A tarifa aumenta, mas problemas persistem
A mobilidade no Rio de Janeiro é um problema que vem sendo discutido há décadas pelos órgãos públicos e pela população da cidade. Já na primeira semana de 2015, os cariocas foram surpreendidos com um aumento de mais de 13% no valor da tarifa de ônibus – muito acima da inflação de 2014 (6,41%). As passagens subiram de R$ 3,00 para R$ 3,40 e agora são uma das mais caras do Brasil. A justificativa do aumento, segundo a Prefeitura, é munir toda a frota com ar condicionado até o final do ano.
Hoje, apenas 28% da frota têm aparelhos de ar condicionado. Com as temperaturas chegando facilmente aos 40°C neste verão, os passageiros são quem mais sofrem. Uma das maiores reclamações é que além de os ônibus com ar não circularem nos horários de pico, quando circulam, os aparelhos não funcionam.
“Essa semana tive que descer de um ônibus porque o ar estava quebrado e eu não aguentei o calor. É muito comum isso acontecer. Esses transportes precisam de manutenção constante, mas os empresários não se importam com isso. É desumano tanto para os usuários quanto para o motorista e o cobrador”, reclama Leandro Lopes, que mora em Sulacap e pega o 383 (Realengo – Tiradentes) todos os dias para ir trabalhar.

A estudante universitária Ana Carolina aderiu à campanha por mais ônibus. (Foto: Divulgação/Coletivo Campo Grande)
Dentro do município, a Zona Oeste é a menos privilegiada em termos de transporte público. Na tentativa de gerar uma política pública que “pense” o problema da mobilidade, o Coletivo Campo Grande, que tem, em sua maioria, integrantes jovens, elaborou no final do ano passado a campanha “Ônibus me Pega”, cujo objetivo era mobilizar estudantes para discutir o problema do transporte em Campo Grande e adjacências, através da campanha e outras ações, como rodas de conversa.
O estudante Guilherme da Silva, integrante do coletivo e morador de Vila Jardim, em Campo Grande, informa que há apenas uma linha circulando em seu bairro e um dos maiores problemas é a demora na viagem pela falta de conservação dos ônibus. “Para chegar na faculdade, em Seropédica, eu pego dois ônibus que somam quase duas horas de viagem, quando não tem engarrafamento. Eu ainda gasto R$14 por dia de passagem. O que se cobra não equivale ao transporte oferecido e pesa muito no meu bolso”.
Pirata, mas com alvará
Ainda Zona Oeste, a Viação Padre Miguel, nome fantasia da empresa Feital, é uma linha de ônibus que não faz parte da licitação pública ocorrida em 2010, mas que continua realizando serviços de transporte de passageiros. Ela é uma das poucas empresas que cortam boa parte da Zona Oeste e alguns bairros da Zona Norte que ainda tem carros próprios. Mesmo com a péssima qualidade e sem vistoria, a Feital – apelidada carinhosamente de “Fatal” por seus usuários – funciona com o respaldo da lei.
A empresa possui uma liminar na Justiça que a permite operar como empresa privada – e ainda com a máquina validadora de passagem. O ônibus 875 (Cascadura – Campo Grande) sequer tem fiscalização em seus pontos finais. Devido à baixa quantidade de carros circulando, uma cooperativa de vans resolveu fazer um trajeto semelhante, mas que incluía também o bairro de Cosmos. Porém, desde julho do ano passado, as vans foram proibidas e o ônibus voltou a ser a única opção que realiza o itinerário.

O ônibus 875, da Feital, é uma das poucas linhas que não foram regularizadas. (Foto: Andressa Cabral)
“Andar no 875 é praticamente impossível”, segundo os seus usuários. Para Edileuza de Oliveira, diarista que trabalha na Taquara, o ônibus seria uma boa opção se tivesse uma estrutura melhor. “Como pego outra condução, uso o cartão de passagem e faço a integração. O grande problema é a demora: demora a passar e demora a chegar a seu destino”, comenta. O estudante Hugo Melo concorda com a diarista. “Se hoje ele está ruim é porque melhorou muito! Antes era possível ver o asfalto pelo assoalho do ônibus. Andar de Fatal é sempre uma aventura”, ironiza ele. Procurada, a Viação Padre Miguel não respondeu às perguntas da redação.
Com a chegada do BRT (Transporte Rápido por Ônibus, na sigla traduzida do inglês), muitas linhas foram extintas e substituídas por ônibus alimentadores, que fazem o itinerário até as estações. Aqueles cujo destino não é necessariamente a estação do BRT acabam sendo prejudicados. Segundo a gerente de turismo Aline Marques, que trabalha na Barra da Tijuca, os ônibus alimentadores são antigos, demoram para passar, estão sempre lotados e o ar condicionado também não funciona.
“Eles pintaram alguns daqueles frescões velhos, que as janelas são lacradas, para servirem de alimentadores. Muitas vezes o ar condicionado está quebrado e a gente fica sem alternativa”, diz ela, lembrando que o BRT deveria prestar um serviço de excelência: “Todo mundo vê, toda hora tem um acidente. Além da gente sofrer no transporte cheio e quente, ainda fica correndo riscos”.
A Secretaria Municipal de Transporte (SMTR) garante estar trabalhando para melhorar o serviço e alcançar a meta de 100% de cobertura de ônibus com ar condicionado. Somado a isso, promete aumentar a rede de integrações: “Os bairros da Zona Oeste são contemplados pelo BRT Transoeste, que futuramente fará ligação com a linha 4 do Metrô na Barra da Tijuca e com o BRT Transolímpica, que por sua vez, será conectado ao BRT Transbrasil e com os trens da Supervia, todos com destino ao centro da cidade”, informa a Secretaria através de nota.
Outras áreas também sofrem com o problema
Na área da Tijuca o que persiste é ausência de linhas que façam trajetos alternativos, além da falta de educação dos motoristas. A estudante Bárbara Freixo, moradora do Grajaú, conta que o único ônibus “abundante” no bairro é o 422. “Utilizo este ônibus em média quatro dias na semana, assim como boa parte dos moradores do Grajaú. Os motoristas desta linha, são muitas vezes grosseiros e muitas vezes não param nos pontos, deixando idosos e crianças esperando. Além disso, quando passam alguns ônibus de uma só vez eles literalmente apostam corrida entre si. Em 2009, bati duas vezes com o 422, uma seguida da outra”, alerta.
Na Baixada Fluminense, desde o último final de semana as passagens também aumentaram na mesma proporção da cidade do Rio de Janeiro. Indignado ao saber da informação, o estudante de Ciências Sociais Lucas de Deus, usuário das linhas intermunicipais de ônibus, exclamou: “Se afirmamos que no município do Rio há uma máfia dos transportes, a Baixada certamente foi sua escola. Nós da periferia, sobretudo da Baixada Fluminense, estamos completamente desprovidos do direito básico de ir e vir. A precariedade é absurdamente escandalosa”.
A Prefeitura de Nilópolis garante que o reajuste do valor das tarifas dos ônibus que circulam no município foi acordada com o sindicato que congrega as empresas de transporte público da Baixada Fluminense. A justificativa para o aumento, de acordo com a prefeitura, é o aumento do valor da gasolina e equilíbrio da planilha financeira. Já a Prefeitura de Duque de Caxias, maior município da Baixada, diz que está planejando o maior projeto de mobilidade urbana da região. A ação partirá de um convênio entre a Prefeitura de Duque de Caxias, ministério das Cidades e Caixa Econômica Federal, no valor de R$1,5 milhões para início dos estudos de um projeto que irá implantar na cidade um sistema de transporte que integrará BRT, ferrovias e ciclovias.