Escola ensina arte, superação e inclusão
Imagine um ambiente propício onde todas as pessoas podem trabalhar em sintonia e em grupo, com suas diferenças e deficiências. Estamos falando da escola Arte Vida que funciona na unidade da Fundação de Apoio à Escola (Faetec), no Complexo Educacional de Quintino, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Fundada há 18 anos, a escola oferece uma variedade de cursos gratuitos para a comunidade no campo das Artes Visuais. A pedagogia inclusiva é o diferencial do projeto, que acolhe pessoas de diferentes faixas etárias e portadores de alguma deficiência.
Tendo como lema a “arte sem barreiras”, são muitas as histórias de luta e superação que trafegam sob o currículo da escola. Histórias que inspiram outras vidas e fazem do projeto muito mais do que uma unidade de qualificação profissional. Escolhemos como exemplo a trajetória do jovem Victor Pereira dos Santos, de 22 anos, morador do complexo de favelas da Maré e portador de paralisia cerebral.
Em abril deste ano, Victor deu seu primeiro passo, ao ser indicado pela professora Camilla Sampe, artista plástica que atua como professora de pintura desde 2009. Com este incentivo, ele mesmo fez questão de se inscrever na Escola Arte Vida. Mesmo com grandes empecilhos, a sua condição não impediu que seu dom artístico fosse estimulado.
Camila conta que o trabalho desempenhado na escola tem contribuído para sua própria transformação: “Trabalhar aqui me proporcionou lidar com pessoas de vários tipos. Umas com problema de depressão, outras com ansiedade, esquizofrenia… Alguns casos me assustavam por não saber como lidar. Aprendi a usar no cotidiano o que herdei de técnica. Vejo alunos fazendo o que diziam que nunca iriam conseguir”.
{youtube}QNBMWeBQeyQ{/youtube}
Talento precoce e apoio materno
Victor é um dos grandes destaques da escola por pintar belíssimos quadros com os pés. Ele pertence à Associação dos Pintores com a Boca e os Pés (APBP). Mesmo com toda a mobilização inclusiva do projeto, em sua comunidade e por onde passa, Victor sofre muito preconceito. Com muita dificuldade na fala, ele relata: “Tem pessoas que, quando me olham na rua, me ignoram. Antes eu sentia muita vergonha por isso. Às vezes as pessoas julgam pelo que elas vêem, mas aprendi um jeito de me comunicar. É através da arte que me comunico com as pessoas, essa é a melhor maneira”, afirmou, emocionado, o jovem.
Na trajetória de conquista de Victor, sua mãe sempre esteve presente. É uma mulher guerreira, mãe de seis filhos, que tem o maior cuidado no trato corporal com o filho especial enquanto ele desenha. Com orgulho, Eliete Pereira não só o acompanha em todas as aulas, mas aprova o que seu filho cria com os pés:
“Descobri que meu filho era um artista quando ainda era pequeno, entre 7 e 8 anos de idade. Naquela época, observamos sua habilidade em desenhar com os pés. Com o tempo, ele foi aprimorando seu talento em alguns cursos de arte. Mas, de fato, a entrada dele na Arte Vida foi uma grande vitória, porque o curso alia grandes profissionais e é gratuito. Eu não teria condições para pagar um curso que, na maioria das vezes, é caro”, diz ela.
Os instrutores especializados são coordenados pela professora Lucy Costa, que, aos 80 anos, ajuda nesta mobilização com a “mistura de gentes”, como ela descreve. Com sensibilidade, Lucy tenta olhar para o interior das pessoas, para transformar doenças em artes que produzam alegria.
A coordenadora conta que o projeto foi inserido no Complexo Educacional de Quintino quando a Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), que funcionava no mesmo espaço, acabou. Esta escola “diferente” acolhe diversos moradores de favelas como Victor, embora este não seja o seu foco central. Ainda assim, Lucy conta que muitos chegam até lá atraídos pelo potencial de inclusão que o ambiente proporciona.
Inclusão é um direito
Está no artigo 10, da seção II, do Estatuto da Juventude, de 2013: “É dever do Estado assegurar ao jovem com deficiência o atendimento educacional especializado gratuito, preferencialmente, na rede regular de ensino”. Após um ano da vigência do Estatuto, ainda encontramos nas favelas este direito violado.
Laís Vilarinho, uma das instrutoras da escola, reconhece o Arte Vida como garantidor de direitos para estas pessoas que tanto precisam de apoio: “Nos dispomos a fazer arte sem barreiras, recebendo pessoas com deficiência física, ou outras deficiências, e também possibilitamos a intergeracionalidade, esta opção integradora onde crianças, jovens e adultos podem estudar e desenvolver as suas habilidades juntos”.
Em média, a unidade atende 1.000 alunos por ano e oferece cerca de 10 cursos, como Cerâmica, Pintura em Tela; Artesanato em Vime; Confecção de Bolsas e Bonecos em Tecidos; Desenho Artístico; e Eco-Artesanato. Nos corredores e salas da escola estão expostos os trabalhos de alta qualidade artística feitos pelos alunos. Exemplos como este, de inclusão, servem para mostrar que o cidadão comum tem muito o que conquistar em termos de direitos humanos nesta esfera pública.
O Arte Vida funciona de segunda a sexta, das 9h às 16h.
Para se inscrever nos cursos da FAETEC, os candidatos devem encaminhar dados como o documento de identidade e comprovantes de residência e de escolaridade. Esse último varia de acordo com o curso selecionado pelo aluno.
Mais informações podem ser encontradas no site oficial, na secretaria da unidade ou pelo telefone (21) 2332-4085. A Unidade Faetec Quintino fica na Rua Clarimundo de Melo, 847, Quintino Bocaiúva, Rio de Janeiro – RJ.
Boa tarde, entro em contato em nome da Diretoria de comunicação da FAETEC para solicitar o acerto do telefone divulgado nesta matéria.
O telefone correto para informações sobre cursos e demais assuntos pertinentes é o (21) 2332-4085. O telefone informado na matéria corresponde ao setor de estágio que não responde a tais informações, dificultando assim os trâmites do mesmo.
Agradeço a atenção e aguardo a breve resolução do problema.