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MULHER, MULHER, MULHER

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Minha primeira morada foi teu ventre, recebi de ti o primeiro beijo e o primeiro peito, alimento do corpo frágil que acabara de chegar neste planeta Terra.


Minha primeira morada foi teu ventre, recebi de ti o primeiro beijo e o primeiro peito, alimento do corpo frágil que acabara de chegar neste planeta Terra. Por tuas mãos fui acalentado, ouvi as primeiras canções e ensaiei os primeiros passos para aprender a desbravar o mundo e pronunciei mãe, primeira palavra de tantas que ainda sigo aprendendo. Já não lembro com quem aprendi as primeiras letras, a escrever  o nome, se me chamava pelo diminutivo, carinhosa ou bruxa ameaçadora, óculos grossos e castigos cruéis, como escrever 200 vezes “não devo deixar de fazer…” ou ficar de frente para a parede. Mas você também me deixou de quatro, menino apaixonado por ti, paixão inalcançável, durante tuas aulas, vendo tuas mãos brancas de giz e eu louco, suplicante, querendo limpá-las com meus lábios trêmulos, absorto e tua voz tão longe, presta atenção menino, que humilhante era ser chamado menino, onde já se viu, eu homem feito, já me achando escudeiro e guerreiro pronto para defender minha princesa professora. Veio a fase dos hormônos em ebulição e de novo aparece você, saias azuis e blusas brancas, curtinhas, visão de seios e coxas, amores platônicos, desesperadores, de tirar o sono pensando no primeiro beijo, no primeiro abraço, em desejar desesperadamente ficar preso para sempre na luz dos olhas das anas, helenas, suelis , tal como mariposa atraída pelo brilho dos candeeiros. E a vida seguindo e você sempre perto, me ensinando a beijar, enroscar línguas, misturar pernas , conter o grito, abafar a ânsia prá não acordar o mundo. Casamento, outros casamentos, é bom morar com você, é sol dentro de casa,é perfume nos lençóis, cheiro bom de café, é sair do banheiro molhada e maliciosamente deixar cair a toalha no meio da sala, aí a tecla off da TV é acionada, justamente na hora em que meu time investia num ataque perigoso e você abre seus flancos, seu meio de área, permitindo que eu faça as jogadas mais criativas, estudadas e diabólicas, você é minha técnica, tenho liberdade para evoluir por todo o campo sagrado do teu corpo. Agora, você é uma criança doce, linda, filha rainha, meu fruto, preciso cuidar de ti e você será a luz dos olhos meus numa cumplicidade, afinidade e volto a ser aprendiz, agora dos novos tempos. Essa mulher catadora de lixo, moradora de rua, da vida, doméstica, determinada , marrenta, conciliadora, barraqueira. Aquela que estuda, chefia, luta para romper preconceitos seculares, tira a blusa, mostra o peito, companheira e que sempre tem razão, Incansáveis na discussão das  relações, memórias privilegiadas. Outras, mães de Amarildos, mães de filhos pendurados no pau de arara, desaparecidos, apodrecendo nos presídios, no inferno das drogas, que vão prá rua gritando palavras de ordem na briga por uma sociedade melhor. São elas todas que me transformam e ajudam-me a derrubar vestígios do muro do machismo, que por acaso ainda persistam em manter-se de pé dentro de mim, foram elas, avós, mães, professoras, namoradas, esposas, filhas, netas e amigas que foram demolindo o orgulho de macho e construindo meu lado feminino. Eu preciso de você mulher.

Nunca esqueçam de deixar cair a toalha, distraidamente.

 

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