Single Blog Title

This is a single blog caption

A Maré contada pelos primeiros moradores

Share on Facebook0Tweet about this on Twitter
Fotos: Elisângela LeiteImagine um lugar alagadiço, às margens da Avenida Brasil, onde os moradores, na maioria migrantes, viviam sem água e luz. Esta era a realidade das primeiras comunidades do Complexo da Maré, como mostra o livro “Memória e identidade dos moradores do Morro do Timbau e do Parque Proletário da Maré”, lançado no último dia 20. A obra é a segunda da série “Tecendo Redes de Memórias e Histórias da Maré”, produzida pela instituição Redes da Maré. A iniciativa pretende contar a trajetória das 16 comunidades do Complexo a partir de uma mesma metodologia, que envolve pesquisa e entrevistas com moradores antigos das comunidades.
Por ser uma área seca, o Morro do Timbau foi o primeiro a atrair os trabalhadores, especialmente nos anos 1940, com a abertura da Avenida Brasil (na época, conhecida com “Variante Rio-Petrópolis”). A ocupação do Parque Maré teve início no final da mesma década, com casas sob palafitas. Uma de suas primeiras moradoras foi Célia Vanda Alves Marinho, que vive na Rua Bela desde então.  “Minha mãe veio da Bahia em 1952. Nós compramos o barraco à prestação e desde pequena trabalhei pra ajudar a pagar nosso teto. Hoje nós temos a nossa casa”, conta.
Para dona Vanda, os moradores da Maré são ricos por ter água, já que no passado ela mesma atravessava a Brasil carregando lata de água na cabeça. Vanda percebe mais mudanças na nova geração. “O que eu não alcancei, hoje o mais jovens estão alcançando. Eu não posso falar mal da favela porque o lugar quem faz é a gente”, acrescenta.
Maria Luiza de Souza da Silva, que chegou a comunidade com 25 anos, também se surpreende com as mudanças na Maré. “Aqui não existia casa e hoje é uma cidade”, aponta. Ela conta que andava dentro d’água no meio dos caranguejos e que comia restos de lixo que os caminhões dos supermercados deixavam perto da comunidade. Para ela, nada disso impediu sua felicidade. “Quando a Maré enchia faltava dois palmos para entrar água dentro do barraco e hoje, aos 79 anos, estou aqui para contar um pedacinho dessa história”, lembra.
A história da cidade contada pela cozinha 

“As estrelas deste livro são os moradores”, afirma Edson Diniz, coordenador geral do Núcleo de Memória e Identidade da Maré (Numim) e um dos autores do livro. Para Paulo Knauss, professor de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro (IHGB) e diretor geral do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, o livro traz uma nova perspectiva histórica. “Podemos contar a história não apenas pela sala de visita do prefeito, mas pela cozinha, pela copa… Este é um jeito diferente de olhar pra cidade. Esse livro não serve apenas para a gente conhecer um pouco mais sobre a história, mas também para homenagear os que contribuíram com seus depoimentos”, diz.

Knauss lembra também que a imprensa contribui para o fortalecimento de uma das versões sobre a favela: a do crime. “A favela tem muito mais histórias bacanas e gostosas de ler para além da violência. Este trabalho merece ser um exemplo para todos os bairros da cidade. Todos os bairros deveriam ter a chance de ter suas histórias contadas a partir dos seus moradores”, festeja.

1 Resposta

  1. isabel

    Eu nasci me criei no timbau de frente com a ilha dos macacos ; lembro que atravessavamos um caminho de chao para tomar banho na praia quando a mare baixa alguns adultos atravessavam a ilha nadando, meu pai era pescador, de frente essa ilha ficavam as canoas amarradas, lembro da tal bica e de adultos com latas d agua na cabeca . Enquanto meu pai com outros parentes remendavam rede eu e outras criancas nadavamos na beirada do mar. Fui varias vezes na ilha dos macacos e confesso… eu tinha um pouco de medo daqjele lugar . A maior tristeza foi quando comecaram aterrar aqueles lugares. Tinhamos uma praia uma ilha tudo o homem destruiu.
    Ate hoje a casa da minha familia esta la mas o lugar se tornou muito perigoso com a vinda dos barracos palafitas cresceu tudo muito rapida as favelas que quando crianca nao existia.

Deixe uma resposta

Parceiros