Mangueira inova em moda sustentável
Criar novas peças de vestuário, seguindo princípios sustentáveis, é um grande desafio para a indústria da moda. Os ciclos curtos de vida destes produtos e o apelo ao consumo representam uma barreira para o desenvolvimento sustentável. Além disso, o uso de substâncias tóxicas pelos fabricantes agride o meio ambiente e as pessoas.
Os números do desperdício de água utilizada em uma mínima produção assustam. Na fabricação de uma única calça jeans, são gastos 10 mil litros de água, segundo dados do Instituto Akatu, ONG com sede em São Paulo, que trabalha para a conscientização do consumo sustentável.
A exposição tóxica gerada por grandes grifes da indústria têxtil foi alvo de uma campanha internacional do Greenpeace para combater o “luxo tóxico”, lançada em 2011. De acordo com a organização, foram encontradas substâncias químicas cancerígenas em praticamente toda a produção da moda. O alvo da campanha eram grifes de renome como Zara, Versace, Louis Vuitton e Dolce & Gabbana, por utilizarem substâncias tóxicas que interferem diretamente na saúde e no bem-estar de pessoas e animais.
Em meio a esta realidade, um projeto pioneiro de confecção de roupas orgânicas chama a atenção na favela da Mangueira, Zona Norte do Rio: o EcoModa oferece oficinas de corte e costura, estamparia e serigrafia, modelagem e desenho de moda e ilustração, incentivando uma produção de roupas totalmente isenta de produtos químicos, fertilizantes e pesticidas.
O curso completo tem duração de cinco meses e, além do aprendizado, os alunos recebem uma bolsa auxílio de R$ 120,00 por mês. As aulas são voltadas para conceitos de produção sustentável e independência produtiva. Por isso, também são oferecidas aulas de educação ambiental e empreendedorismo.
Geração de renda é ecologicamente viável
O projeto é uma iniciativa da Secretaria do Ambiente do Estado (SEA) e já capacitou mais de 400 moradores da Mangueira, Zona Norte do Rio, e seus arredores. O conceito de moda sustentável tem foco no reaproveitamento e na utilização de materiais usados de vestuário, com o menor impacto ambiental possível. Voltada para maiores de 18 anos, o projeto promove a autonomia econômica e social de moradores de comunidades.
A coordenadora do projeto, Vanessa Melo, explica o objetivo da proposta de incentivar o empreendedorismo: “O Projeto EcoModa capacita os alunos em moda, a partir do reaproveitamento de material que iria para o lixo. As mangueiras de incêndio do metrô, rejeitadas em função do prazo de validade, por exemplo, são transformadas em bolsas a partir da borracha interna do material”, explica.
Os professores incentivam os alunos a usarem a criatividade na confecção das peças, como aproveitar retalhos para compor uma carteira ou customizar um jeans ou uma roupa de malha. O eco-educador do projeto, Pedro Luis Lopes, que dá aulas de estamparia e serigrafia, destaca que a moda sustentável contribui para diminuir os impactos negativos na natureza: “O que é mais interessante aqui é a possibilidade de aproveitar o lixo têxtil que não teria mais utilidade”, explica. O projeto conta com a parceria de grifes de renome, que doam produtos antes descartados. O EcoModa customiza de maneira criativa essas doações, reduzindo o impacto no meio ambiente. “Quando se formam, os alunos estão aptos a abrir o seu próprio negócio”, diz Pedro Luis.
“É um excelente projeto. Eu nunca tinha usado uma máquina de costura e agora estou prestes a comprar uma, pois aprendi a usar até a Overlock. O curso, certamente, vai abrir portas para que eu possa ser uma empreendedora” conta Selma Augusto, 50 anos, ex-aluna do curso de Estamparia.
EcoModa Mangueira
Endereço: Travessa Saião Lobato, 62. Buraco Quente – Mangueira
Referência: é rua ao lado da sede da escola
Tel: (21) 23342534