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Moradores levam noticiário local para as redes

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Acostumados ao rápido crescimento dos veículos de comunicação na comunidade, a partir de 2010, os moradores do conjunto de favelas do Alemão têm sido atuantes e colaborativos para disseminar as mais diversas noticias de seu território, do Rio de Janeiro ou do mundo. A população criou mecanismos próprios para expor na internet, através das redes sociais, informações sobre os territórios, que antes não eram alcançadas pelos veículos tradicionais de comunicação.

Jovens ou adultos, quase todos acompanham diariamente três ou mais veículos comunitários, além de, pelo menos, duas mídias tradicionais do Rio de Janeiro. Entre os mais citados na comunidade, se destacam: Jornal Voz da Comunidade, Jornal Alemão Noticias, Coletivo Papo Reto e Alemão Morro.

A mídia comunitária no Alemão cresceu depois da ocupação dos morros pelas Forças Armadas, em novembro de 2010, que colocou o território nas manchetes dos veículos de comunicação nacionais e internacionais. O interesse dos moradores em acompanhar os fatos foi mantido, a cada ano, pelo noticiário sobre a implantação das unidades de polícia pacificadora e as obras de construção do teleférico.  

Hoje, notícias sobre outros temas, como o cotidiano da favela, eventos culturais, moradores ilustres e temas de interesse do morador comum que vive ou trabalha na comunidade, são publicadas e, inclusive, reproduzidas nas redes sociais. Ainda assim, assuntos como confrontos e tiroteios, a violência do dia-a-dia e a segurança são tópicos que permanecem em primeiro lugar.

Alguns moradores ainda usam pouco a internet como meio de informação,  preferindo ‘o tradicional jornal impresso de todas as manhãs’, mas os assuntos do território que se tornam populares através das redes sociais são levados para as ruas, nas rodas de conversa de grupos de amigos. As informações coletadas nas redes sociais se tornaram muito importantes no cotidiano dos moradores, que ficam informados, quase em tempo real, de tudo o que acontece e é de interesse da comunidade.

Com a palavra, o morador
 

Helcimar Lopes (Morro do Alemão), 39 anos, produtor cultural, acompanha todas as mídias comunitárias e outras, de fora do território. Como comunicador voluntário, considera que seu papel é informar, em tempo real, o que acontece de bom e de ruim na comunidade e concorda que as notícias seguem um padrão: “Nem tudo pode ser postado. Temos cuidado com o que está além da tela do computador, pois no dia seguinte vamos transitar pela favela”. Dá nota mil para as mídias comunitárias, que “falam a verdade em tempo real e o que está por trás de uma nota da UPP", mas defende um noticiário que também mostre “o que existe de bom nas comunidades e os investimentos que são feitos. As pessoas estão mais interessadas em tragédias do que em informações de formação”. Vanessa dos Santos Ferreira (Nova Brasília/ Alemão), 29 anos, dona de casa, é leitora dos jornais Voz da Comunidade e Alemão Notícias, onde considera importantes as informações sobre política, violência, problemas sociais, oportunidades de emprego e cursos. Acha que a mídia comunitária mostra “a realidade dos fatos vividos pelos moradores, sem medo do preconceito de outras classes mais favorecidas”. Para o território, muitas vezes essa mídia traduz “um verdadeiro grito de SOCORRO. Mas também é esclarecedor e orientador, para aqueles que não têm muito conhecimento das leis, política, e assuntos diversos sobre o nosso país. As pessoas estão tendo a oportunidade de conhecer, se informar, interagir, buscar soluções, crescer profissionalmente". 
Vilma Ribeiro (Nova Brasília/Alemão), 42 anos, dona de casa, acha que a mídia tradicional às vezes manipula e deturpa as informações sobre a comunidade. Ela acompanha pela internet as páginas dos principais veículos de notícias do Alemão e explica o motivo: “Nos dias de confronto, as noticias vêm muito mais rápido por esses veículos, praticamente na mesma hora em que acontecem”. Antes de levar ou buscar os filhos na escola, dá sempre uma olhada no noticiário para saber como está a área onde mora.
Cristiane Cardoso de Souza (Fazendinha/ Alemão), 34 anos, confeiteira e salgadeira, não acompanhava a mídia comunitária antes “porque tinha medo”, mas isso mudou: “Hoje eu tenho todas e acompanho. Se precisar, ajudo repassando as informações. Precisamos mostrar ao mundo que somos unidos. Aqui, temos uma família grande que precisa de muita atenção. Além disso, as redes não são usadas só para dar má noticia, mas também para informar o melhor que a nossa comunidade oferece”. Sobre a diferença entre a mídia comunitária e a tradicional, é taxativa: “enfatizamos o que realmente acontece dentro da nossa realidade. Não usamos maquiagem”. Jaqueline Santos (Nova Brasília/Alemão), 26 anos, atendente comercial, acompanha as atualizações das páginas no Facebook e se mantém informada, principalmente, quando há trocas de tiros na comunidade. “Quando estamos saindo de casa ou voltando do trabalho, sempre precisamos saber como está a situação”. Sobre a importância das mídias comunitárias para os territórios, ela define: “Elas são feitas pelos moradores, gente que conhece bem o local e sabe do que está falando. São feitas do povo, para o povo. As mídias grandes só têm acesso ao superficial, não conseguem relatar toda a verdade e, às vezes, até erram na informação. Nas mídias grandes não temos voz”.
Udson de Freitas (Grota/Alemão), 33 anos, auxiliar de almoxarife, acompanha pelo menos três mídias comunitárias diariamente e diz que o noticiário sobre os tiroteios são importantes para os moradores: “Eu pude encontrar uma forma de chegar em casa em segurança”. Para ele, os veículos da comunidade mostram “a insegurança que temos com a falsa paz que a pacificação diz ter trazido, enquanto a mídia tradicional esconde a violência que enfrentamos”.

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