10 favelas com nomes curiosos
Possivelmente, o nome Angu Duro vem de um sítio homônimo que existe ali há mais de cem anos. De acordo com o pescador Carlos Alberto da Conceição, de 57 anos, seu avô foi um dos proprietários dali, onde café e frutas era plantados. Hoje relativamente densa, a comunidade de Angu Duro, no começo, era formada por mais ou menos dez casas, dentro de grandes terrenos. Não existiam cercas e a mata era abundante. Aos poucos, estes terrenos foram sendo loteados.
A relação com a Lagoa da Tijuca também mudou: no início, era fonte de diversão e renda para os moradores (alguns conhecem Angu Duro como “Siri”, pois o comércio do crustáceo existe ali há muito tempo). Hoje, a lagoa está poluída e assoreada. “Acabou tudo. Agora, ou você corre pro mar ou arranja outra profissão”, comenta Carlos Alberto.
4. Chatuba (Mesquita)
O nome do bairro em Mesquita provavelmente tem origem indígena, assim como muitas favelas na região metropolitana, como Guarabu, Jurubeba e Guararapes. De acordo com pesquisas da historiadora Ymara Rodrigues de Almeida, em conjunto com os alunos do Ciep Nelson Cavaquinho, e da coordenadoria de Gestão Participativa da Prefeitura de Mesquita, “chatuba” seria uma referência a uma abelha que era atraída pelos laranjais que dominavam boa parte da cidade.
No entanto, de acordo com a antropológa e linguista Marília Facó, do Museu Nacional, a palavra seria resultado da junção de “yssá” (uma tipo de formiga) com “tyba” (sufixo denominador de abundância), significando, na língua Tupi, algo como um “ajuntamento de formigas”. De qualquer forma, a palavra possivelmente se relaciona com a história de Mesquita, que era dominada pela aldeia dos jacutingas e, no período colonial, abrigou o cultivo de cana-de-açúcar, café, entre outros.
5. Morro Azul (Flamengo, Rio de Janeiro)
Existem três versões para explicar o nome da comunidade no Flamengo, mas nenhuma é definitiva, segundo o Favela tem Memória. A versão mais aceita é a de que o nome faz referência a um palacete de cor azul no topo do morro, que no passado era usado como ponto de encontro pelos primeiros moradores. Outra possibilidade é que o nome faça referência a um Bar Azul, que teria existido no principal acesso ao morro, ou ainda à reflexão do céu azul em uma pedra no alto da comunidade, que aconteceria por conta de uma fina camada de vapor formada ao redor da rocha.
6. Pau da Fome (Jacarepaguá, Rio de Janeiro)
A pequena comunidade em Jacarepaguá, quase rural, tem o mesmo nome da estrada que serve como principal via de acesso para seus moradores. “Pau da Fome” faz referência a uma árvore que, no passado, servia como abrigo para aqueles que queriam se alimentar. “Minha vó, que morreu há pouco tempo com 103 anos, conta que aqui era uma fazenda de café, pertencente à Baronesa da Taquara. Os trabalhadores daqui de perto usavam a sombra dessa figueira para comer marmita”, afirma Rosana Maceta, de 44 anos.
No livro “O sertão carioca”, de Antônio Magalhães Corrêa, consta que o “Pau da Fome” era uma figueira que matava a fome, com seus frutos, dos que ali passavam. Leonardo Furtado, guarda-parque do Parque Estadual da Pedra Branca (vizinho à comunidade e à estrada Pau da Fome), explica que provavelmente esta árvore era usada como ponto de descanso para escravos, tropeiros e caçadores que seguiam para o centro da Taquara. Hoje, um figueira é apontada de forma simbólica, para os visitantes do parque, como a famosa árvore.
7. Rato Molhado (Engenho Novo, Rio de Janeiro)
Ninguém ali parece gostar do nome. A Associação de Moradores faz força para que o nome alternativo Dois de Maio prevaleça. Mas, durante os conflitos envolvendo o terreno da Oi, ocupado centenas de pessoas no início de abril, não deu outra: quem era de fora se referiu à favela como Rato Molhado.
O motivo para o nome é de se imaginar. Quanto os primeiros moradores começaram a ocupar o terreno de uma chácara, a infestação de ratos era enorme. Maria Justina Ribeiro, de 79 anos, chegou em 1976 e conta que os roedores eram atraídos pelo lixo e esgoto gerado pelos moradores, sem nenhuma coleta e tratamento. “Tinha tanto rato que eles invadiam minha casa e comiam o que estava na panela. Eram muito espertos”, conta Israel de Oliveira, de 73 anos.
Maria Justina conta que ali era uma área pantanosa, onde corria um rio. Por isso, os ratos ficavam molhados. Segundo a ex-diarista, várias “madames” não quiseram contratá-la quando falava que vivia na comunidade.
8. Morro dos Telégrafos (Mangueira, Rio de Janeiro)
Segundo o Favela tem Memória, o lugar foi escolhido pela família Imperial para receber a primeira Rede de Sistema Telegráfico do Brasil, no século XIX. A escolha do morro aconteceu por este ser o ponto mais alto da região e também próximo ao Palácio da Quinta da Boa Vista. Durante a Segunda Guerra, o lugar foi considerado área de segurança nacional, por ter posição estratégica e oferecer visão privilegiada da Baía de Guanabara.
9. Boogie Woogie (Ilha do Governador, Rio de Janeiro)
Mesmo com um nome tão diferente, muitos moradores não sabem a origem do nome da comunidade na Ilha. Segundo os moradores mais antigos, o nome de “Boogie Woogie” ficou pois este era o apelido de um dos primeiros moradores dali. Já falecido, o que se sabe é que seu primeiro nome era Élcio e que era negro, alto, beberrão e sinuqueiro. A relação dele com as palavras em inglês, que dão nome a um estilo de blues, fica como trabalho para a imaginação de todos nós.
10. Te contei (Parada de Lucas, Rio de Janeiro)
Às margens da Avenida Brasil, próximo à passarela 19, está um conjunto de mais ou menos cem casas reunidas pelo nome “Te Contei”, que faz parte da comunidade de Parada de Lucas. Maíza de Souza, de 55 anos, foi uma das primeiras moradoras dali e conta que o nome foi inspirado em uma novela que estava no ar no momento em que a ocupação começou: “Te Contei?”, escrita por Cassiano Gabus Mendes e exibida na TV Globo em 1978. Maíza conta que a vida era dura: as casas eram de madeira e não havia luz ou água. As fezes e urina, depositadas em latinhas, ]eram jogados na Avenida Brasil mesmo. junto com o lixo. Hoje, garante que a vida está melhor.
O uso de títulos de novelas é bastante comum nas favelas, como é o caso de comunidades como Cavalo de Aço, Salsa e Merengue, Chega Mais e Terra Nostra.
Observações sobre a origem do Morro Azul:
1ª- O palacete era realmente azul, lá residem descendentes de Olavo Bilac (autor da letra do Hino da Bandeira).
2ª- A referência realmente mais forte é a do Bar Azul, devido por ali, os moradores pioneiros terem tido acesso ao morro por vários anos. Para sustentar este argumento, ainda estão vivos algumas testemunhas. Este bar ainda existe, na Rua Marquês de Abrantes, 158, Flamengo, Rio de Janeiro.
3ª- O tal reflexo de tom meio azulado, em dias muito ensolarados acontecia na superfície de uma pedreira, que hoje é de preservação ambiental, pois se encontra totalmente arborizada, lá foram plantadas mais de setecentas árvores, resultado de projeto em parceria da comunidade do Morro Azul com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Sou Historiador com pós-graduação pela UFF.