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Pacificação na tela e em debate

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Meninos inocentes sendo revistados pela polícia, moradores procurando a UPP para denunciar roubos e a relação carinhosa das oficiais da PM com os que vivem na comunidade.


(Divulgação)

Meninos inocentes sendo revistados pela polícia, moradores procurando a UPP para denunciar roubos e a relação carinhosa das oficiais da PM com os que vivem na comunidade. Retratadas no filme “Morro dos Prazeres”, estas situações foram documentadas na comunidade em Santa Teresa em 2012, mas fazem parte do cotidiano de muitas favelas ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora, programa iniciado há cinco anos. Nas favelas do Escondidinho e dos Prazeres, a UPP se instalou em 2011.

“Morro dos Prazeres” foi dirigido por Maria Augusta Ramos e estreia no próximo dia 29 no circuito nacional. O documentário ganhou o prêmio de melhor direção, fotografia e som na categoria de documentários do Festival de Brasília. De acordo com a cineasta, o filme encerra a trilogia que se iniciou com “Justiça” e “Juízo”, filmes que deixam o espectador com um sentimento negativo de impotência. “Morro dos Prazeres” seria a representação de uma tentativa de mudança, por mais complexa que ela seja. 

Em uma sessão-debate, que aconteceu ontem em Botafogo, a mesa foi composta pelo coordenador das UPPs no Rio, Coronel Frederico Caldas, pelo pesquisador do laboratório de análise da violência da UERJ, Ignácio Cano, e pela cientista política do campo de estudos de segurança e cidadania da Universidade Cândido Mendes, Silvia Ramos – além de Maria Augusta Ramos.

Todos os membros da mesa pareceram concordar que as UPPs compõem uma possível solução para problemas de violência e cidadania no estado, mas atualmente, passam por uma crise e expõem problemas que devem ser alterados. Para o Coronel Frederico, as abordagens policiais são o principal foco de trabalho no momento e denunciam o despreparo e o preconceito de muitos policiais. Silvia Ramos e Ignácio Cano apontaram para a necessidade de uma polícia mais comunitária como a resolução de uma crise no programa. “Observa-se uma guerra fria contra as drogas, mas não a segurança dos moradores e a garantia de suas demandas como foco da UPP”, afirmou Cano, apontando para mudanças na cúpula da corporação e o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza como sintomas de uma crise nas pacificações.  

Para a cientista política da UCAM, o período pré-eleitoral também contribui para esta crise, não prevista pela sociedade carioca. “Depois de 25 anos de uma segurança pública falida, as UPPs foram hipervalorizadas, em boa parte pela mídia. Apesar dos problemas, este programa é aquilo que nós, especialistas, preconizávamos há 20 anos”, disse a pesquisadora. 

De acordo com Ignácio Cano, um dos exemplos de como a polícia poderia se integrar melhor com as comunidades seria na mediação dos conflitos em torno do volume do som dos bailes funks – situação retratada no filme, onde um policial decide o horário em que a festa será permitida. Assim, como também sugeriu Silvia Ramos, a comunidade poderia ser empoderada ao ser questionada sobre a solução para este problema. Um oficial da PM, presente na sessão-debate, constestou esta alternativa. “O abaixo-assinado não funciona porque aqueles que não querem o som alto são reprimidos pelos que querem. Os organizadores de eventos também têm que ter responsabilidade”, afirmou, da plateia. 

No filme, fica claro que moradores e policiais ainda estão em descompasso. Familiares acusam a PM como responsável pela morte de Jackson Lessa dos Santos, de 21 anos. Uma soldado diz que tem orgulho de ser PM, mas tem que esconder sua farda lavada na cozinha. Em uma orientação aos policiais, um oficial afirma que estudos mostram que são necessários dez anos para consolidar esta relação e que a faixa etária de 15 a 25 anos é a mais resistente a isso. Em outra orientação, um oficial afirma: “a essência da atividade policial é proteger vidas e liberdades”.

No debate, um PM perguntou aos pesquisadores se as UPPs teriam continuidade depois de 2017. “Não sei dizer. Ao mesmo tempo temos oportunidades e riscos”, afirmou Cano. Para o Coronel Frederico, as UPPs podem promover mudanças, mas elas virão lentamente. “As favelas existem há mais de 100 anos. Não é possível achar que a mudança virá rapido e partirá somente da polícia. Temos consciência das correções necessárias e orgulho deste trabalho que mudou a cara do Rio”, afirmou.
 

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