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EncontrArte lota teatros em Nova Iguaçu

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Fotos: divulgação

Públicos de todas as idades lotaram os teatros do SESC e da Casa de Cultura de Nova Iguaçu durante o dez dias que durou o 12º EncontrArte. De ano em ano, as pessoas que experimentam o gostinho do evento retornam, trazendo consigo seus amigos. É o que parece indicar o crescimento contínuo do número de espectadores, que contou 3 000 pessoas em 2002 e chegou a 10 000 nesta edição – a maioria deles impedidos de entrar. A redação do Viva Favela foi conferir o fenômeno: quando o sinal tocava indicando que a peça ia começar, a eletricidade tornava-se palpável no ar e não se ouvia mais nenhum ruído. Na escuridão da sala de teatro, só se viam olhos vidrados na cena, onde operava a magia do teatro.

Mas se o teatro encanta, levar espetáculos gratuitos à população de Nova Iguaçu é uma tarefa nada fácil. Na Baixada, a carência de equipamentos dedicados constitui o principal obstáculo para aqueles que desejam desfrutar de atividades culturais. O fato de 77% da oferta cultural da cidade encontrar-se na Zona Sul ou no Centro traz outro problema: a questão do transporte. Para ver um espetáculo, os iguaçuanos têm que se deslocar para longe. O retorno para casa também é um transtorno, já que os transportes públicos não circulam a noite toda. Outro impasse, os custos. Frequentar eventos culturais nem sempre é barato. Shows, peças teatrais, museus, centros culturais, todos eles têm um custo, nem sempre acessível à população.

Cultura para poucos 

No entanto, quando essas questões de oferta, transporte e custo são resolvidas, público é o que não falta na região. O diagnóstico é da equipe do projeto EncontrArte, composta por Tiago Costa, Claudina Oliveira e Fábio Mateus, além de uma equipe direta de 18 pessoas que os ajudam durante o evento. Segundo os organizadores, a Baixada Fluminense tem bons grupos, trabalhos de qualidade, mercado e pessoas interessadas: o que falta é investimento no segmento cultural.

O interesse do público é notório: exemplo disto é a freqüentação do SESC, na última quarta (03/10) à noite. Mesmo sendo meio de semana, dia de jogo e tempo chuvoso, dos 400 lugares disponíveis, apenas 30 não foram preenchidos. “Nos três ou quatro primeiros dias, a gente teve de 100 a 150 pessoas voltando pra casa porque não tinha mais ingresso. O teatro tem capacidade para 400 lugares, na abertura tivemos mais de 250 pessoas do lado de fora que não assistiram. Então acho que isso prova que aqui tem pessoas interessadas”, conta Tiago. Os organizadores, em parceria com a PUC Rio e o Instituto Gênesis, realizaram uma pesquisa de amostragem dos públicos de vários municípios da Baixada Fluminense. O resultado não podia ser mais animador: “essa pesquisa disse que temos pessoas para assistir teatro, temos grupos de qualidade, o que nos falta são espaços de qualidade para apresentação dos espetáculos” conclui Tiago.

De acordo com a pesquisa, 59% dos entrevistados frequentam espaços culturais e de entretenimento. Desses 59%, 68% saem da Baixada Fluminense para consumir cultura. Nesta região existem apenas sete teatros – uma oferta derrisória para um lugar cuja população tem mais de 3 milhões de habitantes. Em comparação, o bairro da Gávea, que possui 60 mil habitantes, dispõe de quatro teatros dentro de um único shopping.

Fábio lamenta que a mobilização para mudar este cenário venha apenas da classe artística. Para os organizadores do EncontrArte, é necessário mais compromisso político, investimento, editais de cultura e estruturas para a classe artística fora da Zona Sul.

A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte…

O EncontrArte vem realizando um trabalho minucioso de formação de públicos voltado para pessoas que nunca foram a eventos culturais ou que encontram dificuldades para consumir cultura. A programação é gratuita, e as peças são escolhidas a dedo por uma banca. Durante o dia, muitas platéias são formadas por públicos escolares, que agendam horário. Ao término de cada peça, sempre é feita a pergunta: “quem veio ao teatro pela primeira vez?”. “Em média, 30% levanta a mão”, revela Tiago. Para Claudina, o reconhecimento vem nos dias em que a formação do público noturno é totalmente espontânea, como na última quarta-feira (03/10). “As pessoas não estão vindo direcionadas por um professor, por uma diretora de escola. Realmente se interessam pelos produtos de qualidade que são os espetáculos do EncontrArte” afirma.

O evento, que já tem 12 anos, possui muitos fãs que acompanham cada edição. Um público cativo chega cedo nas filas para garantir seu ingresso. “Isso pra gente é maravilhoso. Às 17h já tem fila pro espetáculo que vai começar às 20h. Pra gente, é o reconhecimento do trabalho, é o dever cumprido, saber que as pessoas já vêm até aqui”, completa Tiago.

Aldebrantes Garcia, 35, é agente comunitário de saúde e frequenta o EncontrArte há 6 anos. Toda edição traz alguém consigo, amigos ou familiares. Ele acredita que o evento liberta a cultura para a Baixada. “Legal para a galera ter a vivência de teatro sem ter que ir ao Rio. Quando eles vêm pela primeira vez ficam assustados, pois estão acostumados com o teatro elitizado”, diz ele. Vinicius Bastos, 17, estudante e amador de teatro, vê no EncontrArte a possibilidade de dar acesso à cultura a pessoas que nunca tiveram essa oportunidade. “O EncontrArte é bem famoso porque apresenta a cultura para os moradores de Nova Iguaçu. Vêm até pessoas do Rio para assistir as peças”, conta o estudante, que já frequenta o encontro há dois anos e sempre leva alguém com ele. Este ano foi a vez da amiga Estefane Araújo, 21. Ela acredita que não só a Baixada, mas a cidade toda, é carente de uma oferta cultural acessível. Estefane também avalia que o evento “é uma grande oportunidade não só para o público, como para os atores da Baixada”.  Jéssica Bruna, 17, traduz a carência cultural e a ação do EncontrArte em um verso da música “Comida” dos Titãs: “A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte…”

O EncontrArte é um festival? Não!

O Encontrarte é uma produtora, uma geradora de trabalho cultural, que realiza o festival e já tem muitos outros projetos em curso, inscritos em leis de incentivo e editais de cultura. Entre eles, está a Caravana EncontrArte, que irá rodar outras cidades. “A Caravana Encontrarte é um projeto com os melhores espetáculos que passaram nesses 12 anos de EncontrArte. Nós montamos esse projeto e a gente vai sair com esse book pra outras prefeituras, outros lugares, outros teatros, outras parcerias pra mostrar esses trabalhos”, revela Tiago.

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