As comunidades esquecidas do Alemão

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Nem todas as comunidades do Complexo do Alemão têm a sorte de serem contempladas pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O Morro dos Mineiros e a Matinha, por exemplo, que ficam no percurso da Corrida da Paz, apresentam altos índices de tuberculose, não têm saneamento básico e sofrem com a constante presença de lixo nas ruas. O teleférico, que passa ali pertinho, oculta aos visitantes essas comunidades mais pobres da região.

Esta situação foi denunciada no curta “Fora de cena”, produzido neste ano pela turma do curso de produção de vídeo e fotografia do Centro de Cultura Digital Praça do Conhecimento. Os jovens dedicaram seu projeto final à questão do lixo nas comunidades, a fim de promover debates sobre a favela e o seu modelo de desenvolvimento. Graças às exibições do filme, que tem duração de 10 minutos, a equipe conseguiu incitar a Comlurb a instalar alguns pontos de coleta de lixo nas áreas esquecidas. O saneamento, porém, ainda não chegou a todas as casas e moradores ainda são obrigados a conviver com valões de esgoto a céu aberto.

De acordo com Demerson Couto, idealizador do “Fora de cena”, “o teleférico é bonito, ajuda muita gente que mora lá em cima, mas infelizmente, a 15 metros dali existe outra realidade”. Um simples passeio pelas comunidades revela a presença de caçambas sobrecarregadas, enquanto outras, vazias, estão rodeadas de lixo no chão. “O grande problema é quando chove, o lixo desce e acaba afetando moradores que não têm nada a ver com aquele lixo”, lamenta Demerson.

Menos lixo, mais reeducação

Para os entrevistados do curta, além das falhas do governo e da Comlurb, alguns moradores também levam culpa. Seria indispensável, junto com as melhorias, prever um programa de reeducação. “Não jogar lixo no chão é fundamental”, afirmou Daiene Beatriz. “Em muitos lugares só tem lixeira bem mais pra baixo, e quem mora lá pra cima? Com certeza não vai descer só para jogar o lixo no lugar e subir de novo”, completou Demerson.

Segundo Demerson, os moradores do Morro dos Mineiros e da Matinha são muito unidos e se ajudam bastante. “Tem as Mães dos Mineiros, por exemplo, que correm atrás de doações de alimentos em mercados. Agora estão em busca de agasalhos e calçados”, contou. Como o transporte é precário na região, muitas crianças não freqüentam a escola. E, na ausência de áreas de lazer, os jovens do “Fora de Cena” acabaram se envolvendo com a população: levaram as crianças ao cinema pela primeira vez e estão ajudando a construir uma biblioteca, que hoje acolhe as crianças que não vão às aulas.