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Baixada rebate homofobia com ‘beijaço’

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O movimento ganhou a adesão de jovens de diversas cidades da Baixada e também do Rio. (Foto: Yasmin Thayná)

O movimento ganhou a adesão de jovens de diversas cidades da Baixada e também do Rio. (Foto: Yasmin Thayná)

Cerca de 500 pessoas, entre casais heterossexuais e homossexuais, grupos de amigos, famílias ‘tradicionais’, estiveram na Praça do Skate, em Nova Iguaçu, na sexta-feira (16/1) para participar do Beijaço solidário contra a homofobia. Representantes da União da Juventude Socialista (UJS) e dos diretórios centrais dos estudantes (DCE) da UERJ e da UFRRJ, também foram apoiar a causa. A motivação do “beijaço” foi protestar contra mais um episódio de intolerância sofrido por um jovem homossexual no início do mês.

Segundo relato de testemunhas e do próprio jovem agredido, após beijar outro garoto no bar, Vinicius Vieira, 20 anos, teve uma arma apontada pelo pai do dono do estabelecimento, que disse que Vinicius estava incomodando os outros clientes. Ao questionar o porquê de um heterossexual poder beijar publicamente e ele não, Vinicius foi ameaçado com uma arma de fogo. Ele foi embora do local com os amigos e registrou a agressão na 52º DP, em Nova Iguaçu. Na própria página do evento, é possível ler alguns comentários de pessoas que estavam no local e viram o momento em que um dos proprietários do bar se exaltou durante a discussão e tentou intimidar Vinicius com a arma.

Convocação pelas redes sociais

Vinícius Vieira, vítima de homofobia uma semana antes, também participou do protesto. (Foto: Mazé Mixo)

Vinícius Vieira, vítima de homofobia uma semana antes, também participou do protesto. (Foto: Mazé Mixo)

Mais uma vez as redes sociais atuaram como um forte mobilizador, onde mais de 3 mil pessoas confirmaram a presença. Embora este número não estivesse presente lá, Jéssica Oliveira, uma das criadoras do evento “Beijaço contra a Homofobia” acredita que esta foi a forma de as pessoas dizerem que apóiam a causa. A concentração estava marcada para sete horas da noite, na Praça do Skate, que fica próxima ao local exato onde aconteceu o ‘Beijaço’.

O evento, criado no Facebook por Jéssica e Danyel Argolo, amigos de Vinicius, deram início a um protesto contra a agressão sofrida pelo amigo Vinicius, um jovem homossexual que beijou um garoto em público e foi ameaçado com uma arma pelo dono do bar Point da Moto, no dia 10 de janeiro.

“A gente quer todo mundo! Gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, crossdresser, héteros e quem seja tudo isso junto também”, dizia a descrição do evento criado no Facebook.  “Convide os amigos, todos que puderem comparecer e vamos fazer o beijaço da diversidade mais bonito que Nova Iguaçu já viu! Pode ser com seu par, com trio, quarteto, com homem, com mulher… O importante é estar lá, beijando…”, incentivava o convite.

Juliana Alves, de 20 anos, convidou alguns amigos para se juntar a ela. Mesmo não sabendo que iria beijar, ela estava lá esperando encontrar alguém para a hora do beijo. Juliana não conhecia Vinicius, e nunca passou por situações como a dele, mas já presenciou outros homossexuais como ela serem constrangidos em locais públicos: “Uma vez duas meninas estavam se beijando dentro do metrô e tentaram tirá-las de lá à força”, conta ela, que soube da ação através de um grupo do Fabebook chamado “Agenda Gay”.  Não é a primeira vez que ela se juntou a um protesto contra a homofobia : “Hoje existe muito preconceito, mas acho que isso aqui ajuda muito na nossa luta, e a gente não pode ficar se escondendo”, defende.

De Nova Iorque a Nova Iguaçu, 46 anos depois

Madamee Fatah comparou a manifestação à luta pelos direitos LGBT dos EUA, em 1969. (Foto: Yasmin Thayná)

Madamee Fatah comparou a manifestação à luta pelos direitos LGBT dos EUA, em 1969. (Foto: Yasmin Thayná)

“Eu beijo homem, beijo mulher, tenho direito de beijar quem eu quiser!” e “Não passarão!” foram algumas das frases ouvidas durante o protesto. Todo o evento ocorreu de forma pacífica. O grupo se deslocou até o bar, fez seu manifesto seguido do momento mais esperado da noite, o beijo coletivo. Para o município de Nova Iguaçu aquele foi um marco histórico. “Hoje as pessoas têm medo. Ser diferente já é difícil, imagina ser diferente na periferia?”, diz uma jovem moradora de Nilópolis que prefere se identificar como Madamee Fatah. Ela diz que, na Baixada, as coisas chegam sempre depois, mas se orgulha ao comparar o que ocorreu no Bar Point de Nova Iguaçu ao movimento de 1969,  em Nova Iorque: “Há 46 anos as pessoas faziam um marco em Nova Iorque, se juntando para brigar pelos direitos LGBT, e hoje isso está acontecendo aqui, em Nova Iguaçu”.

A comissária de Justiça da Vara da Infância, da Juventude e Idoso de Nova Iguaçu, Solange de Souza, 49 anos,  conta que há 30 anos já militava na causa LGBT. Solange , que é casada há 25 anos com o escritor Luiz Medina, acha um absurdo que seja proibido a relação entre duas pessoas que se amam; “Pra mim sempre foi uma verdade, sempre foi algo natural. E olha que eu vivi na Ditadura Militar! A gente ainda hoje tem que brigar por isso”, comenta. Para a comissária, as pessoas têm o direito de ficar com quem quiser independente do sexo. “Não é uma mudança de mentalidade, sempre pensei assim”, diz ela, que foi ao evento.

No Brasil, a homofobia mata cerca de um gay a cada 28 horas. O Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais do Brasil, faz um levantamento anual desses dados. Apenas em janeiro de 2014, foram assassinados 42 LGBT, um a cada 18 horas. No ranking mundial de assassinatos homo-transfóbicos, o Brasil mantém seu primeiro lugar concentrando 4/5 de todas as execuções do planeta. A região Sudeste é a segunda no Brasil a abrigar mortes de LGBT, sendo responsável por 35%, enquanto o Nordeste lidera com 43% dos homicídios.

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