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Tudo começou com o alto-falante

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Fotos: William de Oliveira“A comunicação comunitária acaba sendo a voz da comunidade. Ela pode ser feita através de rádios, jornais de bairro, jornal-mural, rádio-poste, fanzine, dentre outros”, destaca Paulo Nunes, 62 anos, locutor e morador da Rocinha, Zona Sul do Rio. Na favela, a história da comunicação começa no ano de 1960, com o serviço de alto-falantes, até hoje utilizado pela Defesa Civil, da Prefeitura do Rio, para avisar às pessoas que moram em áreas de risco quando há previsão de chuva forte.
 
Os moradores mais antigos contam que o sistema de alto-falante era uma “mão na roda”. Através dele, quem vivia na favela podia ser informado sobre várias atividades comunitárias, jogos de futebol e distribuição de leite. Depois de certo tempo, até músicas passaram a ser transmitidas, para animar quem ficava esperando uma notícia.
 
Em 1938, a Estrada da Gávea, via de acesso à Rocinha, foi asfaltada para abrigar o “circuito da baratinha”. Nesse período, acelerou-se o processo de ocupação da área, por pessoas que consideravam serem públicas aquelas terras. A partir dos anos 1950, o aumento da migração de nordestinos para o Rio direcionou muitos para a Rocinha e, em 1960 e 1970, um segundo surto de expansão foi Reproduçãoprovocado pela oferta de emprego gerada com a construção de dois grandes túneis na cidade: Rebouças e Dois Irmãos.
 
Esse crescimento desencadeou profundas modificações na arquitetura, nos hábitos de vida e nas relações sociais desta população predominantemente nordestina. A luta por melhores condições de vida passou a mobilizar os moradores nas reivindicações ao poder público e os primeiros resultados surgiram a partir da década de 1970, com a construção de creches, escolas, da passarela, canalização de valas, agência dos correios e região administrativa. Já o posto de saúde foi criado em 1982, depois de muito esforço dos moradores.
 
Necessidade de dar voz à comunidade
 
O sistema de comunicação na Rocinha surgiu da necessidade de democratizar a informação e dar voz às pessoas que não conseguiam se expressar e expor seus problemas. A criação dos veículos comunitários melhorou muito a relação entre as instituições locais e os moradores. Foram muitas as rádios locais, como a Katana, Rocinha FM, Brisa, Som Zum, Sat FM e Destak. Algumas delas já foram desativadas, mas a comunicação ganhou novos veículos – carro de som, sites, blogs e caixinhas de poste.
 
O locutor Paulo Nunes lembra que “a falta de espaço na grande mídia levou à criação da mídia comunitária como uma forma de expressão e de resistência a essa discriminação. A comunicação comunitária tem outra característica, que é o trabalho social, tendo em vista que a maioria dos veículos da comunidade se sustenta com doações. Há uma grande força de vontade para fazer comunicação. Por isso, eu faço e vivo disso”, afirma ele, que hoje trabalha na divulgação de produtos do comércio e de informações sobre a comunidade.
 
O compositor Ocimar Santos, nascido e criado na Rocinha, foi fundador do jornal Arte Astral na década de 1980 e hoje mantém o site Rocinha.org. Ele classifica o antigo jornal como “um ícone, uma lenda”, que contou muitas histórias de moradores e momentos marcantes da vida na favela. Um desses momentos foi a realização da Grande Festa da Paz, na década de 1990. Criado para comemorar o aniversário de 24 anos de Ocimar, o evento marcou época e acabou rendendo seis edições anuais seguidas.
 
Ele lembra a última festa, em 1996, no Clube Emoções, e fala com saudade de pessoas queridas que já se foram, como o Mestre Avelino, locutor oficial da Paz e radialista de sucesso na comunidade. Avelino fazia um programa na Rádio Rocinha, que tinha suas caixas de som espalhadas por toda a parte baixa da favela. O programa, chamado de Tarde e Noite Musical, era líder de audiência na época.
 
Ocimar Santos também foi um dos produtores de outro grande evento na comunidade, a Festa do Trabalhador, que levou pela primeira vez à Rocinha, gratuitamente, nomes como Moraes Moreira, Sandra de Sá, Jards Macalé, Macau e uma anônima Cássia Eller. Para ele, a comunicação só funciona quando é feita por um veículo comprometido com a comunidade e seus moradores.

 

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