Energia solar chega a comunidade carioca
O Morro dos Macacos, em Vila Isabel foi a primeira favela brasileira a ganhar painéis solares conectados à rede elétrica. As 20 placas instaladas no Centro Comunitário Lídia dos Santos (Ceaca) já permitiram uma economia de 40% na conta de luz da entidade, que desenvolve ações sociais, educacionais, esportivas e profissionalizantes para adolescentes e seus familiares na comunidade da Zona Norte do Rio de Janeiro.
O projeto Juventude Solar, uma iniciativa pioneira do Greenpeace, foi realizado entre junho e julho de 2013, mas só no último mês de agosto o sistema foi, enfim, conectado à rede elétrica. Agora, as placas solares permitem a geração de 5.6 megawatts por ano, evitando a emissão de aproximadamente 1.800 kg de gás carbônico (CO2, um dos gases de efeito estufa), explicou Vânia Stolze, coordenadora do projeto.
A bem-sucedida experiência no Morro dos Macacos levou o Greenpeace a desenvolver outro projeto semelhante no estado, para a colocação de placas solares em uma residência do Quilombo do Grotão, na Serra de Tiririca, em Niterói. Um grupo de 20 jovens foi treinado para fazer a instalação, que também deverá ser estendida a outras dez casas da comunidade, informou Vânia, que também coordenou o projeto. O próximo passo, diz ela, será organizar um centro de treinamento para futuros instaladores de placas solares.
Fogão e lanterna com energia solar
Luiz Felipe dos Santos e Jonathan Rodrigues foram treinados no Morro dos Macacos com outros 14 jovens da favela no Projeto Juventude Solar. Com 14 e 15 anos, respectivamente, eles participaram de oficinas de educação ambiental, introdução à eletricidade, cidadania, energia solar fotovoltaica e empregos verdes – conceito criado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para classificar os empregos gerados a partir de atividades que reduzam as emissões de carbono, como, por exemplo, geração de energia renovável, produção e manejo florestal e reciclagem.
Fotos: Deborah Athila
Jonathan, 15, e Luiz Felipe, 14, foram treinados a instalar as placas, com outros 14 jovens
Luiz Felipe gostou de montar um lanterna e um fogão que funcionam com energia solar: “Conseguimos até fritar um ovo”, disse. Jonathan ficou boquiaberto ao descobrir que é possível gerar energia elétrica através do sol. “Fiquei surpreso com a finalização do projeto, com a montagem das placas solares, gerando energia para o Ceaca”. O jovem foi informado do projeto pela presidente da entidade, Anna Marcondes, que elogiou o conteúdo das oficinas: “Também falaram da economia de energia e nos mostraram que existe uma maneira de viver mais sustentável”.
O sol nasceu para todos
“A energia solar é uma das mais democráticas e abundantes fontes de energia renovável e surge como alternativa sustentável à geração de energia elétrica, já que as energias sujas são altamente poluentes e contribuem para o aquecimento global do planeta”, comentou Vânia Stolze, coordenadora do Juventude Solar. O principal objetivo, diz ela, é mostrar que o potencial dos jovens precisa ser utilizado na promoção de empregos verdes e no combate às mudanças climáticas. “O futuro do planeta depende deles”.
A energia limpa e renovável gerada no Ceaca já ilumina o campo de futebol da comunidade e abastece a própria sede da entidade, onde ocorrem oficinas de informática, aulas de dança e de reforços escolares. Quando a geração de energia solar é superior ao consumo, o excedente segue direto para a rede elétrica da Light e vale como crédito em kWh, abatando as contas futuras. O mecanismo entrou em vigor em abril de 2012, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a resolução 482.
“Vários fatores mantiveram a concessionária de energia distante, como o uso irregular da energia elétrica por muitos anos. O início dos trabalhos para regularizar o sistema de distribuição de energia no local aconteceu há apenas alguns meses. E até que novos equipamentos, transformadores e adequações individuais fossem feitos, o sistema solar instalado não pôde ser conectado”, concluiu Vânia.