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O muro da discórdia

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Foto: Paulo Barros

Barreira acústica, exposição a céu aberto ou uma forma de segregar as favelas. Esses são alguns modos como são vistos os Painéis de Animação Cultural e Proteção, instalados desde 2010 em uma concessão municipal. São mais de 7km preenchidos por painés de acrílico que, segundo a concessionária Linha Amarela S.A. (Lamsa), promovem inclusão social ao exibir ilustrações de moradores de 21 favelas que margeiam as duas linhas. Para alguns moradores destes lugares, no entanto, a presença do muro tem razões mais graves: “separar; esconder e cercar”, assim como afirma o coletivo da Maré “Se benze que dá” que, desde a construção da barreira, lidera os movimentos de oposição a ela.

Foto: Francisco ValdeanO grupo já produziu painéis, banners, vídeos e debates de contestação ao projeto. “Se pensarmos… Pra que servem os muros? Para proteger os “cidadãos de bem” (ou de bens), que passam nas vias expressas, dos perigosos favelados que estariam do outro lado. Separar; esconder e cercar. Nenhuma dessas motivações é boa”, afirmou, em nota, o grupo.

Quem passa por ali também demonstra estranhamento. Filipe Gomes, pesquisador de Geografia da UFRJ, se depara com o painel sempre que vai à Ilha do Fundão. “A cidade é o resultado das contradições de classes que envolvem interesses de atores sociais, como o Estado e o povo, por exemplo. E essas contradições se materializam, por exemplo, com os muros, que podem ser usados para sufocar a expansão da favela, beneficiando a um e prejudicando a outro ator citado”, comentou o estudante.

Autor: Luiz Carlos Oliveira Outros moradores das favelas cobertas pelos painéis, no entanto, veem neles benefícios. “O bom desse muro é que ele protege contra acidentes. Antes, as pessoas atravessavam as vias e havia muitos atropelamentos. Senti que o ruído diminuiu um pouco também”, disse Luis Carlos, morador da Vila do Pinheiro. Para Bruno Serpa, mais conhecido por “D. Luk”, os painéis foram importantes em sua vida.  “É gratificante realizar esse tipo de trabalho, principalmente no local onde se vive. Milhares de pessoas passam diariamente pela via e estão em contato com o nosso desenho. O painel é o porta-retrato da nossa arte”, comentou o artista, que participa desde a 1ª edição do Arte Expressa, projeto da Lamsa onde artistas das favelas vizinhas das linhas Vermelha e Amarela ministram oficinas para a comunidade.

A contestação à colocação de muros nas favelas começou em 2009, quando a prefeitura de Eduardo Paes começou a construir os “ecolimites”, com o objetivo de limitar a expansão da Rocinha e do Santa Marta para áreas verdes próximas. Uma lei estadual de 2004 (lei 4324/2004) já previa a colocação de barreiras acústicas em pistas nos “trechos críticos”, mas na cidade do Rio, a medida só foi aplicada seis anos depois. Segundo representantes da prefeitura e da Lamsa, além de reduzir o ruído, os painéis também têm a função de, indiretamente, reduzir atropelamentos. Luana Pinheiro, analista de desenvolvimento social da Lamsa, afirma ainda que o projeto se tornou um ator social dentro da favela. “O Arte Expressa promove o senso crítico e o incentivo à cultura nos participantes, que podem mostrar nos painéis o que cada um tem de melhor”, afirma.

Foto: Paulo BarrosNa época da instalação dos painéis, em 2010, foi divulgado na mídia que cerca de R$20 milhões teriam sido gastos na produção do muro. Diante deste fato, o grupo “Se benze que dá” questiona a utilidade do projeto. “Quando perguntamos os moradores fariam com R$20 milhões, nenhuma das respostas veio com a indicação de instalar a barreira. Óbvio! A educação, a saúde e o saneamento básico na Maré são precários. O silêncio proposto pelo muro não é a nossa demanda”, escreveu o grupo, novamente em nota.

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