Dona Marisa: a mãe de Vila Kennedy
Há um famoso ditado que diz que em coração de mãe sempre cabe mais um. A dona de casa, Marisa Cavalcante, 60 anos, leva essa filosofia ao pé da letra. Mãe de cinco filhos já adultos, ela sempre fez questão de ajudar o próximo. Moradora da Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio, sua residência se tornou uma espécie de casa de assistência social. A todo o momento alguém bate sua porta pedindo ajuda. O telefone não para de tocar nem mesmo no momento de nossa entrevista. Os vizinhos a chamam de anjo da guarda pelo trabalho voluntário prestado aos mais necessitados. Em sua casa já passaram tuberculosos, idosos abandonadospelos filhos e usuários de drogas.
Ainda jovem, quando trabalhava como camareira no Hotel Guanabara, às margens da Avenida Presidente Vargas, no Centro, Marisa se sensibilizava ao se deparar com mendigos passando fome e frio na rua. Separava um trocado de seu salário, que não era muito, para comprar quentinhas e fazia campanha para conseguir agasalhos para distribuir para aquelas pessoas. A filha caçula, Carolina Andrade, 23 anos, acompanha a jornada de sua mãe desde criança e fica admirada ao ver a fibra que tem para ajudar as pessoas. “Minha mãe é uma assistente social sem diploma. Ela não mede esforços quando o assunto é ajudar o próximo”, conta.
A casa de Dona Marisa é ampla, possui três andares, a cor amarela é predominante, com vasos de planta para todos os lados. Com ela, moram o marido, dois irmãos e um filho adotivo. Na frente da casa, instalou a Igreja Pentecostal Filadélfia, onde é pastora. Durante a semana, o espaço serve como sala de aula para o curso de cuidador de idosos que oferece gratuitamente em parceria à ONG Mãos Amigas, do bairro de Santíssimo. Marisa recorre aos ensinamentos da Bíblia para explicar o motivo pelo qual ajuda tanta gente. “Quando fazemos o bem, sem olhar a quem, Deus intercede por nós. Meus filhos já estão criados e esbanjam saúde. Agradeço a prosperidade de minha família todos os dias”, comemora.
Para Marisa, coincidências não existem. Seu destino sempre foi ajudar o próximo. Prova disso foio parto que fez em frente a sua casa. “Passava das 4 da manhã quando ouvi um grito estridente de socorro na frente de casa. Quando abri o portão, vi uma mulher em trabalho de parto. A rua estava deserta. Só tinha eu ali para ajudar. Pedi minha filha para pegar um lençol para forrar o chão e acabei fazendo o parto do bebê. Depois corri até a casa de um vizinho taxista e pedi para levá-la ao hospital. No dia seguinte, comecei uma campanha para comprar o enxoval da criança. Hoje ela está cheia de saúde”, lembra.
Maria Tereza, amiga e braço direito da dona de casa, já perdeu a conta de quantas pessoas as duas ajudaram. “Quase todo dia alguém procura a casa da Marisa em busca de ajuda. Estamos dispostas a acudir, porque sabemos que há muita gente mau caráter no mundo. Já encaminhamos à Justiça o caso de um filho que roubava a pensão do pai. A cada dia aparece um caso novo para resolvermos”, conta a cuidadora de idosos.
Jéssica Gonçalvez, de 27 anos, também é toda elogios para Marisa. Moradora de Irajá, ela e a família contrataram Marisa para cuidar de sua avó, hoje falecida. “A Marisa foi indicada por uma pessoa de confiança por ser muito paciente e prestativa. Ela é uma mãezona, além de cuidar da minha avó, que tinha Alzheimer, ela cuidou de toda a família”, lembra.
Às sextas, a varanda da casa amarela fica repleta de frutas e verduras. Marisa, junto com o esposo, organiza um mutirão para entregar alimentos que consegue através de doações conseguidas na CEASA. Além disso, faz passeios com adolescentes ao cinema e organiza cineclubes para as crianças nos fins de semana. Entre um voluntariado e outro, ainda encontra tempo para paparicar a neta Manuela,de pouco mais de um ano, que considera o tesouro de sua vida.