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Crítica: desfile “Favela”

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Os correspondentes Guilherme Junior e Rosilene Miliotti assistiram a todo o desfile do Grêmio Recreativo Escola de Samba (GRES) São Clemente, que aconteceu no último domingo e teve como tema “Favela”. Confira a opinião deles sobre a apresentação!

 

São Clemente faz bela homenagem às favelas

Por Guilherme Junior

“Pobre… Mas rico de emoção/ Livre… Mas preso na paixão/ Favela… Te emoldurei em aquarela/ Linda nesta Passarela”. Foi com frases de exaltação que a São Clemente escolheu representar a favela, em um desfile cheio de humor e homenagem às comunidades. Certamente os moradores das inúmeras comunidades do Brasil se reconheceram num desfile de encanto e felicidade.

As alegorias e alas contaram a história do surgimento das comunidades desde o Morro da Providencia, considerada a primeira favela da cidade do Rio, até as mais recentes comunidades pacificadas. Não faltaram homenagens às escolas de samba que surgiram nesse contexto como Mangueira, Rocinha e Salgueiro. A agremiação também não deixou de homenagear o chão onde nasceu, o Santa Marta, em Botafogo.

Ainda houve espaço para o baile funk, rap e hip hop. ONGs como Afroreggae, Nós do morro e CUFA foram citadas como exemplos de organizações que contribuem para a diminuição da desigualdade na cidade levado saúde, esporte e educação à população.

A escola não fez tantas críticas ao sistema que torna a vida na favela mais caótica. Pelo contrário, ela preferiu mostrar o lado humano daquele que é um dos lugares mais férteis em termo de cultura brasileira. Pode ter sido uma opção para variar o discurso sobre as favelas, quase sempre relacionado às mazelas sociais.

O objetivo do enredo foi conquistado com graça e sutileza. Os barracos e casas de alvenaria nunca foram tão bem representados na avenida. A cultura do samba veio representada pelos malandros e as cabrochas, em uma bela homenagem. O resultado do trabalho dos carnavalescos Bruno Martins, Muqueca e Thiago Martins foi um desfile bem humorado que passou com leveza pela avenida.

 

São Clemente leva favela-produto para a Avenida

Por Rosilene Miliotti

Não é novidade que a favela desça o morro, em dias de carnaval, para desfilar na avenida. Mas é a primeira vez que ela é tema de uma escola de samba. A São Clemente, uma agremiação conhecida por parecer uma família assim como as comunidades, onde todos se conhecem, optou por retratá-las à semelhança de como fazem as novelas e os comerciais publicitários.

As fantasias, por exemplo, faziam referência ao Morro da Babilônia, Rocinha, Complexo do Alemão, Santa Marta, Mangueira e Providência – favelas mais midiatizadas, turísticas ou próximas das áreas nobres da cidade. Favelas de Cairo, Buenos Aires e Indonésia também foram retratadas. Foi uma pena, no entanto, que não tenham sido mostradas as singularidades de algumas favelas, já que elas têm muitas diferenças entre si.

Seguindo a tendência de mostrar o lado mais “vendável” das comunidades, estereótipos foram reforçados. A favela apareceu colorida, cheia de periguetes, lavadeiras, mães jovens, mototaxistas e vendedores ambulantes (e, segundo comentaristas da Globo, cheia de moradores que têm o hábito de pichar). Esta representação da favela, no entanto, gera um retrato distorcido: ela aparece como lugar do samba, do funk, do churrasquinho na laje e da feijoada, quando é muito mais que isso. Na favela também tem rock e música clássica, por exemplo. Outra amostra desta distorção foi a porta-bandeira ter aparecido com cabelo black power, por mais que este estilo raramente seja visto nas comunidades.

Uma decisão questionável da escola foi a de retratar a favela, na quase totalidade, em seu sentido positivo – o que já foi abertamente declarado por seus carnavalescos. Isto é compreensível pois sabe-se que o lado ruim da favela está diariamente na imprensa, mas ao mesmo tempo, perde-se a oportunidade de mostrar ao mundo uma realidade. Fica parecendo que tudo é lindo, mas não é bem assim. A Guerra de Canudos, cujos combatentes formaram no Rio as primeiras favelas, foi apresentada – mas onde estava, no desfile, a guerra diária que os moradores enfrentam? Esta denúncia se resumiu à letra do samba, que pedia justiça para viver.

Com o tema “Favela”, esperava-se mais riqueza de conteúdo do que o que foi apresentado no domingo. Talvez por uma falta de identificação do público com o desfile, a São Clemente não conseguiu surpreender e levantar a Avenida.

 

 

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