E nossa piscina? Ninguém sabe, ninguém viu
Em 2008 o adolescente Cristiano Pereira Tavares, na época com 13 anos, virou um símbolo do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de Manguinhos, depois de ser flagrado nadando em uma poça de lama, fato amplamente noticiado pela grande mídia. Depois disso, o adolescente encontrou-se com o então presidente Lula por quatro vezes e, em um dos encontros, o ex-presidente prometeu: “Você e sua comunidade terão sua piscina”.
Na inauguração do Parque Aquático de Manguinhos, em 2009, Lula reforçou que a sua promessa tinha se tornado realidade e que, a partir daquela data, Manguinhos teria sua piscina. O equipamento faz parte do Centro Cívico de Manguinhos do PAC, que conta com mais sete espaços comunitários: Biblioteca Parque, Centro de Referência da Juventude, Centro de Apoio Jurídico, Centro de Geração de Renda, UPA, Colégio Estadual Luis Carlos da Vila (ensino médio) e Casa da Mulher. Tanto a piscina como o restante dos equipamentos ficam na comunidade conhecida como DSUP (antigo Departamento de Suprimento do Exército), na Avenida Dom Hélder Câmara.
Passados cinco anos, a comunidade, em especial crianças e jovens, está triste por não conseguir usar a piscina, localizada no Colégio Estadual Luis Carlos da Vila, porque foi construído um muro em torno dela. Uma nota da Secretaria de Educação informou, em 2012, que o acesso à piscina tinha sido restringido porque os moradores de Manguinhos estavam depredando o local.
Enquanto a comunidade lamenta que a promessa do ex-presidente Lula não tenha sido cumprida e reivindica o direito ao lazer com o uso da piscina, as pessoas pulam o muro para acessar o local.
Risco e sujeira
Em janeiro deste ano, fotos feitas no local revelaram que a piscina estava quase vazia e muita suja. Além de correrem o risco de sofrer acidentes, ao pular o muro, as crianças também ficam sujeitas a contrair vários tipos de doenças se usarem a piscina naquelas condições.
A moradora Monique Cruz, que faz parte do Fórum Social de Manguinhos, informou que policiais da UPP fazem patrulhamento no local para impedir que crianças e jovens pulem o muro. Foi presenciada, inclusive, a ação dos policiais que usaram madeira para reprimir dois jovens que tinham pulado o muro. A fuga dos jovens da ação policial foi gravada em vídeo, mas eles pediram que a filmagem não fosse usada por questão de segurança.
Os moradores também não quiseram ter seus nomes divulgados em nenhuma reportagem sobre o assunto, mas confirmaram que a comunidade não consegue acessar e usar a piscina. Uma moradora ainda brincou: ”Cadê nossa piscina? Ninguém sabe, ninguém viu.”
A direção do colégio estadual também foi procurada, mas informou que não poderia fazer declarações sem a autorização da Secretaria Estadual de Educação. O Fórum Social de Manguinhos, em nota, sugeriu que fosse realizada uma grande audiência pública com moradores de Manguinhos, representantes do colégio estadual, da UPP e de outras organizações sociais locais, como a Rio + Social e a Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, além de crianças e adolescentes da favela de Manguinhos. A audiência teria como objetivo organizar o acesso e o uso do espaço da piscina.
“Sabemos usar a piscina; é só deixarem”
Renata Oliveira, técnica do projeto LETC – Laboratório de Educação Territorializada de Manguinhos, da organização comunitária Rede CCAP, trabalha com adolescentes e relata a reclamação deles com o fechamento da piscina. Segundo ela, o discurso da galerinha sempre é: “Se o Lula falou que era nossa, por que estamos proibidos de usar?”. Renata, que também faz parte do Fórum de Juventudes RJ, propõe um Rolezinho Cultural na piscina.
O adolescente P. Silva, 14 anos, morador do Morro do Amorim, na Comunidade Parque Oswaldo Cruz, disse que pula o muro e vai continuar pulando, porque a piscina é da comunidade. “Sabemos usar a piscina, é só deixarem”, garante ele.