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Não estudam nem trabalham, mas produzem

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Dois a cada dez jovens brasileiros não estudam e nem trabalham, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Chamados de nem-nem, essa parcela da população – equivalente a 9,6 milhões de jovens entre 15 e 29 anos – não está na escola nem inserido em alguma prática econômica formal. Os números surpreendem quando se revela que a grande maioria é de meninas (70,3%), indicando que esta também é uma questão de gênero e a causa pode ser a gravidez precoce, outro problema social.

“Há dois anos eu fazia parte dessa estatística”, afirma Natália Vieira, 22 anos, moradora de Senador Camará, que abandonou a escola porque engravidou, aos 19 anos. Natália avalia de forma negativa a expressão utilizada para classificar jovens que não estudam e nem trabalham: “O próprio nome desqualifica. Ninguém é nem-nem, e sim pode estar, provisoriamente, ‘nem-nem’, como foi o meu caso. Fiquei um ano sem estudar e trabalhar, mas, assim que o bebê cresceu um pouco, voltei às atividades, e é isso que acontece”, diz Natália. “Não tem que culpar o jovem, e sim criar oportunidades. Além de investir em educação profissionalizante, é preciso pensar em mobilidade e creches para as jovens mamães deixarem seus filhos”, sugere a jovem

Em todo o estado do Rio de Janeiro, existem cerca de 500 mil jovens nesta situação. Os números mostram que a maioria deles tem ensino médio completo (38,6%) e idade entre 18 e 24 anos (43,2%). Apenas 5,6% possuem ensino superior (completo ou incompleto); e 32,4% não concluíram o ensino fundamental.

Na Baixada Fluminense, 137 mil jovens não estudam nem trabalham. O município de Duque de Caxias é o campeão no ranking, com 30 mil jovens considerados nem-nem, seguido por Nova Iguaçu e Belford Roxo.

Novos horizontes para uma juventude criativa

Foto: Juliana Portella

Apesar dos índices elevados, algumas iniciativas provam que as estatísticas estão começando a mudar. A Agência Redes para Juventude é um projeto social que atua em favelas cariocas, tirando o jovem pobre da condição de ‘coitado’ e ‘assistido’ para torná-lo protagonista. Criada pelo escritor e cineasta Marcus Vinícius Faustini, com apoio da Petrobras, a agência tem uma metodologia de ação social em territórios populares que possibilita uma nova perspectiva de futuro.

Em sua terceira edição, o projeto oferece, para 270 jovens de 15 a 29 anos, formação e uma bolsa-auxílio de R$ 100,00 mensais por um período de três meses, para que desenvolvam suas ideias e beneficiem sua comunidade. Ao fim do ciclo, os projetos selecionados recebem uma verba de R$ 10 mil cada para serem desenvolvidos e seus criadores passam a receber uma bolsa-auxílio de R$ 200,00.

Esse ano, Faustini propôs como desafio aos jovens bolsistas da agência que cada projeto beneficie jovens nem-nem de diferentes territórios: Centro, Rocinha, Pavuna, Maré, Cidade de Deus, Santa Cruz, Realengo, entre outros locais do Rio de Janeiro. O produtor também reprova a nomenclatura usada: “O nome nem-nem é depreciativo. O jovem não tem culpa, é preciso identificar o que ele gosta de fazer. A própria diversão dessa geração pode ser estimulada para projetos empreendedores. Jovem de favela não é carente, é potente”, diz Faustini.

Diogo Bardu, 27 anos, bolsista da agência e um dos criadores do projeto “Aturma”, coletivo de Hip Hop e cultura rap, na Pavuna, diz conhecer alguns jovens que estão dentro das estatísticas de não trabalhar nem estudar, mas são envolvidos com música ou arte. O projeto que Diogo desenvolve com Marjan Rosa, 25 anos, e Mano Tim, 29, pretende valorizar este público: “Esses jovens precisam ser vistos com olhar positivo, é preciso que alguém ajude a tornar possível o desejo deles de empreender”, sugere.

Outro que se incomoda quando a mídia usa o termo nem-nem é Michel  Silva, 19 anos, morador da Rocinha, repórter comunitário e criador do jornal “Fala Roça”: “Essa juventude, que a grande mídia fala que não está fazendo nada, criou o serviço de moto-taxi para resolver a falta de transporte nas comunidades”, lembra ele.

Mais de 500 jovens já passaram pela Agência de Redes para Juventude. Os projetos contemplados continuam funcionando a todo vapor. O saldo deve ser levado em consideração quando se revela que grande parte da juventude é nem-nem. É possível avaliar que basta uma oportunidade para que estas pessoas mostrem seu potencial de criação e realização.

Foto: Divulgação

Oportunidade

O governo do estado também oferece um programa de inclusão social e oferta de oportunidades para jovens de 15 a 29 anos, moradores de territórios com Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), o Caminho Melhor Jovem (CMJ), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Para participar, o jovem deve procurar a unidade do Programa Caminho Melhor Jovem na sua comunidade. O CMJ está presente em Manguinhos, na Cidade de Deus, no Jacarezinho, nos Complexos do Alemão, da Maré e da Penha, no Borel e na Formiga. As inscrições estão abertas até 19 de setembro e os interessados podem solicitar a ficha de inscrição através do e-mail inscricaonesacmj@gmail.com ou do telefone 2334-1019.

 

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