Um beijo pras travestis
A trajetória de Xuxú Vierah sempre foi marcada por mudanças. Antes, cantava hip hop. Hoje, funk. Morava em Juiz de Fora, mudou-se pro Rio, voltou a Juiz de Fora. Antes era “boy”; agora, travesti. MC Xuxú dá recados que vão de frases contra a homofobia a letras caricatas, de humor. E lança vídeos que fazem sucesso na internet. O primeiro deles foi “Pantera Cor de Rosa”, em 2009. Na época, a gravação lhe rendeu convites para programas de TV em rede nacional e a disputa do prêmio VMB, na categoria “Web Hit”.
Mas o sucesso não a acomodou. “Preferi partir pro funk porque o que eu queria passar para as pessoas não cabia na linguagem do hip hop”, diz Xuxú, em entrevista por telefone ao Viva Favela. Depois do primeiro hit de sucesso na web, ela já lançou várias músicas, e seus vídeos totalizam mais 600 mil acessos. Canções que vão desde “Desabafo”, onde afirma ser travesti, “mas filha de Deus”; e o mais recente trabalho, “Um beijo pras travesti”, cuja versão remix será lançada na Parada Gay de Goiânia, em setembro.
Nascida e criada no bairro Santa Cândida, Xuxú mora no Vitorino Braga. “Um pouquinho mais para baixo”, explica, se referindo ao bairro vizinho, também localizado na periferia leste de Juiz de Fora. Mas a relação com a origem é forte. “Eu nunca vou conseguir sair do Santa Cândida, pois foi a minha comunidade que me abraçou, quando eu comecei a cantar. Foram eles que me ouviram, que viram os primeiros shows, que me deram força. Minha comunidade é meu tudo”, diz a MC, com voz firme e suave, como de costume.
“No hip hop, aprendi a escrever”
Transformações
Na Posse de Cultura Hip Hop Zumbi dos Palmares, Xuxú se politizou. “Peguei muito livro para ler com a Adenilde”, diz com orgulho, se referindo à líder comunitária Adenilde Petrina. E a partir daí as mudanças foram rápidas. Se em 2009 ela morava no Santa Cândida, lançava o primeiro hit e alcançava a fama na web, em 2010 ela pensou em desistir. “Eu desanimei total, e fui morar no Rio, onde fiquei dois anos sem cantar”. E foi na Cidade Maravilhosa que ela percebeu a aceitação do funk – e virou MC. “Cheguei em Juiz de Fora gravando funk”, diz, se referindo ao retorno para Minas Gerais, agora como travesti.
As primeiras canções, já em ritmo de funk, foram escritas ainda no Rio de Janeiro. Uma delas parece ter sido feita para o momento em que o país vive hoje, onde lideranças religiosas têm dado declarações homofóbicas na mídia. A letra de “Desabafo”, cujo clipe está disponível na web, polemiza: “tem muita igreja que é mais barulhenta que meu próprio pagode”. Já a outra canção feita em solo carioca faz polêmica de outra maneira. Utilizando linguagens do mundo gay e termos de duplo sentido, a música “Eu fiz a chuca” é, no mínimo, erótica. E “Pantera cor de Rosa”, seu primeiro hit de sucesso, mescla os dois estilos: é consciente, mas engraçada.
“Xuxu: Travesti é ter coragem!”
Um beijo
A página de MC Xuxú no Facebook é prova do sucesso. Muitos seguidores, comentários e diversas fotos de shows onde ela se apresenta, cantando seu funk. Xuxú já cantou em eventos como o Rainbow Fest, em Juiz de Fora, além de diversas casas noturnas espalhadas pelo país. E se prepara para lançar o videoclipe da música “Um beijo pras travesti”. A idegia é receber fotos de todo o Brasil. “O povo tá mandando uma foto mais fofa que a outra. Tô tendo um ataque de fofura aqui. Eu acho fofo foto de biquinho, de beicinho”, finaliza, empolgada.
Veja o vídeoclipe da música Um beijo pras travesti
Ficou muito bom.