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Escritores se reúnem em Itaquera e discutem dificuldades e possibilidades

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Sem uma pauta definida escritores residentes ou com alguma relação de ativismo, interlocução ou obras com a região de Itaquera reuniram-se no Centro Cultural Casa da Memória na noite do dia 25 para uma mesa redonda sobre literatura que acabou resultando muito mais focada no aspecto da produção, distribuição e abrangência do que no conteúdo das crias desses autores.

O encontro que reuniu ainda vinte e tantas outras pessoas na plateia, entre estes, alguns outros autores, deu sequência a um encontro anterior que perpassou pela mesma temática uma semana antes promovida por ativistas culturais com fortes vínculos com a região e foi aberta pelo diretor regional de Ensino de Itaquera da Prefeitura de São Paulo, professor Valter de Almeida Costa, ele mesmo, autor de livro recentemente lançado.

A mesa foi composta pelos escritores Zé Carlos Batalhafam, Erorci Santana, Marcio Costa, Ronaldo José, Allan Regis e o jornalista José de Mendonça Neto, entre estes, apenas dois não residentes, mas que já residiram ou ainda com interseção com o bairro de Itaquera. Sem pauta prévia buscaram afinar a viola ao vivo com o respaldo dos presentes.

Para Zé Carlos Batalhafam, com longo histórico de ativismo cultural e de imprensa na região do ponto de produção de literatura as dificuldades que são muitas não devem esmorecer os esforços do escritor. Ele explicou que produzir livros atualmente é estar muito refém dos humores e interesses das editoras que abrem pouco ou quase nenhum espaço para novos autores ou autores ainda não consagrados pela mídia ou optar pelo investimento pessoal de recursos para custeio da obra impressa.

Consenso absoluto. O livro produzido e impresso, porém é apenas parte do processo que se torna ainda mais difícil de distribuição de forma remunerada. Batalhafam ainda destacou fortemente que no seu entendimento os produtores culturais que moram ou produzem a partir das periferias como é o caso tem que assumir o protagonismo rejeitando os rótulos de resistentes ou da resistência. “Somos participes da produção, somos protagonistas das nossas centralidades”, indicou.

Para Erorci Santana que é membro da diretoria da União Brasileira dos Escritores, tendo sido durante um bom período o editor do jornal da UBE e com diversas obras publicadas é isso mesmo. Cidadão do mundo, contemporâneo não lhe pesa o fato de morar e residir na periferia. Em nenhum momento isso foi restrição para determinar inclusive a sua temática que flerta entre a poesia e prosa. Autor visceral brindou os presentes mais a frente com um longo e envolvente poema de cores sombrias, mas muito bem articulado.

Já o jornalista José de Mendonça cuidou de se afastar da redundância dos apontamentos feito pelo Batalhafam sobre as dificuldades da produção editorial e da distribuição dos livros, optou por observar a natureza intrínseca do autor que é escrever para ser lido, nem sempre para ser comprado. “Toda essa dificuldade é de enorme pertinência. É legítimo ser remunerado pelo valor de mercado da sua obra, mas entendo que o eixo principal é ser lido, mesmo que para isso utilizemos todos os novos mecanismos que se reciclam constantemente e que criam possibilidades de difusão, como é o caso da internet”.

O escritor entende que existem possibilidades de se pensar positivamente e criativamente para superar os bloqueios, mesmo que minimamente, que a indústria cultural impõe aos novos e não tão consagrados autores. Defende o foco do autor naquilo que quer e deseja escrever desviando dos humores e exigências do mercado. No que diz respeito a um dos produtos de sua lavra explicou que produziu um livro recente com peças de realismo urbano totalmente focado no que viu, viveu e friccionou dentro do território de Itaquera e da periferia.

Registrou ainda a sua resistência pessoal em produzir literatura. “Trabalho também como assessoria jornalística para novos autores e novos livros. Sei como se dá essa relação quase que de pai para filho e o entusiasmo que a criação gera no criador. Essa realidade me vacinou quanto às expectativas, da mesma forma que me faz reconhecer o meu lugar nessa encantadora seara. Com tantos bons autores, tão bons livros acho um atrevimento quase indevido escrever livros, mas modestamente tenho um espaço na segunda classe”, brincou.

Novo autor saboreia o parto

Marcio Costa, um dos promotores do encontro acabou de lançar um livro de causos; próprios em sua maioria e alguns que podem ser ficção, o autor não revela. Registrou no encontro que as dificuldades são as mesmas já relatadas, mas que o prazer pela escrita e pela produção do seu primeiro livro o levará a outros.

Já para o professor Ronaldo José que, antes de tudo continua demonstrando entusiasmo com a sala de aula escrever dois livros foi apenas consequência de seus nove anos como editor do Jornal do Estudante que focado no segmento informava, esclarecia, noticiava, mas buscava leitor. Seu primeiro livro foi dirigido a esse público entre pré-adolescentes e adolescentes e, segundo testemunhou, teve ótima aceitação.

Ronaldo não precisou repetir as mesmas dificuldades que já haviam sido expostas, optou por deixar o clima mais otimista. Comprometido com a educação mostrou seu segundo livro ainda em fase de tirar as fraldas, foi lançado ainda este ano com a temática da escola pública, aparentemente indicando ser um estudo e ensaio sobre o assunto.

Último da mesa a se apresentar o jovem Allan Regis mora hoje na divisa entre Itaquera e Guaianazes é autor de diversos livros entre eles um registro da história do bairro onde mora do ponto de vista do morador não da elite local, como forma de exercício da cidadania e da boa produção literária. Em sua fala e autorizado pelos presentes leu um de seus ensaios que resumem pictoricamente a história de um escritor na pele de um agricultor com todas as dificuldades e a falta de incentivo para produzir o que mais gosta. Entendido o recado foi aplaudido.

Na plateia ainda foi possível ouvir explicações pontuais sobre as obras e histórico de vida e ação cidadã de dois autores na mesma direção do conjunto dos consensos criados.

Próximos passos

Reconhecendo seus iguais, as propostas de trabalho conjunto de fortalecimento da produção e da circulação literária alguns indicadores foram rascunhados para um futuro encontro. A ideia é discutir e viabilizar formas alternativas de diminuir as dificuldades tendo em vista que do ponto de vista da indústria cultural livros para serem custeados e promovidos pela editora só mesmo dentro de parâmetros já definidos com temáticas que tenham apelo mercadológico mesmo que de gosto discutível. Não é nada disso que querem aqueles autores e leitores reunidos no encontro. (JMN)

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