Walmir: o “dono” do Morro dos Mineiros
Com 73 anos, Walmir Straubel, ou “Seu Walmir” para os conhecidos, caminha tranquilamente pelo Morro dos Mineiros, no Alemão, enquanto cumprimenta os vizinhos. Ele vive ali desde 1960, quando aquele local não tinha nome, associação de moradores ou ruas importantes como a Canitar. Tudo isso e um pouco mais veio com ele que, junto com outros moradores, promoveu importantes mudanças na comunidade que ele conta ter chamado de Morro dos Mineiros.
Descendente de italianos e alemães, Walmir nasceu em 1940 na cidade de Miguel Pereira, no interior do estado do Rio de Janeiro. Com 5 anos, se mudou para o Rio com a família, ficando até os 20 anos em Inhaúma. A partir de então, se mudou para o lugar que se tornaria o atual Morro dos Mineiros– entre 1960 e 1965, porém, se mudou para o asfalto após se casar com Clemir, sua esposa até hoje e mãe de seus 4 filhos (um já falecido).
Eram poucas as casas e a que ele construiu, em 1965, é até hoje moradia de Walmir. Até o ano de 1987, ele trabalhou como caminhoneiro. Foi nesta época que ele fundou a associação de moradores e consolidou o nome da comunidade – segundo ele, uma homenagem aos diversos migrantes que chegavam à comunidade entre as décadas de 60 e 70, vindos de Minas Gerais. A necessidade de criar a associação veio do conflito dos moradores do Morro dos Mineiros com a liderança da comunidade vizinha, a Grota, por conta da abertura da Rua Canitar. Em assembléia, foi decidida a criação da organização e o posto de Walmir como seu presidente.
Durante este tempo, Walmir foi responsável pela abertura e nomeação de diversas ruas, como a Belo Horizonte, a Ouro Preto e a homônima, Walmir. “Houve uma vez que um presidente quis mudar o nome dessa rua, mas a população foi contrária”, comenta, orgulhoso, o homenageado. O acesso à comunidade dos Mineiros era muito difícil, até Walmir abrir a rua, que faz esquina com a Rua Canitar e vai até o topo do morro, onde existe hoje uma pedreira. “Antigamente, nesta rua, mal se subia de charrete, devido à quantidade de lama que havia aqui”, lembra Manoel Rodrigues Moura, morador da Grota e amigo de Walmir.
Mandato quase vitalício
Em 1997, o líder comunitário precisou se afastar por problemas de saúde. Mas mesmo fora da associação, Walmir tem voz ativa e sua opinião é bem aceita pelos líderes comunitários. “Pedi ao presidente que veio depois de mim que mudasse a placa de ‘Morro’ para ‘Comunidade’. ‘Morro’ é uma palavra que está muito mal falada pela mídia”, disse. “Não tenho mais vontade de voltar, mas sou como um presidente honorário. Por conta disso, muitas pessoas vêm tirar dúvidas comigo”, completa.
Seu Walmir,por exemplo, observa de perto as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que estão sendo realizadas na comunidade. “Sabe há quanto tempo eu espero por essa obra? Por 30 anos. Pensei que fosse morrer e não ver chegar a esse objetivo. Isso aqui era puro mato, agora está ficando bonito, acessível”, conta, enquanto observa o trabalho dos operários, que já o conhecem e respeitam.Em 2010, ele viu as obras do PAC chegarem ao Complexo do Alemão, mas não ao Morro dos Mineiros. “Só acredito vendo”, repetiu a frase que disse quando soube que o PAC 2 iria realizar obras onde mora.
Para Walmir, além da intervenção, é muito importante que todos mantenham o que foi feito em bom estado. “Lutei muito por melhoras e o que está sendo feito é para todos. Eu não quero um futuro para mim, mas para os meus entes e para toda a comunidade”, conclui, admirando o trabalho dos operários.
Amor antigo
Mesmo antes de se mudar pela primeira vez para o Morro dos Mineiros, Walmir já freqüentava o lugar. Ele tinha ali muitos amigos e costumava caçar passarinhos e observar a paisagem do alto da comunidade. Até hoje, a admiração e a amizade de muitos moradores reforçam o afeto de Walmir pela comunidade.
“Ser presidente é um cargo complicado porque o poder sobe à cabeça. Eu tentei ser como era antes de ocupar o posto”, aponta. Para ele, dá alegria ver seu “quintal” – como chama a comunidade – mudado. “Me enche de satisfação ver que fui responsável por mudanças. Me faz dormir com a consciência tranqüila, como quem cumpriu a missão”, comemora.