião formada, questionadora, sabendo que a educação e ter cultura são importantes, que o capital não está à frente disso tudo. É fazer com que eles saibam que estão inseridos neste contexto”, resume Belchior. ​

Deixe uma resposta

Parceiros