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Jovens se mobilizam contra o genocídio

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Jovens da Baixada discutem como combater o genocídio de jovens negros. (Fotos: Fransérgio Goulart)

Jovens da Baixada discutem como combater o genocídio de jovens negros. (Fotos: Fransérgio Goulart)

Nem mesmo o calor intenso impediu que 20 jovens da Pastoral da Juventude de Duque de Caxias e São João do Meriti se reunissem no último sábado, na Cúria Diocesana de Caxias, para participar do encontro A juventude quer viver. O objetivo era debater sobre o genocídio da juventude negra na Baixada Fluminense.

Motivos para a preocupação não faltam: segundo o Mapa da Violência elaborado pelo sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz, da UNESCO, entre 1980 e 2011, houve um total de 56 mil homicídios no Brasil, sendo 30 mil mortes de jovens, mais de 77% negros.

A indignação com essa estatística foi ampliada após as notícias do dia 16 de janeiro sobre o assassinato de Patrick, 11 anos, por policiais militares. O fato foi amplamente divulgado pela grande mídia, que mais uma vez criminalizou uma vida negra e a favela, com o questionamento: ”Ele era ou não traficante?”.

O que representa a juventude?

O encontro na Cúria Diocesana de Caxias teve como convidada Caroline Amanda Lopes Borges, do Coletivo Negro Carolina de Jesus – UFRJ e do Fórum de Juventudes – RJ, além de mim, como ex–conselheiro nacional de Juventude e consultor em Políticas Públicas de Juventudes e Direitos Humanos.

Logo no início, um caloroso debate foi deflagrado com a dinâmica: “O que representa a juventude e o que não a representa na atualidade?” As respostas para a primeira pergunta incluíram: o cabelo black, a democracia direta, as ações e intervenções nas ruas, os saraus, a Igreja e o Papa Francisco. Já para o que não a representa foram listados: a democracia representativa, ouvir que o Brasil não é um país racista, a grande mídia racista e os partidos políticos.

jovens-contra-genocidio-02.jpgApós o debate, o tema “genocídio da juventude” dominou as apresentações. Para Caroline Amanda, “não podemos deixar de racializar nenhuma discussão sobre política pública, pois a população negra é de quase 70% da população total brasileira (somando–se pardos e pretos), ou seja, não somos população específica, somos a maioria”.

Segundo ela, o grande problema no Brasil é o racismo: “Somos nós, negros e negras, que temos que ser os protagonistas desta luta. A sociedade tem que se indignar como está acontecendo em Fergunson, nos EUA, a partir do assassinato de um jovem negro por um policial. Nem no Natal eles deixaram de ir para as ruas lutar”.

Juan Ferreira, participante da Pastoral da Juventude de Duque de Caxias, disse achar necessário um enfrentamento contra a grande mídia racista: “Não nos vemos e não nos sentimos representados. E quando somos vistos, é sempre de maneira estereotipada e com intuito de nos criminalizar”, frisou ele.

Fim do auto de resistência

Outra discussão que fez parte do encontro foi a necessidade de mobilizar as juventudes, em especial a juventude negra, para lutar, em 2015, pela aprovação imediata do Projeto de Lei 4471, de 2012, que tenta decretar o fim do auto de resistência – que permite à polícia sempre alegar que matou em legítima defesa. Este é o argumento que está sendo utilizado agora, como justificativa, para a morte do menino Patrick, de 11 anos.

Vale lembrar que quando há uma investigação, todas as provas mostram que a vítima foi morta a queima-roupa ou com tiros pelas costas, o que desmonta o discurso da “legítima defesa”. Os autos de resistência foram criados por um ato administrativo na ditadura militar.

Para Douglas Almeida, da Pastoral da Juventude e um dos organizadores do evento, o jovem hoje tem alguns medos: o de morrer, o de sobrar (ficar fora das políticas públicas) e o de ficar desconectado. Mas para isso ele já tem a receita: “O que temos que fazer para superarmos esses medos? Acho que o que estamos fazendo aqui hoje é um passo”, disse ele.

Outro ponto bastante debatido pelos jovens da Baixada Fluminense presentes ao encontro foi a constatação de que esse genocídio na região é histórico e aumentou com a implantação das UPPs na cidade do Rio de Janeiro.

Ao final do evento ficou agendado um próximo encontro em Duque de Caxias com o objetivo de reunir todas as campanhas que buscam enfrentar o genocídio da juventude negra.

 

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