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Zeca Novais, o lunático

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Fotos: Arquivo pessoal

Um sonhador. É assim que o ator e produtor cultural Zeca Novais é visto hoje pelos moradores do município de Rio Bonito. No começo, no entanto, ele era olhado com desconfiança e desdém. Com uma enorme força de vontade, o rapaz de 28 anos conseguiu fazer o que antes parecia impossível: armar uma “Lona na Lua”, nome do projeto que criou e que, em cinco anos, já levou teatro, circo, dança, música, cenografia, iluminação, figurino e maquiagem a cerca de 2 mil jovens de Rio Bonito e cidades vizinhas.

A idéia foi fruto da paixão que ele mesmo cultiva pelo teatro. José Carlos Gomes Novais Juniorconheceu a arte numa escola de Rio Bonito, aos 12 anos. "Eu era bem bagunceiro e comecei a fazer as aulas com o professor Raimundo Ribeiro. No início eu achava que ia zoar com a cara do professor, mas foi ele quem zoou com a minha porque estou nesse negócio até hoje, e lá se vão 16 anos", lembrou o rapaz, que começou a ganhar bolsas de estudo em festivais de teatro. "Eu sempre fui de família bem humilde, então o teatro me dava muitas possibilidades. Por mais clichê que possa parecer, o teatro é a minha vida, o ar que eu respiro. Não vivo sem teatro", diz.

Em 2004, junto com os amigos Renata Egger e Rafael Cal, fundou a Companhia Interferência Teatral e, em 2009, foi semifinalista de um concurso para atoresno programa de TV Caldeirão do Huck. Ali, percebeu que queria aproveitar seus 15 minutos de fama para promover algum tipo de mudança social. "Eu não queria fazer teatro por si só, queria que jovens talentosos tivessem oportunidades na arte. Então comecei a dar aulas de teatro no Projeto Amigos da Escola e percebi que os alunos sofriam com a falta de espaço para apresentações. Daí partiu a idéia de levar uma lona itinerante para as comunidades mais afastadas”, lembra.

No começo, a Lona na Lua era uma tenda de 3x6m com um camarim de bambu. Em 2010, em parceira com a Companhia de Teatro Contemporâneo, Zeca conseguiu, através da Lei Rouanet, uma verba de R$ 180 mil da Furnas Centrais Elétricas para dar ao projeto mais do que uma sede, mas uma lona capaz de abraçar e projetar para o público os talentos regionais. "A cidade abraçou e conseguimos a verba para comprar nossa tão sonhada lona azul, toda estrelada, como nos meus sonhos de criança. Hoje estamos ocupando um terreno que é emprestado por dois empresários maravilhosos. A prefeitura já se comprometeu em ceder um espaço para a lona. Creio que não há nada mais justo a se esperar, afinal somos um projeto que cuida com muito carinho dos filhos de Rio Bonito e estamos torcendo para que tudo dê certo", disse.

O curioso nome Lona na Lua é uma licença poética criada por Zeca: a idéia é mostrar que é possível ser artista e armar uma lona em qualquer lugar. Quem entra ali, sente uma felicidade latente: os cerca de 100 alunos, vindos de escolas públicas, têm a alegria no rosto. Os espetáculos desenvolvidos têm parceria pedagógica com as escolas e envolvem temas como drogas, violência sexual, entre outros. Para muitos alunos, a passagem pelo projeto significou uma guinada na vida profissional. Larissa Moraes, por exemplo, estuda Artes na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde Manuela Viana também estuda Produção Cultural.

O Lona na Lua recebeu mais de 20 prêmios em festivais pelo Brasil – para Zeca, o que mais se destaca é o Rio Sociocultural 2011, que premiou as 10 ações socioculturais mais importantes do estado. Em 2014, a trupe também foi indicada ao Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro.

"Eu era um ator iniciante e virei diretor porque queria passar o pouco que sabia para a garotada. Tudo mudou! Hoje meu sonho não é só meu, ele é de uma cidade que acredita no que eu faço. E se Deus quiser, nós vamos realizar o sonho de ter uma lona em cada município do Rio de Janeiro. Quero ver muita criança fazendo arte", afirma Zeca, atualmente o único professor fixo do projeto.Ele, que ficou afastado nos últimos anos de sua carreira de ator, pretende se reciclar com cursos. Recentemente, venceu a categoria de ator coadjuvante no Festival Nacional de Teófilo Otoni (Festto), quando substituiu um membro do elenco.

Mesmo com o sorriso estampado no rosto, Zeca se lembra das dificuldades que teve para realizar seus sonhos. “Nós não tínhamos nada, passávamos pasta de dente no rosto como maquiagem. A necessidade fez a gente. Acho que não ter estudado em grandes escolas de teatro garantiu ao nosso projeto uma identidade popularesca. Sempre me disseram que eu era maluco, hoje todos estão vendo que nossa loucura é outra. Somos loucos pela arte”, lembrou.

Em 2013, a visibilidade de Zeca o levou a ser convidado para assumir a recém-criada Secretaria de Cultura em Rio Bonito. Após um ano à frente da pasta, ele pediu exoneração, acreditando que poderia somar mais se dedicando exclusivamente ao Lona na Lua. "Estamos crescendo, mas nosso objetivo continua o mesmo: o de levar a arte a todos os lugares e afirmar, de uma vez por todas, que o jovem pode ser protagonista de sua própria história", conclui Zeca.

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