Portões ilegais dividem Vila Kennedy

Segundo os moradores, as barreiras servem principalmente para inibir a ação de bandidos e de motociclistas que passam em alta velocidade no local, colocando em perigo a vida das crianças que brincam na rua. Há quem também alegue que o número de assaltos a residências cresceu no último ano, apesar dos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) indicarem que apenas seis ocorrências deste tipo foram registradas pela 14º Delegacia de Polícia em todo o ano de 2013 (os dados de 2014 ainda não foram disponibilizados).
A cabeleireira Merian Souza tem quatro filhos – e por isso apoia a instalação de portões para proteção das crianças. “Sou a favor sim, por um pouco mais de segurança, até porque passam muitos doidos de moto que nunca vi, numa velocidade sem necessidade, isso com crianças na rua brincando. Fora que acaba um pouco com certas rotas de fuga, pois com portão será mais fácil para os policiais perseguirem esses indivíduos”, acredita.
As opiniões divergem. Enquanto a corrente que preza por segurança faz coro para instalação de mais portões por todo o Conjunto, há dezenas de moradores insatisfeitos. “Quando o assunto ainda era especulação sobre o portão, minha família e alguns vizinhos não foram a favor. Depois, descobrimos que já haviam ocorrido algumas reuniões sem qualquer diálogo conosco, e que algumas decisões já até haviam sido tomadas. A única comunicação foi quando vieram com um papel dizendo que os custos da instalação sairiam em torno R$250 por família. Quem não aceitasse, não teria a chave do portão eletrônico, somente a chave comum”, explica a paisagista Paloma Oliveira, referindo-se a sua rua, que foi fechada há aproximadamente 15 dias. “De lá pra cá as visitas que recebo têm que estacionar os carros na outra rua e aqui se transformou em um salão de festas”, reclama.

A instalação dos portões tem sido feita à revelia, sem autorização dos órgãos governamentais. Os Decretos Municipais 14.618/96, 14.703/96 e 23.084/2003 tratam do fechamento de logradouros públicos e estabelecem que, para instalar qualquer mecanismo de controle de pessoas nas ruas públicas, são necessários alguns trâmites, como permissão da Subprefeitura local, encaminhamento para a Secretaria de Urbanismo, seguida da Secretaria de Obras e Conservação e publicação no Diário Oficial. Segundo a chefe de gabinete da subprefeitura da Zona Oeste, Gabriela Gomes, este processo “pode demorar até um ano para ser concluído.” A subprefeitura também afirmou que o maior número de reclamações deste tipo na região provêm de Bangu.
Ausência do Estado é principal fator
A antropóloga Bianca Arruda enxerga que este é um fenômeno que tem ganhado força principalmente na Zona Oeste e atribui a questão à ausência de políticas públicas básicas, principalmente as relacionadas à segurança. “Nessas comunidades os serviços essenciais geralmente não chegam, então os moradores têm que procurar artifícios para driblar essas adversidades. Porém é inevitável que, depois deste fenômeno, surjam novos proprietários e novas lideranças difusas para encabeçarem as decisões. O cenário que se estabelece depois pode ser o mais problemático”, observa.

Em paralelo à discussão que tomou conta do bairro, uma ação espontânea surgiu nas redes sociais através dos moradores que se opõem aos portões. O movimento #NãoVaiTerPortão começou no Facebook e a hashtag foi pintada no chão da Rua Z, que vive o auge da polêmica. A foto está sendo compartilhada por pessoas que compactuam com a ideia.
A Prefeitura informou que a retirada de obstáculos ilegalmente instalados é realizada através do telefone 1746