Carteiro comunitário sobe morro do Vidigal
Cinco anos após a implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio de Janeiro, muitos serviços públicos ainda tropeçam em dificuldades para entrar nas favelas. É o caso dos Correios, que não conseguem entregar correspondências e encomendas em todas as casas nas ruas e ruelas dos morros cariocas. O principal motivo é por falta de “placas indicativas, numeração ordenada dos logradouros e condições de acesso para locomoção com carga”, como informou à redação do Viva Favela a assessoria de comunicação dos Correios do Rio de Janeiro. Para suprir essa carência, moradores de favelas criaram organizações informais como a do “Correio Comunitário”, que funciona no Vidigal.
No Vidigal, o Correio Comunitário foi criado em 1997, por quatro amigos que queriam fazer algo de bom para a comunidade e, ao mesmo tempo, gerar emprego. “Ficamos sabendo de um trabalho como esse no Morro do Banco, no Itanhangá. Vimos que dava certo e resolvemos adotar a proposta”, contou Edson Pimenta, um dos fundadores do programa. Segundo ele, antigamente as correspondências eram todas entregues em uma birosca de referência de cada região, onde cada morador retirava o que era seu.
“Resolvemos ir em cada birosca dessas e, com a confiança do proprietário, pegávamos as correspondências e levávamos de casa em casa, anunciando o nosso serviço”, informou Edson. Foram dois meses de entrega de graça até conquistarem a confiança dos moradores – e acostumá-los ao conforto do serviço. Hoje, segundo a assessoria dos Correios, somente 45 logradouros do Vidigal recebem correspondências, mas Edson acredita que esse número já tenha se tornado maior.
Ainda de acordo com os Correios, as correspondências dos demais moradores ficam disponíveis em um furgão da empresa, estacionado na entrada do Vidigal, de 2ª a 6ª das 9h às 16h e sábado das 9h às 12h. Edson contesta a permanência regular do veículo e argumenta que, de qualquer forma, a faixa horária durante a qual o serviço é garantido não satisfaz às necessidades dos moradores, que saem para trabalhar, em sua grande maioria, antes do horário de chegada do furgão, e voltam quando este já foi embora.
Solidariedade comunitária
Segundo pesquisa do Instituto Pereira Passos, baseada no Censo de 2010, o Vidigal conta 3 360 domicílios. O Correio Comunitário do Vidigal trabalha em cima da dificuldade dos Correios, atendendo 1 300 casas e 5 mil famílias. “Ainda hoje o que acontece é que tem ruas em que há um número para 100 casas. Os Correios não têm como entregar nos domicílios assim”, admite Edson. Desde o início das entregas do Correio Comunitário, o grupo passou a mapear as ruas numerando as casas e associando-as aos nomes de cada morador. Cada casa que aderiu ao serviço alternativo paga R$7,00 por mês, o que permite remunerar cerca de mil reais cada uma das seis pessoas que trabalham na entrega. Os sócios do projeto informam o endereço do Correio Comunitário, que fica no prédio da Associação de Moradores, e de lá as entregas são feitas em domicílio.
Cada funcionário do projeto é responsável por uma área. Edson é o responsável pela parte administrativa do Correio Comunitário, que funciona de 2ª à 6ª, das 9h às 17h, e aos sábados das 10h às 14h. Como as correspondências chegam à sede de tarde e alguns “carteiros comunitários” têm outros empregos, as entregas são feitas sempre à noite. Wilson Galdino, um dos carteiros do projeto, vive há 7 anos só das entregas que faz e conseguiu comprar casa própria graças a esse salário.
“Nosso trabalho tem muita credibilidade junto aos moradores. Aqui no Vidigal são apenas 3 carteiros dos Correios para dar conta de toda a favela… Sempre tivemos o apoio da Associação de Moradores também. Inclusive o Marcelo, atual presidente da Associação, é entregador e também não recebe correspondências em casa”, contou Edson. O funcionário enxerga seu trabalho sobretudo como um serviço à comunidade e observou que o Vidigal tem se tornado cada vez mais uma favela para estrangeiros e pessoas de classe média. “Já recebi correspondência até da Áustria. Faço esse trabalho pela minha comunidade, mas quando o perfil da favela tiver mudado esse trabalho não vai mais fazer sentido para mim”, concluiu.
Muito bom…