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PAC 2 é visto com desconfiança na Rocinha

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Foto: William de Oliveira

As promessas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 na Rocinha, cujo projeto executivo ainda está sendo desenvolvido, são vistas com desconfiança pelos moradores dali. A suspeita tem raízes nas obras inacabadas do PAC 1 na comunidade, que incluem uma creche, um plano inclinado, a urbanização do Largo dos Boiadeiros e a construção de um mercado popular. Estas obras, que deveriam ter sido finalizadas inicialmente em 2010, foram incluídas então em uma nova licitação para execução de “obras de complementação” do PAC 1, com orçamento de R$22,5 milhões e previsão de entrega para 2014. A primeira fase do PAC 1, iniciada em 2008, custou R$272 milhões aos governos estadual e federal. 
Enquanto isso, os problemas de urbanização na comunidade continuam custando a paciência da população. “Outro dia mesmo, no Largo dos Boiadeiros, tinha um bueiro que se transformou em um chafariz de água de esgoto. Se a revitalização tivesse sido feita, não teríamos visto isso lá. O comércio também está totalmente desorganizado. A organização do mercado popular resolveria boa parte desse problema”, diz José Ricardo Duarte, presidente da associação dos moradores do Laboriaux e Vila Cruzado.
Foto: William de OliveiraA Rua do Valão é outra parte da Rocinha que aguarda pelas obras prometidas. Quem passa por ali se depara com lixo e esgoto a céu aberto. Inicialmente, ela seria urbanizada pelo PAC 1. Depois, passou para as obras de complementação deste programa. Mas, segundo nota da Empresa Municipal de Obras e Serviços, isso só acontecerá no PAC 2, já que a inclusão de obras de saneamento, “principal reivindicação da comunidade”, tornou o projeto “bem mais complexo”. “Eu vejo o PAC 2 como reflexo do PAC 1. Muito dinheiro jogado fora e nada de concreto feito para comunidade. Dá indignação ver o dinheiro público sendo jogado fora”, afirmou o comerciante Alexandre de Freitas, que trabalha ali.
Na mesma rua, estava prevista a construção de um mercado popular. Mais um plano do PAC 1 incluído nas obras de complementação e sem sinais de finalização – o local está inclusive sendo usado como estacionamento irregular. O terreno pertencia à Igreja Batista Memorial na Rocinha, que fez a seguinte negociação com a Emop: uma metade do terreno seria desapropriada, acarretando no pagamento de indenização; na outra, permaneceria a igreja, cujo prédio seria reconstruído pelo PAC.

Foto: William de Oliveira

A indenização demorou mais de dois anos para sair e o mercado ainda não foi construído. “Saímos em 2010 e no mesmo ano eles abandonaram a obra. Estamos até hoje em local provisório, pois somente em outubro de 2013 eles nos deram satisfação e pagaram uma indenização”, contou o pastor Geraldo Ribeiro, lembrando que a quantia recebida não é suficiente para construir um prédio de três andares. Na vida pessoal, o acontecimento gerou inconvenientes incalculáveis para Ribeiro. Segundo ele, seu casamento acabou por do estresse gerado e ele foi acusado, injustamente, de se beneficiar financeiramente da transação.
Além do mercado popular, a creche que também fazia parte da primeira parte do programa ainda não foi inaugurada. Segundo Ruth Jurberg, coordenadora social do PAC, a obra já foi finalizada, mas ainda não foi mobiliada pela prefeitura. A assessoria de imprensa da Emop atribuiu todos atrasos no PAC 1 a uma complexidade não calculada no projeto inicial.
PAC também traz medo das remoções
Foto: Deborah AthilaQuestionado sobre o que espera do PAC 2, um comerciante que não quis se identificar se mostrou temeroso quanto às mudanças que as obras vão gerar. “Com a construção do Teleférico, vão tirar essas três ruas daqui, com mais ou menos 1000 empregados, com 300 ou 400 comerciantes e mais de 5.000 moradores. Eu vou perder minha casa e meu trabalho”, disse. Ele, como toda a população da Rocinha, não têm muitas informações concretas sobre o PAC 2, além de algumas declarações de políticos e de um vídeo postado na conta da Secretaria Estadual de Obras no Youtube.
Sobre a possibilidade de remoções, a Assessoria de Imprensa da Emop afirmou: “A proposta do PAC 2 na Rocinha não tem como premissa a remoção de moradores. O Governo do Estado trabalha com base no Reassentamento Voluntário que prevê o atendimento individualizado para cada família que será afetada pela obra, de forma individualizada. O projeto executivo das obras do PAC 2 na Rocinha está sendo finalizado e somente com a finalização desta etapa teremos o número correto de moradias que precisarão ser realocadas”.
Moradores avaliam legado do PAC 1
Foto: Deborah AthilaApesar das obras não realizadas, o PAC 1 cumpriu algumas promessas: o alargamento e a reforma da Rua 4, a urbanização de algumas regiões e a construção do Complexo Esportivo da Rocinha, de 144 moradias, e de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h. Francisca Rodrigues da Silva, moradora da Rua 4, tem boas impressões do programa. “Eu gostei, porque quando a gente morava aqui era um beco apertadinho, não dava para ver a rua e nem ver o sol entrar. Hoje em dia é melhor de andar por essa rua, tem áreas de lazer como a praça, e até o vento corre mais”, diz, referindo-se à viela que antes tinha 60 cm e hoje chega a 14 m de largura.
Marat Troina, coordenador do PAC Social da Rocinha e vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), se diz orgulhoso de ter participado do PAC 1. “A Rua 4 é o maior exemplo de uma obra que ajudou bastante os moradores. O Centro Cultural  C4  está lindo e funciona muito bem, assim como o Complexo Esportivo. Para o futuro, o plano é continuar melhorando a vida na Rocinha”, afirmou.
Flávio Mendes, mais conhecido como “Pé”, produtor cultural e morador da Rocinha, lembra da importância do diálogo entre governos e comunidade. “Houve um processo interessante de interação com a comunidade, com uma construção coletiva. Não foi perfeito, mas eu analiso o processo como de ganho no que se refere a uma construção conjunta. Agora, o PAC 2 está sendo um retrocesso. No PAC 2, tem que haver muito mais transparência, mais contato com os moradores da comunidade”, afirmou.

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