Seu Rodrigues: o fotógrafo do Alemão
Entoando a voz e arregalando os olhos, Seu Rodrigues declama os versos de um poema em homenagem à máquina fotográfica. Com 59 anos, o fotógrafo e morador do Complexo do Alemão, tem um motivo especial para isto. Há 7 anos, ele começou a perder parte da visão por conta da diabetes. “Hoje é a câmera que enxerga por mim. Eu ainda tenho a capacidade de mostrar a ela o que fazer, e ela se encarrega disso. Então, eu agradeço que, mesmo com essa deficiência de visão, eu ainda esteja entre grandes fotógrafos”, declara.
Na frente das lentes, aparece o Alemão, a comunidade que ele escolheu para morar e retratar em suas fotografias. Atrás, habita uma história que começou no interior de Minas Gerais. Manoel Rodrigues Moura, como consta na sua certidão de nascimento, viveu por lá até os 25 anos, em 1979, quando resolveu vir para o Rio de Janeiro e se hospedar na casa de amigos no Complexo do Alemão. “Comecei vivendo numa extrema pobreza, mas a palavra favela não existia. Meu primeiro emprego foi numa obra, como servente”, lembra.
A fotografia entrou na vida de Seu Rodrigues através do rádio, quando ele ouviu o anúncio de um curso por correspondência e decidiu se inscrever. “Aquilo me abriu um horizonte enorme. Eu aprendi um pouco do macete da fotografia e do laboratório. Depois eu tive que ir me adaptando, mas o pontapé inicial foi ali”. Quando Seu Rodrigues saiu do emprego na obra, ele usou o dinheiro da indenização para comprar uma máquina. Em pouco tempo, já estava fotografando primeiras comunhões, festas de 15 anos, batizados e casamentos. A partir daquele momento, passou a viver exclusivamente da fotografia.
O jornalismo entrou na vida deste fotógrafo quando ele entrou no projeto Viva Favela – que, em 2001, começou a selecionar fotógrafos de diferentes comunidades cariocas. “Eu peguei uma folhinha de papel, escrevi meu nome, minha identidade e coloquei umas fotos. Quinze dias depois, me ligaram”, conta Seu Rodrigues.
A experiência deu uma nova cara à fotografia de Rodrigues Moura. Casamentos e batizados passaram a dividir espaço com o cotidiano da favela, problemas sociais e histórias de moradores. Assim, ele registrou acontecimentos importantes na história do Complexo do Alemão, como a enchente de dezembro de 2001, a ocupação de uma fábrica abandonada em 2004 e a chegada do Exército em 2010.
O resultado do trabalho nas favelas do Rio de Janeiro, especialmente no Alemão, foi a participação em diversas exposições, como “Por Dentro da Favela”, em 2003; “Rio de Olhos Abertos” e “Eco Favela”, em 2005; e “Moro na Favela”, em 2006. Também em 2006, formou-se pela Escola de Fotógrafos Populares da Maré. Seu Rodrigues tem fotos publicadas nos jornais O Globo, O Dia e Extra, além das revistas Onda Jovem e La Rampa. Dentre todas as publicações, seu maior orgulho é uma foto exposta e vendida na Suíça.