Onde foi parar a água de São Paulo?
A crise da falta de água em São Paulo é uma inegável realidade e os fantasmas que assombram o verão dos paulistanos são ainda mais assustadores. Ambientalistas, consumidores e a Sabesp (companhia que abastece 25 milhões de habitantes) concordam que o baixo índice de chuvas nos últimos anos agravou o quadro, ao fazer o Sistema Cantareira, responsável por 60% da água de São Paulo, quase secar.
No entanto, é sabido que há milhares de quilômetros subterrâneos de curso d´água que foram abafados na construção da própria cidade, como mostram pesquisadores da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) na pesquisa São Paulo: a cidade dos rios invisíveis, divulgada no site da instituição.
Hoje, são os moradores quem mais pagam a conta por décadas de descuidos com os mananciais, falta de conservação, embates políticos, ações de agentes poluidores e muito desperdício. Para tentar driblar a crise, eles estão se mobilizando, se organizando em coletivos para explorar matas em busca de nascentes ocultas, recuperar lagos poluídos e até comprar miniestações de tratamento e distribuição.
Descobridores de nascentes
“Você não imagina a tristeza que sinto em ver um rio limpo ser poluído por gente que deveria conservar…”, desabafa Adriano Sampaio, representante comercial e um incansável ambientalista amador. Em 2013, ele criou o coletivo Ocupe & Abrace, que realiza ações culturais e socioambientais na Praça da Nascente, onde descobriu nascentes de um rio que estavam enterradas. “Começamos a revitalizá-las, refazendo o caminho das águas, e construímos um lago com peixes e plantas aquáticas”. Fomos formando um grupo de pessoas apaixonadas por nascentes e rios e nos articulando com outras ações que estavam acontecendo na cidade como o Projeto Rios e Ruas que mapeia e faz expedições ao longo dos principais rios da cidade.
A Praça da Nascente foi recuperada, dando lugar a um lago com peixes plantas aquáticas
Adriano e os demais organizadores destes coletivos ecológicos formaram uma rede de articulação na internet sobre o tema. “Fazemos expedições até esses lugares e levamos mapas para saber onde se localizam as nascentes. É uma verdadeira aventura e é fascinante encontrar nascentes tão bonitas numa cidade cinza como São Paulo”, comemora ele, que grava vídeos para mostrar às pessoas que Existe Água em SP – nome de sua fanpage no Facebook – e que é possível recuperar nossos rios. Animado, ele conta que, em suas andanças, conviveu com uma biodiversidade muito grande, como macacos, quatis, marrecos selvagens, garças e gaviões.
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Racionamento sem explicação
“Com quantas periferias secas se faz um racionamento de água?”, pergunta o escritor Ferrez, em sua página no Facebook Ferrez Escritor, no dia 29 de agosto de 2014. Nas redes sociais, não falta gente debatendo e reclamando sobre falta de água ou a péssima qualidade da água que sai da torneira.
Morador do bairro do Ipiranga, Zona Sul de São Paulo, Murilo Silva conta que, há mais de um mês, a água na rua em que ele mora é cortada toda noite, mais ou menos no período das 20h às 7h. “Quando volta às torneiras, a água vem sempre turva! Não sei bem por que, mas acredito que o problema seja em todo o bairro. Algumas pessoas não notam esse 'racionamento' por possuírem caixa d´água, coisa que a minha casa não tem”.
Na Comunidade de Vila Amélia, Zona Norte, os vizinhos estão desenvolvendo uma mini estação de tratamento de água cujo rateio de R$5 mil será feito entre todos. A ideia é explorar nascentes e córregos, captar e tratar a água para distribuí-la entre os moradores, não sem antes passar por uma análise de metais pesados.
Bônus para quem economizar
A Companhia de Abastecimento de São Paulo (Sabesp) afirma que tudo está dentro da normalidade na cidade: “O que se observa são reclamações pontuais como, por exemplo, uma estação de bombeamento que fica sem luz. O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) registra menos de 15 reclamações por mês, o que, dentro de um universo de 25 milhões de consumidores atendidos pela Sabesp, é “nada”, declara a assessoria de imprensa da companhia.
O site do Idec, porém, informa que “chegamos ao ‘volume morto’, um reservatório com 400 milhões de metros cúbicos de água, situado abaixo das comportas das represas do Sistema Cantareira”. Em sua página na internet, o órgão abriu um espaço para que os moradores relatem em que locais e com que frequência está faltando água na cidade. O objetivo, segundo o Idec, é munir-se de casos reais para cobrar mais transparência dos órgãos responsáveis – governo estadual e Sabesp – e exigir eventuais providências da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo.
Em nota, a própria Sabesp admite que a cidade de São Paulo está enfrentando a maior seca dos últimos 84 anos. Conforme o balanço parcial de agosto divulgado esta semana, cerca de 78% da população da Região Metropolitana de São Paulo aderiram à política de bônus, campanha criada pelo governo do Estado em fevereiro para estimular a economia de água. O cliente que reduzisse em 20% o consumo médio de um período de 12 meses teria desconto de 30% na conta. A medida é válida para residências, comércio e indústria abastecidos pela Sabesp em 43 municípios da Grande São Paulo e Região Bragantina.
Dos que se dispuseram a economizar, uma parcela de 52% atingiu a economia de 20% e obteve um desconto de 30% na conta. Outros 26% diminuíram o consumo, mas não o suficiente para ganhar o bônus. A Sabesp afirma que esta economia tem ajudado a Grande São Paulo a enfrentar o problema da falta de chuvas, reduzindo a retirada de água dos reservatórios do Cantareira e do Alto Tietê, os mais afetados pela seca.
Dados do Ministério do Meio Ambiente mostram que duas das principais atividades econômicas precisam de um grande volume de água para a continuidade de sua produção: 61% dos recursos hídricos no país são consumidos pela agropecuária. Uma fatia de 21% é tragada pelo abastecimento das cidades e os 18% restantes são utilizados pela indústria, principalmente a agropecuária.
Faltaram políticas de prevenção e conservação
de alguns produtos
1 kg de açúcar refinado – 1.500 litros
100 gramas de chocolate – 2.400 litros
1 camisa de algodão – 2.700 litros
1 kg de carne bovina – 15.500 litro
Ambientalistas se preocupam e culpam as más decisões e a demora em antever a crise. A arquiteta e professora do bacharelado de Planejamento Territorial da Universidade Federal do ABC, Luciana Travassos, levanta um questionamento que é de todos: por que não começamos antes a adotar ações para evitar que a situação atingisse um ponto tão crítico? “Estamos num período de seca de verdade. No ano passado, já tivemos um padrão de chuvas fora da média. Já deveríamos ter adotado, muito antes, algumas ações, como o pagamento por serviços ambientais, através de um fundo específico do governo, e a utilização de instrumentos de conservação de nascentes para os momentos de seca”.
“A maior parte das represas está imprópria para o consumo. Mananciais importantes estão poluídos”, denuncia o engenheiro agrônomo Roberto Resende, presidente da ONG Iniciativa Verde, explicando que o setor híbrido sofre por falta de fiscalização. Ele lamenta que o consumidor final ainda acabe pagando caro pela má gestão da terra e do uso do solo e pela falta de políticas descentralizadoras para a questão do abastecimento: “Temos 60% da região metropolitana abastecidos pelo sistema Cantareira. A política das grandes obras está totalmente defasada”, critica. “Há também as várias obras feitas ou a serem realizadas para evitar as perdas e desperdícios de água depois que ela é coletada. Fala-se em 30% a 40% de água tratada que é perdida antes de chegar ao consumidor, mas estes números não são muito divulgados nem pela Sabesp”, diz ele.
- Tome banhos curtos e feche o registro ao passar sabonete e xampu – banho com aquecedor por 15 minutos consome 135 litros de água em uma casa. Com o registro fechado no ensaboamento e uma duração de 5 minutos, o consumo cai para 45 litros.
- Não lave a calçada com mangueira. Use a vassoura para limpar o local.
- Molhe as plantas à noite e prefira um regador à mangueira, que pode gastar até 190 litros em 10 minutos.
- Não lave o carro com a mangueira; use um balde – se a lavagem dura 30 minutos e a mangueira fica aberta, o gasto pode chegar a 560 litros. Com o balde, cai para 40 litros.
- Antes de lavar a louça, retire e excesso de comida com a esponja, sem usar água; deixe a torneira fechada ao ensaboar – o consumo pode cair de 240 litros para 20 litros.
- Acumule as roupas para utilizar a máquina de lavar na capacidade máxima. Faça o mesmo com a máquina de lavar louça.
- Deixe a torneira fechada enquanto escova os dentes ou faz a barba.
- Muita atenção com vazamentos dentro do imóvel; corrija-os o mais rápido possível.
- A água das piscinas montadas para as crianças pode ser reaproveitada: depois do mergulho, use a água para lavar o quintal, por exemplo.
Fonte: Sabesp