Vila Kennedy recebe a 38ª UPP
No ano em que comemora 50 anos de existência, a Vila Kennedy recebe a 38º UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Estado. Sob o famoso sol de verão de Bangu, policiais do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) fincaram as bandeira do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro nesta quinta-feira, dia 13, na área mais estratégica da comunidade, o Conjunto Leão XVII. O local faz limite com o morro que dá acesso às comunidades de Senador Camará e Vila Aliança, por onde traficantes de facções rivais costumavam invadir em situações de conflito.
A instalação da unidade na Vila Kennedy estava prevista para o segundo semestre de 2014, mas a ação foi antecipada porque a comunidade vinha sofrendo há semanas com a disputa de facções pelo controle do tráfico de drogas. Segundo o chefe de comunicação do BOPE, Major Marcelo Corbage, o 14º Batalhão de Polícia e o BPVE (Batalhão de Polícia em Vias Especiais) já vinham realizando operações no local desde o dia 07 de março.
Para esta intervenção, policiais contam com a ajuda da tecnologia. Corbage apresentou a Base de Comando Móvel como um dos maiores aliados do BOPE nesta fase. É um carro com seis câmeras acopladas e mais uma que capta imagens em 360 graus – as informações captadas pelos aparelhos vão direto para o CCC (Centro de Comando e Controle), no Centro do Rio. “A expectativa é que até o final do mês o carro esteja linkado com o CCC. A vantagem de trabalhar com inteligência é que evita o desgaste do efetivo”, garante o Major.
Chegada de políticas públicas e serviços são a maior expectativa
A população de Vila Kennedy é estimada a aproximadamente 33 mil habitantes pelo IPP (Instituto Pereira Passos), enquanto as associações de moradores locais falam em 100 mil habitantes. Independentemente do número, é consenso entre moradores que os serviços públicos são insuficientes. “São mais de 120 mil habitantes para apenas duas escolas estaduais. Não temos nenhum equipamento de qualificação profissional, nenhum hospital” lamenta o morador Roni Muniz, nascido e criado no local.
Os equipamentos referentes à saúde se restringem a um Posto de Saúde e uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Na última eleição, o prefeito Eduardo Paes chegou a anunciar a construção de uma Clínica da Família, que já tem até terreno demarcado, mas que até hoje não começou a ser construída e já virou depósito de lixo. Para Muniz, a prioridade para o bairro não seria uma unidade de polícia pacificadora, mas sim o investimento em outras áreas.
O artista plástico Leandro Batista lembra que a comunidade já tinha presença militar, com dois batalhões e dois DPOs (Destacamentos de Polícia Ostensivo). “O ideal seria fazer funcionar estes aparelhos”, acredita.
Já Cláudio Oliveira, que mora há 45 anos na comunidade, demonstrou confiança no processo de pacificação. Ele disse, emocionado, esperar que com a chegada da Unidade seu filho de dois anos possa crescer com tranquilidade. “Estou feliz com a vinda da UPP, estava sendo muito difícil conviver com essas guerras do tráfico, temos esperança que tudo melhore. A classe trabalhadora, gente boa e honesta está contente”, acrescenta.
Assistência Social reúne lideranças comunitárias
Fato inédito até então nos processos de ocupação, a Secretaria de Assistência Social chegou logo após os policiais. O Secretário Pedro Fernandes se reuniu na mesma manhã com as lideranças locais para pensar em planos de ação. “A vantagem da Vila Kennedy é que ela é uma área urbanisticamente acessível – o que facilita a entrada dos serviços. Nós iremos unir a comunidade para sanar as desigualdades. Nós temos muitas ideias, mas não adianta chegar aqui sem saber as necessidades do local”, explica.
Hugo Araújo, presidente da Associação de Moradores do Quafá, lembra que, nestes casos, a oferta de serviços costuma não atender às urgências do coletivo. “Que os serviços oferecidos estejam além dos de TV a cabo, que possamos enfim pensar em políticas públicas”, cobra.
Segundo Corbage, o processo de pacificação ocorre em quatro etapas: intervenção tática, estabilização, implementação da UPP e monitoramento. O BOPE fica no local cerca de 20 dias e depois o comando fica a cargo da Polícia Militar. O Secretário de Segurança José Mariano Beltrame não compareceu ao evento, apenas enviou um vídeo através das redes sociais pedindo apoio da população.