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Descaso, abandono e luta em São Conrado

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Fotos: Marcello Farias

Areias sujas, águas escuras marcadas pelo despejo de esgoto "In natura", mal cheiro, doenças de pele, além de muita tristeza e indignação. Este é um cenário comum há décadas numa das praias mais belas do Rio de Janeiro, situada no bairro que já foi o metro quadrado mais caro da cidade, São Conrado.

Além dos moradores do próprio bairro, a praia também é frequentada por moradores da Rocinha e Vidigal, comunidades que o cercam. O esgoto produzido por ambas, cujo saneamento é responsabilidade da Cedae e da Fundação Rio Águas, não recebe tratamento adequado e é despejado diretamente no oceano, através de uma tubulação furada no costão da Avenida Niemeyer, que levaria o esgoto da Elevatória de São Conrado para a Elevatória do Leblon.

Outro ponto de despejo acontece diretamente nas areias, abrindo uma língua negra até a água do mar.

Só na Rocinha, a população chega, segundo o IBGE, a 70.000 habitantes, porém a UPMMR (União Pró Melhoramentos da Rocinha), uma das associações de moradores locais, contabiliza mais de 200.000 habitantes na favela, que já foi considerada uma das maiores do mundo.

André do Valle, morador da Rocinha diz que procura frequentar os locais visualmente mais limpos da praia: " Eu procuro ficar na quarta rampa, lá me parece ser mais limpo, mesmo que visualmente".

Além dos moradores da região, a praia de São Conrado também é muito frequentada por surfistas de todos os lugares do Brasil e até estrangeiros. A parte esquerda é conhecida como Cantão, point dos esportistas e que já teve suas maravilhas (dizem ter as ondas mais perfeitas da cidade) cantada nas letras de Gabriel O Pensador, frequentador do Cantão, morador de São Conrado e militante da causa a favor de melhorias do local.

Cansados da situação em que a praia se encontra, totalmente abandonada pelo poder público, um grupo de surfistas local resolveu se manifestar em redes sociais e criaram o movimento "Salvemos São Conrado". Eles postam fotos, relatos e vídeos mostrando para quem quiser o descaso. Em um dos vídeos, Marcello Farias, integrante do movimento e produtor dos vídeos, mostra as crianças da Escolinha de Bodyboard da Rocinha praticando suas atividades nas areias poluídas.

Fabrini Tapajós, também integrante do movimento, conta que a mobilização por parte dos surfistas começou em março de 2012, quando pediram a visita de um programa de TV, em um quadro chamado “Proteste Já!” onde o Secretário de Meio Ambiente Carlos Minc esteve presente prometendo naquele ano a inclusão de São Contado no projeto Sena Limpa, dando inicio às obras no ano de 2012 e com término ao final de 2013. O programa Sena Limpa (o nome faz alusão à loteria de seis dígitos pois originalmente seriam contempladas seis praias) é uma parceria do Governo do Estado com a Prefeitura do Rio através da Secretaria de Meio Ambiente, junto com a Cedae e a Fundação Rio Águas.

Procurada pelo Viva Favela, a Cedae informou em nota que não há atraso nas obras, que começaram oficialmente em setembro de 2013 e cujo prazo de término seria dezembro de 2014. E esclareceu que as obras modernizarão o sistema de esgotamento sanitário da Bacia da praia de São Conrado com a ampliação da Estação Elevatória.

A praia também é point dos praticantes de futebol de areia. Luis Marcelo Oliveira, estudante e adepto do futebol nos fins de semana, lamenta a situação: "Tem dias que o mau cheiro e a areia poluída atrapalham nossa brincadeira. No fim do dia então, que é o momento em que jogamos, é horrível. Já encontrei animal morto em decomposição". Mesmo assim, ele mantém a esperança: "Acredito que com a Copa e com as Olimpíadas isso mude. Mas é uma vergonha o governo tomar atitude por causa de um bando de gringo, e não por nós".

A Rocinha está aguardando o início das obras do Pac 2, que além do teleférico, promete 100% de tratamento do esgoto que hoje desce a céu aberto pela Rua do Valão, e mais a separação de toda a água da chuva, o esgoto e o lixo além de novos coletores.

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