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Turistas mudam rotina no Cabritos

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Fotos: Junior Almeida

Não só Copacabana, Ipanema ou o Terreirão do Samba se viram invadidos por estrangeiros durante a Copa do Mundo, que terminou no domingo, 13 de julho. No Morro dos Cabritos, em Copacabana, virou rotina para os moradores cruzar com estrangeiros – que passaram por ali a visita ou hospedados. Para estes, subir a favela significou ter uma vivência diferenciada e, ao mesmo tempo, economizar. Já para os moradores, a nova presença trouxe a oportunidade de conhecer culturas diferentes e também de ganhar algum dinheiro.

No mercadinho São Benedito, por exemplo, passaram argentinos, chilenos e uruguaios, principalmente. As vendas, apesar de terem aumentado, não cumpriram as expectativas. “Os argentinos e os chilenos são os mais pechincheiros, eles controlam o dinheiro ao máximo. Compram 100g de queijo, 100g de presunto, alguns pães e cachaça. Esse último item não pode faltar”, conta a atendente Maria do Socorro. Apesar da decepção no faturamento, ela diz que o contato com os estrangeiros tem sido muito enriquecedor e divertido.

Para a caixa do mercadinho Deusa Maria Rodrigues, a experiência também tem sido válida. “A comunicação é na base do improviso, na gesticulação. É só apontar que eu entendo, tudo na base do improviso, da criatividade e do bom humor”, conta Deusa, que só fala português.

O ambulante Ermírio Cid Soriano também se decepcionou com o faturamento durante a Copa e atribui o fato à economia feita pelos turistas. “Os turistas estão pechinchando bastante, quase não gastam. Outro dia na avenida Nossa Senhora de Copacabana até paguei um salgado e um suco pra um argentino faminto, fiquei sensibilizado com a situação”, afirma o ambulante, que investiu R$1000 na compra de artigos diversos para revenda.

O argentino Cristian Ortiz, de 28 anos, está dividindo o aluguel de um prédio de três andares na comunidade com mais quinze “hermanos”. Ele admite que a escolha da favela como estadia teve, inicialmente, o baixo custo como motivo principal. Mas, hoje, está encantado com o lugar. “Muitas vezes tenho a sensação de estar no paraíso. Aqui é perto da natureza, da praia, as pessoas são muito receptivas”, afirma, lembrando de Dona Maria da lavanderia e Dona Márcia da lanchonete como pessoas de “bom coração”. “A favela é um lugar com dificuldades como qualquer outro lugar, mas se diferencia pela união e receptividade do povo. Isso eu nunca vou esquecer”, diz Cristian.

A casa de Valney Pinto passou por uma boa transformação para receber turistas que, a preços entre R$30 e R$60 a diária (dependendo do período da estadia), alugaram seus quartos. O investimentou incluiu a compra de camas beliches e a instalação de internet, ar condicionado, TV a cabo e churrasqueira. “Esse público geralmente não exige tanto luxo, mas não deixa de ser um bom atrativo para a economia da favela. O espaço tem que ser prático e possibilitar o máximo de conforto dentro das possibilidades”, conta Valney, que comemora o faturamento e já faz planos para as Olimpíadas de 2016.

Para o guia turístico Gilmar Lopes, a chegada de estrangeiros para a Copa também promoveu aumento no faturamento das suas saídas – que levam os turistas ao alto do Cabritos e a becos e vielas da comunidade. “Estou bastante satisfeito com o número crescente de estrangeiros e brasileiros que optam por este tipo de turismo. Eles contam com a hospitalidade dos moradores e comerciantes, que também aproveitam para faturar mais”, conta Gilmar, que com mais três monitores faz passeios que incluem almoço em restaurantes da comunidade.

O argentino Frawk Ricatard, hospedado há dias no Cabritos, não tem de que reclamar. “Nesta troca cultural, podemos aprender uns com os outros. Está sendo uma grande experiência”, afirma, lembrando das grandes amizades que tem feito no Brasil.

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