Dawson: Rio Bonito em história e arte
Artista plástico, restaurador, pesquisador, músico e dono de uma simpatia inigualável, Dawson Nascimento da Silva, de 50 anos, pode ser visto com um guardião da história de Rio Bonito. Sozinho, aprendeu a restaurar igrejas e monumentos e, há 25 anos, se lançou em uma nova empreitada: a busca pelo passado da região. Tudo começou com uma coleta despretensiosa de fotos e anotações. Hoje, ele tem cerca de 20 mil páginas de documentos antigos digitalizados, uma cronologia de pelo menos oito gerações da cidade e a organização do livro “Povoadores de Rio Bonito”.
"A curiosidade não me deixava parar. Encontrei documentos de 1574 dos jesuítas, e também uma carta de Dom Pedro autorizando a construção da Capela do Santíssimo, que eu ajudei a restaurar. Foi incrível", lembrou. Em suas andanças, entrevistou mais de 50 famílias, buscou documentos em cartórios e igrejas, como a Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito – onde descobriu testamentos do século XVIII.
A história, além de ser fonte para suas pesquisas, também está presente em outra de suas facetas: a de artista plástico. Suas obras na maioria retratam monumentos históricos, entalhados em madeira e posteriormente pintados. É possível encontrar sua obra em casarões, fazendas, restaurantes e museus, como a Casa de Cultura Helio Nogueira, em Rio Bonito. Ele também já expôs sua obra em outras cidades, como Mariana, em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, e Itaboraí.
Cria de uma família de artistas, Dawson Nascimento sempre gostou de desenhar, mas começou a exercitar sua criatividade aos 9 anos, quando iniciou seus trabalhos com argila. Com 17, passou a produzir entalhes em madeira. Dawson conta, no entanto, que foi com 20 anos que sentiu sua vocação artística despertar, ao visitar a cidade de Mariana – que preserva uma arquitetura colonial do século XVIII. "Quando entrei em contato com aquela arquitetura, percebi o que deveria fazer. Comecei a frequentar ateliês de artistas mineiros e participei de alguns festivais em Ouro Preto. Posso dizer que tudo o que sei, aprendi olhando”, conta.
O mergulho na arquitetura e história colonial o levou também a se tornar um restaurador – atividade exercida em mais de 15 monumentos diferentes. Em 1986, Dawson fez parte da equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que recuperou a Capela de Sant'Ana, em Rio Bonito. "Este é um exemplar incrível de arte barroca e da arquitetura colonial, que infelizmente poucos conhecem”, lamenta. A falta de contato da população da região com sua própria história desagrada o artista. "Eu gostaria muito que a população do meu território conhecesse as belezas que possui. Sou apaixonado por Rio Bonito e quero acrescentar conhecimento à vida das pessoas”, diz.
Se entre a população de Rio Bonito arte e história não geram o interesse desejado por Dawson, o mesmo não acontece entre colecionadores de arte. “Hoje recebo várias encomendas, tenho clientes que nunca imaginei ter, como autoridades e colecionadores do Rio e de Niterói", afirma. Em Búzios, descobriu, há 20 anos, um novo filão no mercado da arte. “A cidade tem um mercado diferenciado, assim como o perfil artístico. Ali é valorizada a junção do rústico ao moderno. Tive que pesquisar e aos poucos aprimorar minha técnica”, conta.
A vocação artística de Dawson não pára por aí. Ele também canta, compõe e toca violão. Com dois CDs gravados (“Gratidão” e “Flor de Laranjeira”), ele comemora que seus filhos estejam seguindo seus passos na música. Juliana Silva, de 24 anos, é cantora, e Danilo Silva, de 21, baterista. "Minha família sempre esteve ligada a música, meu pai era lanterneiro, fazia uns batuques e era compositor. Hoje vejo a Juliana e o Danilo seguindo a carreira musical e isso é muito bacana", contou Dawson, casado com Zelina Oliveira Silva.
Perguntado sobre como o trabalho mudou sua vida pessoal, Dawson destaca o respeito que adquiriu pela cidade. "Agora consigo identificar o motivo para o comportamento de algumas famílias. Nossa cidade sofreu uma miscigenação muito grande e isso se reflete no perfil de seu povo. Com as pesquisas, passei a perceber que dentro de cada história existem muitas outras”, finalizou.