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Craques no futebol, mas pernas de pau em educação

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Bom seria se aquele belo exemplo mostrado pelos torcedores japoneses nos estádios da copa recolhendo o lixo do local onde estiveram torcendo para o seu time fosse um vírus que contagiasse a todos; brasileiros e estrangeiros. Deu gosto de ver jovens e adultos saírem de suas cadeiras portando sacos plásticos onde colocavam o que viam espalhado pelo chão.

Nem bem deu 23 horas do dia 23, horas depois do final do jogo entre Brasil x Camarões para que algumas ruas da badalada Vila Madalena ficasse abarrotada de foliões. Muitos brasileiros e gringos das várias nacionalidades se embebedavam, se drogavam servidos que eram pelos traficantes de cocaína e lança-perfume sempre ao alcance dos interessados. Se ficassem bêbados e não dirigissem nem fizessem algazarras problema deles. Se chapassem o globo e não dessem uma de nóias pelo pedaço, de novo, problema deles.

O drama é que eles levaram os ‘seus’ problemas para os outros; vizinhos que não tinham nada a ver com aquilo e que, durante horas, foram privados dos seus sossegos por causa de garrafas quebradas no chão, som alto de funk, sertanejo e outras pérolas que animavam toda aquela nação universal de sem noções. Um dos vizinhos prejudicado é Osvaldo Santos, morador da Vila Madalena que sofre com os festejos desmedidos no bairro. Com sua bengala, ele luta contra mijões.

Com menos de 20 metros de residências, um posto de gasolina serviu como ponto de venda de drogas. Apesar das diversas denúncias à polícia, os moradores eram questionados a informar a identificação dos eventuais traficantes. “Isso é um absurdo, como eu vou saber o nome e os documentos de quem está vendendo drogas”, reclamou um senhor que não quis se identificar. Na ocasião uma reportagem confirmou ter visto a policia militar revistando um rapaz que ficou sob custódia.

Muito diferente do exemplo dado pelos japoneses que, segundo me informei em conversas com gente que conhece bem aquela cultura, o ato de limpar os locais por onde passam mesmo em comemorações é coisa que se aprende e se pratica desde cedo na educação que recebem em casa. Dizem ser muito comum o fato de que, até nos velórios das pessoas no Japão, em recinto público, esses locais serem completamente limpos pelos familiares e convidados após a cerimônia. Ninguém precisa ordenar ou pedir; eles simplesmente o fazem em profundo respeito ao próximo e a convivência em sociedade.

Voltando a Vila Madalena houve casos de moradores que até se retiraram de suas casas e estão hospedadas em casa de parentes até que se conclua essa grande festa nacional com tanta zoeira dia e noite.

Vila Madalena é Pinheiros, enquanto São Mateus é periferia onde está a maioria do povo pobre ou remediado. Nessas periferias a pegada é outra. As pessoas não tem para onde correr e são obrigados a conviver com ‘festa’ de gente sem noção. Isso é corriqueiro, é o dia a dia.

Aqui na nossa área o costume japonês passa longe. O funk, o arrocha e os sertanejos não escolhem hora, nem local, nem ocasião para acontecer. Basta, na maior parte das vezes ter um carro ponto zero com som possante e zero de educação. Pronto. Está armada a festa para desespero de quem embora não sendo japonês do Japão sabe que é preciso respeitar o direito do ouvido alheio a não ouvir tanta lambança.

O mais comum dos dias e nesse período da copa, tanto faz o Brasil ganhar, empatar ou perder o jogo. Basta completar os 90 minutos de partida para a televisão ser deixada de lado e o som potente de músicas toscas virarem o objeto de adoração, desejo, muitas tentativas de conversas na base dos gritos e pouco assunto. A regra é curtir. Como só assim, dessa forma deseducada, isso fosse possível.

Belo exemplo dos japoneses que poderia se tornar um vírus, repito. Infelizmente estamos longe disso.

Aqui e acolá, mas diferente da Vila Madalena que, por enquanto, a farra só chegou mais intensa nesse período, temos que conviver até mesmo com a compreensão equivocada de trabalhadores que muitas vezes abrem o porta mala de seus carros, colocam o som no último volume e entre goles de cerveja barata costumam argumentar mais ou menos dessa forma. “Aqui é tudo trabaiadô, tamu tomando uns gorós e escutando uma musiquinha”. Como é isso de musiquinha se o seu som entra até o mais profundo cômodo da distante casa do vizinho?

 

Pode até ser campeão na Copa, mas em educação ainda somos perna de pau. (JMN)

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