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Lírian: uma vida em poesia

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Foto: Juliana Portella

Desde adolescente, Lírian Tabosa tem conciliado vida e arte de forma bastante harmônica. Hoje com 82 anos, a moradora de Cabuçu, bairro de Nova Iguaçu, já passou por poucas e boas – e parte de sua história está presente em seus poemas. Nascida e criada em Limoeiro do Norte, no Ceará, ela se mudou para a Baixada em 1956.

Lírian começou a se envolver com a militância política motivada pelas condições sociais da população do Nordeste do país. A partir daí, a luta foi contínua: se engajou na campanha “O Petróleo é Nosso”, por volta de 1950, foi presa durante a ditadura militar, participou da fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e hoje se dedica a reuniões como o Plano Nacional do Livro e da Leitura e o coletivo artístico Desmaio Públiko.

O envolvimento com a política a levou a um exílio que durou mais de 15 anos. Então funcionária do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), ela foi denunciada ao regime militar por provavelmente algum colega de trabalho. Ainda em 1964, fugiu para a Bolívia, onde viveu até 1972. “Fugi pelo sul do Brasil, sozinha. A pé, de barco, cavalo, ônibus ou trem, percorri a fronteira em direção ao norte, margeando o Paraguai e a Argentina. Depois de vagar dias e noites, peguei o famoso Trem da Morte e cheguei a Santa Cruz de laSierra, na Bolívia”, conta Lírian.

A poetisa se instalou na cidade boliviana, junto com outros exilados brasileiros, mas no período passou por outros países da América Latina, como Uruguai e Cuba. Neste último, reviu Che Guevara, que já tinha conhecido no Rio de Janeiro em 1961. “Ele foi o homem mais bonito que eu conheci”, conta Lírian, reconhecendo-se “apaixonada” pelo comunista e lamentando a fidelidade dele pela esposa.

Em 1967, a repressão caiu sobre Santa Cruz de laSierra e ela, entre muitos outros exilados, foi presa. “Fiquei incomunicável por 33 dias. Consegui liberdade graças a uma advogada boliviana”, lembra. Após esse período, viveu em outros países da Amércia Latina. Em 1979, participou da fundação do PDT, em Lisboa. No mesmo período, voltou para o Brasil e se reinstalou em Cabuçu – onde criou 20 filhos adotivos sozinha.

O período do exílio, assim como várias destas histórias, estão presentes nos seus seis livros de poesias publicados – o sétimo está a caminho. “Como uma ave que perdeu seu ninho/ busquei dentro da noite/ passos de liberdade”, lembram os versos. Do período de exílio, ela reconhece ter aprendido a resistir a obstáculos como a saudade da família.

Sua história e carreira artística inspiraram o enredo “Lírian Tabosa – luta, poesia e luz”, da escola campeã do carnaval de Nova Iguaçu de 2014 Império do Cabuçu. Na cidade que a acolheu, Lírian é lembrada também por sua contribuição ao desenvolvimento cultural dali. No fim dos anos 80, ela e outros poetas criaram o Desmaio Públiko, que realiza saraus na cidade. Para ela, o movimento foi pioneiro e influenciou o surgimento de novos movimentos artísticos, quebrando assim o estigma de Nova Iguaçu como uma “cidade carente”.

De acordo com Lírian, sua produção artística é constante e envolve temas como o amor, a ideologia, a solidariedade e o cotidiano. Sobre os rumos da política no país, ela se mostra positiva. “Hoje está bem melhor que antes, pois temos liberdade. Também fico feliz em ver uma mulher na presidência”, aponta Lírian, que também tem uma história na militância feminista. Para quem a conhece, Lirian é “Açu” (grande, em tupi) como a cidade onde mora.

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