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Cinema movimenta becos da Maré

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Criançada aguarda ansiosa pelo o início de mais um filme. (Fotos: Francisco Valdean)

Criançada aguarda ansiosa pelo o início de mais um filme. (Fotos: Francisco Valdean)

Assim que começa a montagem da sala de cinema improvisada, em um beco da comunidade da Praia de Ramos, na Maré, as crianças já se aproximam. Elas sabem que, em pouco tempo, terá início mais uma sessão do Cineminha no Beco.

Idealizado e produzido há um ano e meio pelo músico Bhega Silva, cria da Praia de Ramos e apaixonado pelo meio ambiente, o projeto tem como objetivo exibir filmes infantis, geralmente ligados a temas ambientais, para alegrar as crianças da região. Sem qualquer pretensão financeira, Bhega só faz uma exigência para a realização do evento: que o beco esteja limpo para receber a projeção.

Os moradores atendem prontamente e ainda fazem mais. São eles que oferecem as tomadas de suas casas para a ligação elétrica, se mobilizam para levar pipoca e refrigerante, algumas vezes até cachorro-quente, para que a sessão de cinema tenha um sabor especial. “Para que o cineminha aconteça não existe nenhum grande processo de produção ou divulgação. Eu converso com a vizinhança, monto o equipamento, as crianças vão se chegando e cada um vai trazendo o que pode”, diz Bhega.

Pipoqueiro oficial do evento, Zeno capricha na pipoca para as crianças

Pipoqueiro oficial do evento, Zeno capricha na pipoca para as crianças

Na última edição, que aconteceu na segunda feira, dia 19, no Largo do Cefa, próximo ao Piscinão de Ramos, foi exibido o filme “Tainá – Origens”. Ao lado da esposa Doralice, o pipoqueiro oficial do evento, Naziozeno de Souza, mais conhecido como Zeno, não só colocou a mão na massa como também ajudou a servir a garotada. “Tem muita criança que nunca teve a oportunidade de ir a um cinema, então  elas têm essa oportunidade de acesso à cultura”, diz. Participando pela terceira vez do cineminha, o estudante Kauãn da Silva, 10 anos, disse ter ido a uma sala de cinema somente uma vez: “Acho isso aqui bem legal e divertido, principalmente quando não temos muito que fazer”, completa.

Mas se engana quem pensa que apenas as crianças aproveitam o filme. Com 90 anos de idade, a ex-merendeira e moradora do local há 50 anos, Dona Severina Maria de Souza, acompanhou tudo sentada em uma cadeira em frente à sua casa. Ela contou que assiste aos filmes sempre que a exibição acontece perto de onde ela mora. “O Bhega é uma pessoa muito querida por todos que moram aqui, e essa iniciativa proporciona muita alegria”, diz.

A realização de um sonho

Severina de Souza e sua vizinha Francisca do Nascimento costumam acompanhar as sessões

Severina de Souza e sua vizinha Francisca do Nascimento costumam acompanhar as sessões

Para que o Cineminha no Beco se tornasse uma realidade foi necessário um esforço não somente de Bhega, já que ele teve que contar com a generosidade de alguns parceiros. Para que a ideia saísse do papel ele precisaria adquirir um projetor e  outros equipamentos. Foi então que Bhega fez um levantamento de preços que o deixou bem desanimado. “Na época, o equipamento custava em torno de R$ 2 mil. Era caríssimo, eu não tinha condições financeiras de comprar”, recorda.

Depois ele teve uma  ideia para conseguir o dinheiro: recolher óleo de cozinha de porta em porta e vender em uma refinaria. A empreitada não seria tão fácil. Na época, por cada litro de óleo, era pago apenas R$ 1,00. Com isso, seria preciso conseguir dois mil litros para comprar o projetor.

Mas não foi necessário chegar alcançar esse montante. Bhega, que ganha a vida em cima de uma bicicleta de carga equipada com bateria e caixa de som fazendo a divulgação do comércio local, conseguiu um parceiro de peso. Um de seus anunciantes, o dono da rede de supermercados Pexinchete, ficou sabendo de seu projeto e doou o projetor. “Eu quase não acreditei quando vi aquela mala preta com o equipamento dentro”, relembra o produtor.

Hoje o Cineminha no Beco conta com projetor, mesa de som, amplificador e microfone sem fio. Tudo conseguido por meio de doações e do trabalho de Bhega em coletar óleo de cozinha.

Expansão do projeto

Para 2015, a pretensão é levar o projeto para outras comunidades da Maré. Até agora, além da Praia de Ramos, somente o Parque União e Rubem Vaz receberam o projeto. Não existe uma periodicidade para que o Cineminha aconteça. Geralmente as exibições são feitas em datas festivas como o Dia das Crianças, feriados ou quando algum morador faz o convite.

Contudo, se o projeto for contemplado no Edital do Prêmio de Ações Locais, da Secretaria Municipal de Cultura, poderá ser levado também para outras favelas do Rio de Janeiro: “Estamos na última fase desse edital. Tomara que a gente consiga”, torce.

Mas enquanto o resultado final do edital não sai, o cineminha continuará acontecendo pelos becos da Maré com a colaboração dos moradores e de outros parceiros. Informações sobre as próximas exibições podem ser obtidas no perfil do Bhega no Facebook. Doações de equipamentos e filmes também são bem-vindos.

 

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