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Caju sofre com a falta de hospitais

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Foto: Nem Queiroz

O Caju, localizado na zona portuária do Rio, se ressente da falta de atendimento médico após o fechamento de três grandes hospitais: São Sebastião, Anchieta e Nossa Senhora do Socorro. Com mais de 20 mil habitantes, o bairro conta apenas com um hospital de traumatologia e a população reclama da falta de atendimento ambulatorial e emergencial.

Dos antigos hospitais, restam prédios centenários em ruínas, sucateados ou abandonados. No terreno do Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião (IEISS), que encerrou suas atividades no Caju em 2008, o espaço foi ocupado por famílias que, ignorando o risco de residirem em uma área onde funcionou um hospital de infectologia, criaram ali a comunidade Vila dos Sonhos. As moradias são precárias e falta quase tudo: água, esgoto e coleta de lixo.

O São Sebastião foi fundado por D. Pedro II, em 1889, e durante seus 119 anos de existência, tornou-se centro de referência para doenças infectocontagiosas, atendendo pessoas encaminhadas por todos os municípios do Estado.

Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, o serviço do Caju foi transferido em 2008 para a Praça da Cruz Vermelha, “onde continuou sendo referência no tratamento de pacientes com febre aguda, como meningoencefalite, dengue, leptospirose e Aids. Em agosto de 2012, o IEISS foi transferido para o Hospital Federal dos Servidores, no Centro. Os pacientes que faziam tratamento no endereço anterior e quiseram permanecer, passaram a ser atendidos no Servidores”, informa.

“Jogado num canto”

No entanto, a fonoaudióloga Jussara Engel Macedo, que começou a trabalhar no São Sebastião quando ele funcionava no IASERJ (Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro), na Praça Cruz Vermelha, lamenta a precariedade do serviço: “Ali, estava funcionando um pequeno núcleo que nem de longe parecia o São Sebastião da época do Caju. O hospital, com toda aquela referência, foi jogado em um canto lá no IASERJ e depois foi para o Hospital dos Servidores”.

Arquivo pessoalMoradora do Parque Boa Esperança, uma das comunidades do Caju, Rita da Silva também reclama do fechamento do São Sebastião. “Ali não havia só tratamento para doenças contagiosas. Durante um bom tempo tivemos um ambulatório de emergência que atendia a comunidade. Levei meus filhos várias vezes lá. Mas, por conta do descaso público, não temos mais esse hospital”.

Alvanira Batista Divino, outra moradora do bairro, conta que o centro de saúde oferecia vários serviços à comunidade, entre eles o de psicologia. “Agora não temos mais psicologia no bairro. E psiquiatria também não. Eu estava fazendo um tratamento psiquiátrico no Posto de Saúde Pedro Ernesto Saraiva, em São Cristóvão, mas hoje não posso mais, porque agora ele só atende pessoas de São Cristóvão, Benfica, Mangueira e Bonsucesso. Na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Mangueira não tem psiquiatria e no Posto de Saúde da Família do Caju, não tem os remédios que preciso”, diz ela, que reside na comunidade Nossa Senhora da Penha, conhecida como Manilha.

Quatro meses aguardando o especialista

O Hospital Estadual de Ortopedia Anchieta, outro a fechar as portas no Caju, foi desativado em janeiro de 2012 para reformas. A assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde informa que após investimentos de R$ 11,2 milhões pelo governo do Estado, o hospital voltou a funcionar em abril deste ano e atendeu 210 pacientes desde então. Não há atendimento de emergência. Os leitos são usados para internação de pacientes transferidos de outros hospitais.

Além de levar os filhos no São Sebastião, Rita da Silva fazia tratamento no Hospital Anchieta. “Tenho artrose na coluna e hérnia de disco. Tínhamos tratamentos de ortopedia e fisioterapia muito bons. Soube que o Anchieta vem atendendo pessoas com problemas neurológicos que precisam de internação de outro hospital. Penso que é válido, mas e a população carente do bairro, que tinha um ambulatório de ortopedia próximo e que não pode pagar passagem, como fica?”, pergunta.

Parte da área do Hospital Anchieta foi cedida pelo Estado para a Prefeitura, que instalou ali um Centro Municipal de Saúde (CMS), onde funciona o Posto de Saúde da Família (PSF) Fernando Antônio Braga Lopes. O posto oferece atendimento ambulatorial, com poucas especialidades médicas, e os moradores reclamam da demora na marcação de consultas.

Foto: Ricardo Costa“Leva-se muito tempo, cerca de quatro horas, desde o momento em que chegamos no posto até sermos atendidas pela clínica geral, que faz o encaminhamento para exames e marcação de consultas com especialistas. Essas consultas só são marcadas para dali a três ou quatro meses. Minha neta teve que esperar três meses pra ser atendida. ela está grávida de seis meses e tem gravidez de risco”, reclama dona Alvanira.

Ao ser questionada se o hospital voltaria a ter atendimento ambulatorial, a Secretaria de Saúde informou que “pelo desenho do Sistema Único de Saúde (SUS), a responsabilidade por oferecer atendimento ambulatorial é dos municípios”.

Asilo do Socorrinho sobrevive de doações

O terceiro hospital que parou de funcionar no Caju foi o Nossa Senhora do Socorro, conhecido como Socorrinho. Ligado à Santa Casa de Misericórdia, o Socorrinho tinha convênio com o Sistema Único de Saúde para oferecer serviços especializados em geriatria e gerontologia, além de clínica médica, odontologia, oftalmologia e otorrinolaringologia. Havia atendimento ambulatorial e internação, além de alguns exames e tratamentos.

No local do hospital, agora existe um asilo que abriga 28 idosos. O local enfrenta dificuldades e funciona de maneira bastante precária. Segundo os funcionários, que não querem se identificar, há atrasos no pagamento dos salários e os internos sobrevivem de suas aposentadorias e de doações de particulares. O Socorrinho era mantido pela Santa Casa, mas o asilo ficou sem mantenedor.

O governo do Estado, a Prefeitura e a Santa Casa estão negociando uma solução para resolver o problema do asilo, mas o hospital não deve reabrir.

INTO não atende às necessidades

Nem mesmo a recente inauguração do INTO (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia) trouxe um alento para os moradores do bairro. Se muitos deles podiam ir a pé para os antigos hospitais da região, agora chegam a levar mais de uma hora de ônibus para chegar ao INTO, por causa do trânsito caótico da Avenida Brasil nos horários de pico. Além disso, os moradores relatam dificuldades para obter os encaminhamentos:

“Para sermos atendidos no INTO, temos que pedir encaminhamento no Posto de Saúde da Família do Caju, mas eles não encaminham. Eu estava com suspeita de osteoporose, tinha que ir em um especialista e no INTO tem, mas quando eu fui ao posto de saúde fazer a consulta para pegar o encaminhamento, não me deram. Tive que pagar uma consulta particular”, conta Anselma Verçosa, 72 anos.

Quem precisa de atendimento especializado, como dona Alvanira, acaba tendo que se deslocar para fora do bairro: “Eu preciso de Diazepan e antidepressivos e aqui no posto do Caju não tem psiquiatria e nem esses remédios. Também faltam funcionários; os médicos e os poucos funcionários não dão conta de tanta gente que vai lá todos os dias. Acabamos tendo que ir para a UPA da Maré”, diz ela.

O asilo Socorrinho necessita de doações como alimentos, roupas pessoais e roupas de cama, remédios, material de limpeza, etc. As doações podem ser feitas na Rua Monsenhor Manoel Gomes, 503 (de 10h às 17h) e o telefone de contato é 2580-4329.

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