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Lixo, ratos e doenças no Morro do Fubá

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Fotos: Raphael Silva

Junte um punhado de ruas sem asfalto, um serviço de coleta de lixo irregular e um bom grupo de moradores sem educação. Pronto. Aí está uma receita infalível para garantir o acúmulo de ratos e a proliferação de doenças que já deveriam estar erradicadas há muito tempo. Este foi o cenário ou o cardápio que o Viva Favela encontrou no Morro do Fubá, Zona Norte do Rio. As maiores concentrações de lixo estão nos cruzamentos das ruas Professor Ferreira Braga com a Rua Cajuru; da Rua Cajuru com a Rua Massiambu; e embaixo da Ponte Amarela.

A coleta de lixo acontece apenas duas vezes por semana. Existe até uma terceira, mas é para resíduos especiais, como móveis, galhos de árvores e outros itens. Os moradores não têm o hábito de separar o lixo para a coleta seletiva e sequer conseguem manter os sacos nos seus portões, apesar de existir uma equipe de saúde da Clínica da Família Souza Marques voltada para a orientação dos habitantes a respeito do assunto.

O lixo acumulado atrai grande quantidade de ratos para a comunidade, o que afeta diretamente a saúde da população. Pelo menos três crianças já foram mordidas há menos de três meses por esses animais, que transmitem doenças, direta ou indiretamente, para os seres humanos. Porém, em sua maioria, estas doenças são desconhecidas ou passam despercebidas pela comunidade, como destaca o médico de família Marcos Marzollo, da Clínica Souza Marques:

 “Talvez a comunidade não reconheça a questão dos ratos como sendo um risco potencial, e alguns acabam convivendo "pacificamente" com o problema”. Dentre as doenças, está a leptospirose, que é transmitida pela urina do animal. Além disso, em menor grau, mas igualmente grave, é a possibilidade de se contrair raiva. Há também os casos de micoses e outras afecções dermatológicas.

A preocupação com uma suposta “convivência pacífica” com os ratos não surge apenas no depoimento do doutor. A moradora Vanessa Gaspar vai além e afirma que “é como se ratos e humanos vivessem na mais pura harmonia”. Por outro lado, ela conta que os ratos já provocaram o óbito do filho de uma moradora do morro através da leptospirose, há cerca de dois anos, e morderam outras três crianças de uma mesma família enquanto dormiam em casa, próximo à Ponte Amarela, em dezembro passado (2013). Orientada por um agente de saúde da Clínica da Família Souza Marques, a mãe levou as crianças ao Hospital Francisco da Silva Teles, em Irajá, onde elas foram medicadas.

A Clínica da Família Souza Marques atende à parte da comunidade do Fubá que compreende desde a Rua Bauru, no bairro do Campinho, até um trecho da Rua Iguaíba, localizada no bairro de Cascadura, abrangendo em média 5.000 pessoas entre adultos e crianças. Para a doutora Thais Yamamoto, médica de família na unidade e preceptora da Uerj, a saúde é um elemento de corresponsabilidade do cadastrado (termo usado pelos profissionais da clínica para designar os moradores da área atendida) com a equipe de saúde. “Não adianta a equipe do Fubá se matar de fazer ações de prevenção com as crianças sobre coleta seletiva e a importância da higiene nas ruas em seus Programas de Saúde da Escola, se os próprios pais, ao chegarem à casa, mandam os filhos colocarem o lixo na rua de qualquer jeito”, afirma. Ela lembra ainda que os cachorros de rua contribuem para o problema quando rasgam as sacolas de mercado, criando o cenário propicio para os ratos fazerem seus ninhos.

Segundo o morador Alexandre Amaral, a população se acostumou com a presença dos ratos devido à quantidade desses animais na comunidade. “Os ratos fazem parte da realidade e do cotidiano da população, no dia a dia. É como se os ratos fossem animais de estimação das famílias do Fubá”, diz.

Determinadas políticas públicas também são essenciais para solucionar a questão, tais como o controle de roedores, obras de saneamento básico e melhorias nas habitações. Todas deficitárias, no caso do Morro do Fubá. Há demora no serviço de conservação dos canos e muitas ruas possuem esgoto a céu aberto. A Companhia de Agua e Esgoto (Cedae), apesar de ser constantemente acionada por moradores, não faz nada para reverter o quadro.

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