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Aida: um coração à disposição de todos

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Foto: Letícia RochaEm Bandeirantes, localidade de Nova Iguaçu, difícil encontrar alguém que não conheça Aida. A professora primária, de 64 anos, tornou-se uma referência por estar sempre socorrendo como pode a quem lhe pede ajuda, em especial famílias. Mãe de duas filhas, ela ajudou a encaminhar muitas outras crianças na vida, comprando uniformes, facilitando inscrições em cursos e escolas. Dona de uma energia incomparável, ela implantou uma série de projetos na comunidade, de aulas de balé a sopão beneficente, assim como a extinta escolinha Formigueira, onde dava reforço escolar. Por conta deste engajamento, hoje todo mundo conhece alguma criança que recebeu sua ajuda.

Promover a integração entre as pessoas é uma vocação que carrega desde menina. Adolescente, já inventava atividades, animava jogos e juntava a vizinhança com suas brincadeiras. “Sempre tinha uma brincadeira. Uma queimada, uma bandeirinha”, conta. Um dia, eraDia das Crianças, organizou um almoço ao ar livre narua Bartolomeu Bueno, onde morava, que foi um sucesso. A partir daí, a rua ganhou eventos regulares,ao som de uma vitrolinha. Eram festas com coreografias para as quais Aida ensaiava os meninos do bairro. Em seguida vieram as quadrilhas. Qualquer novidade na televisão era pretexto para criar um espetáculo e ensaiar as crianças. “E faz cachorro-quente, e faz pipoca, e foi ficando direto!” recorda a professora.

O protagonismo de Aida no bairro foi se desenvolvendo com seu amadurecimento. “O povo cresceu, teve filhos e foi chegando outra remessa”. Para acompanhar esta nova geração, ela criou a escolinha Formigueiro, também na calçada de casa. “Era tudo aqui na rua, aí consegui receber um dinheiro meu e construir essa garagem” explica, designando a dependência que ergueu com suas economias, e que hoje abriga seu ateliê de costura e de trabalhos manuais. Embora não recebesse ajuda financeira para tocar a escolinha, Aida não privava ninguém de assistir às aulas. “Ficou aquele negocio: quem pagava, pagava; quem não tinha dinheiro, problema! A gente não ligava”.

Aida também mobilizou a igreja que frequenta para suas ações em prol da comunidade. Evangélica, sempre fez questão de ajudar o próximo além da sua igreja. Foi assim que fundou, às segundas-feiras, o sopão cujo foco eram as crianças da comunidade que não frequentavam o templo. A refeição era pretexto para oferecer uma série de outras atividades lúdicas, como canto, música e oficinas de arte.

O principal feito do qual se orgulha a professora, no entanto, é o de ter implantado aulas de balé clássico na localidade, atividade que mantém até hoje. Formada em educação física, ela mesmoiniciava as crianças. O projeto só foi possível com o apoio de outro morador, dono do sacolão do bairro. Foi Sebastião Isbaldino, mais conhecido como Tiãozinho, quem lhe cedeu o espaço para as aulas e, mais tarde, contribuiu na remuneração de um outro professor. Segundo o comerciante, a credibilidade de Aida vinha de sua participação ativa na vida da comunidade. Desiludido com pessoas ou ONGs que trabalham em benefício próprio, ele costuma avaliar de perto aqueles que lhe solicitam alguma ajuda.Noespaço cedido à Aida, além do balé clássico, eles oferecem lanche e recreação. O esquema é o mesmo : paga quem pode, somente a roupa fica por conta das mães, de modo que o espaço se mantenha aberto para todos.

A melhor recompensa por este trabalho, foi o desenvolvimento de talentos locais. Um dia, Aida escolheu quatro alunas entre as que mais se destacavam e levou-as para uma audição na Escola de balé de Nilópolis. Resultado: todas tiraram nota 10, e ingressaram no curso. Hoje, uma delas se certificou, outra passou para a Balleto do Méier. “E ano passado, botei mais um menino e depois mais quatro meninas”, frisa, orgulhosa. Confiante, Aida já anunciou que vai ajudar mais alunos na próxima audição: “quem ficar até o dia de dançar pode trazer o papel que eu pago”, afirma, referindo-se aos custos da inscrição.

Hoje a garagem de Aida virou um espaço para a criatividade, onde dá oficinas diversas. A partir de objetos que recicla, ela inventa diferentes trabalhos manuais. Atualmente, está desenvolvendo uma técnica de escultura em relevo em placas de isopor. Embora ainda esteja aprendendo, já tem quem tenha se candidatado para aprender. Como não nega nada, a professora já se animou : “pode vir gente !”. Pois o que ela gosta, é de oferecer seu tempo e compartilhar experiências, a troco de nada. “Não ganho nada gente. Ué, ta bom, não ta bom? Eu acho. Tudo que vier é lucro.”

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