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Falta de saneamento lidera lista de problemas em favela de Bangu

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Fotos: Guilherme Junior

Chegar à comunidade Castor de Andrade não é nada fácil. A favela fica na encosta de um morro do bairro de Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, onde pode-se ver casas amontoadas umas sobre as outras disputando espaço com imensas rochas. A subida é íngreme. As ruas de barro seco percorrem toda a comunidade num zigue-zague infinito. O esgoto a céu aberto surge de boa parte das ruas. Ora no meio da passagem, atrapalhando as descidas e subidas dos moradores, ora pelos cantos da rua através dos valões que jorram água escura e mal-cheirosa. Bem na ponta do morro, Dona Vilma Maria Pereira conta que uma vez, ao sair para o trabalho embaixo de chuva, levou um tombo por causa do chão irregular em uma das vielas da favela. "Eu estava descendo o morro para ir para o trabalho, mas caí muito feio, ralei o joelho e me sujei toda. O meu sapato quebrou. Tive que voltar para casa, pois não tinha condições de ir para o serviço daquele jeito", conta.

Perrengues como o de Dona Vilma são constantes na comunidade. A maior reclamação dos moradores está relacionada à falta de saneamento básico, como os esgotos correndo a céu aberto, além das ruas que não são asfaltadas. João Galdino, líder comunitário, diz que existem na comunidade aproximadamente 800 casas e nenhuma possui esgoto coletado corretamente. "As famílias foram chegando e construindo residências sem estudo do solo e nenhuma infra-estrutura. Tiveram que arrumar um jeito de fazer o encanamento de esgoto. Ao longo das ruas vemos canos improvisados, isso quando não nos deparamos com a sujeira jorrada das casas dos moradores diretamente na rua. Temos entrado em contato com a prefeitura para regularizar a coleta de esgoto, mas até agora não tivemos uma resposta. Enviamos um ofício para a subprefeitura de Campo Grande em 2010 e até agora nada. Nossas crianças brincam no meio da água podre e as autoridades não fazem nada para mudar."

Adeílson da Silva, morador da Castor de Andrade há sete anos, improvisa pontes de tábuas de madeira para passar sobre os córregos. "Em época de eleição, recebemos muitos candidatos, mas nenhum resolve nossos problemas. Precisamos que alguém olhe para a gente", suplica. O morador ainda diz que como não há um sistema correto de esgotamento sanitário, em dias de chuva a possibilidade de se contrair uma doença grave como leptospirose ou hepatite A é muito grande.

Dona Vilma, escorada à janela, aponta para as poças de esgoto em frente à sua casa. "Fala-se tanto de Copa do Mundo e esquecem disso aqui. Eu já morei em Vigário Geral e outras comunidades, mas nunca vi nada igual. Aqui não sobe caminhão nem ambulância em caso de emergência. Estamos vivendo numa calamidade", desabafa.

As condições sub-humanas em que vivem os moradores da comunidade Castor de Andrade são apenas um reflexo do crescimento desordenado das cidades brasileiras. A falta de políticas de habitação adequadas evidencia o descaso das autoridades. Em meio a obras de modernização da cidade olímpica, favelas surgem e problemas como a falta de saneamento básico vão se tornando um câncer incurável com metástase em todos os cantos. Na esperança de que dias melhores virão, Dona Vilma Maria, embora fale de problemas, não perde a simpatia ao ser entrevistada. "Os ratos entram em nossas casas o tempo todo. Parece que querem tomar o nosso lugar, mas já disse a eles que a casa é minha e daqui eu não saio", conta dando risadas.

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