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Exposição sexual mobiliza Vila Kennedy

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Foto: Vitor Madeira

A nova onda do momento ficou fácil de verdade. Ei, novinha, me passa seu Whatsapp”. Os versos de MC Robinho, que se referem ao aplicativo para smartphones que virou uma das principais ferramentas de comunicação entre jovens, confirmam também que as novidades na tecnologia não só promovem alterações na vida moderna como estendem sua influência ao relacionamento entre as pessoas. Na Vila Kennedy, Rio de Janeiro, um fenômeno que ocupa milhares de gigabytes é o compartilhamento de imagens e vídeos de mulheres nuas entre grupos de usuários do aplicativo Whatsapp. Ninguém sabe ao certo como começou (provavelmente este ano), mas a proporção com que se expande é alarmante.

Segundo integrante de um desses grupos, que não quis se identificar, as imagens chegam e são compartilhadas na velocidade da internet banda larga. “Quanto mais pessoas se inserem na rede, mais fotos começam a chegar. No início o movimento era mais discreto, mas agora este fluxo aumentou muito. Já aconteceu de chegarem 70 fotos no meu celular em um dia”, explica. Para se ter ideia do potencial de expansão dessa “onda”, a informação segundo a qual o Brasil tem mais celulares do que habitantes é esclarecedora. E, de acordo com pesquisa da da F/Nazca com o Instituto Datafolha, 43 milhões deles já estão conectados à internet.

Reprodução A origem das imagens varia. Segundo esse informante, algumas meninas enviam espontaneamente as fotos para os grupos com a intenção de ganhar visibilidade na comunidade. Já outras tiveram suas fotos vazadas sem autorização – o que vem sendo chamado de “revenge  porn” (pornografia de vingança, em tradução livre). O único aspecto em comum nas histórias é o desconhecimento da viralidade que estas imagens podem ganhar na rede. O jovem revela que já circulam fotos de meninas de outras áreas da cidade. “Antes eu via mais gente da Vila Kennedy, agora recebo muitas imagens de meninas desconhecidas. O que me faz acreditar que outros bairros também estão aderindo”, garante.

Nos casos de fotos de menores, divulgadas por iniciativa própria ou por maldade de ex-namorados, as consequências costumam ser danosas para as fotografadas. Na maioria das vezes são xingadas na escola e na vizinhança. A amiga de uma menina que teve as fotos vazadas relata que ela chegou a receber ameaças pelo Facebook. “O ex-namorado dela tinha as fotos e depois que eles terminaram ele divulgou todas. Várias pessoas começaram a enviar mensagens para o Facebook dela, com xingamentos e tudo mais. Ela ficou arrasada e a família resolveu mandá-la para a casa de parentes, na Região dos Lagos, para dar um tempo”, conta. Os pais de outra adolescente que passou por situação semelhante chegaram a procurar a UPP da área, mas os policiais não souberam como orientá-los.

Como crimes online são uma prática relativamente nova, os mecanismos de prevenção e denúncia ainda não são muito consolidados. De acordo com a Procuradora Regional da República, Neide Cardoso de Oliveira, disseminar imagens de menores de idade é crime de pornografia infantil. “É crime e o abusador deve ser processado. Se ele também for menor de idade, fica sob responsabilidade do Juizado de Menores e é julgado como autor de ato infracional, mas continua sendo crime”, afirma.

ReproduçãoA coordenadora do blog Blogueiras Feministas, a pedagoga Bia Cardoso, acredita que o envio espontâneo dessas imagens pode ser uma tentativa de busca por reconhecimento, o que configuraria um comportamento natural da adolescência. “Acredito que faz parte do jogo mandar as imagens. É um jogo de sedução, mas também de autoafirmação. Elas querem mostrar que não são mais crianças, e sim adultas. Isso é algo que adolescentes sempre fazem”, teoriza. Ela chama a atenção, no entanto, para os casos em que as fotos são postas a circular à revelia da fotografada. O correto a fazer não é punir a atingida, mas o responsável pela divulgação. “Se a pessoa está fazendo isso por livre e espontânea vontade, ela não deve ser condenada. Quem espalha as imagens sem permissão de quem as enviou é o culpado. Porque é esse tipo de comportamento criminoso, com o intuito de cometer um assassinato de reputação da vítima, que devemos combater”, afirma.

Mesmo com o crescimento alarmante desses crimes online, só há duas delegacias especializadas em todo o Brasil, localizadas no Rio e em São Paulo. Mas Neide garante que há outros meios para descobrir e denunciar estes criminosos. “Desde 2005, o Ministério Público tem uma parceria com o Google, que envia o link de qualquer página suspeita para ser investigado”, garante. Além disso, as vítimas também podem denunciar através do site da organização Safernet (www.safernet.org.br) ou no próprio site do Ministério  Público Divulgação(cidadao.mpf.mp.br). Em ambos, as denúncias podem ser anônimas. Outra opção é se procurar a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), no Centro do Rio (Rua Professor Clementino Fraga, 77).

Paralelamente, uma corrente de iniciativas preventivas para meninas que passam por este problema está pipocando na rede. Um protótipo de aplicativo desenvolvido por adolescentes de Santos, litoral de São Paulo, pretende fortalecer a autoestima das vítimas. Chamado de “For You” e sob o mote “se eles usam apps para nos humilhar, nós revidamos usando apps para nos empoderar e organizar”, o projeto pretende facilitar as denúncias e auxiliar as jovens a se protegerem legalmente. No site do Safernet também há uma cartilha de navegação segura na internet que pode ser baixada gratuitamente e é distribuída nas escolas (http://www.safernet.org.br/site/sites/default/files/cartilha-site.pdf).

 

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